Paulo 26/04/2020
Vários autores já se debruçaram sobre o personagem de Sherlock Holmes. De todas as formas e jeitos possíveis. Em todos os tipos de cenários. Cordenonsi já se provou propenso a brincar com histórias do século XIX e dar sua própria leitura delas. Aqui ele tenta trazer o grande detetive para um público mais jovem em uma aventura digna de um livro de Pedro Bandeira. Esse é aquele livro para você se divertir, vibrar pelas aventuras e deixar sua mente descansar. Cordenonsi faz isso muito bem e eu recomendaria esse livro a qualquer um dos meus alunos.
A narrativa nos coloca diante de três personagens: Sherlock Holmes, um garoto curioso e muito inteligente que tem noções de cavalheirismo, mas sempre se envolve em encrencas. Nikola Tesla, um jovem inventor que, órfão, busca recuperar os planos de uma de suas invenções que acaba roubado por um misterioso homem chamado Mr. Brown. E Irene Lupin, filha do maior ladrão do mundo e que vai até Londres em busca de um camafeu que pertenceu à sua falecida mãe. As trajetórias desses três personagens vai se cruzar em um interesse em comum: a Great East Company.
Cordenonsi não inventa a roda aqui. Usa este primeiro volume do que será uma série para nos apresentar os personagens e suas motivações. O roubo dos planos de Tesla serve para juntar Sherlock e Tesla e aos poucos vamos conhecendo um pouco do grande detetive apesar de ser ainda jovem. As engrenagens que movem suas deduções estão ali, mas sua juventude o faz ser inexperiente e não conhecer muito do mundo exterior. Então, ele erra ou se engana em algumas ocasiões, o que é bem normal. Aos poucos ele vai crescendo à medida em que os problemas vão se colocando um após o outro. Já Tesla não tem uma história de fundo muito complexa. Vemos que se trata de um pequeno gênio que acaba ficando órfão por conta das adversidades. Sua mente é de um menino de sua idade, o que causa situações bem engraçadas.
Irene acaba tendo um desenvolvimento maior neste primeiro volume, até porque Cordenonsi precisa encontrar uma forma de unir a história dela à dos outros personagens. Claro que o clímax de sua história não vai acontecer aqui porque o autor ainda precisa mover mais peças. Tem até mesmo um capítulo inteiro dedicado a enxergar o mundo sob os seus olhos. Vemos que Irene é independente, cheia de recursos e só não consegue avançar na trama porque lhe faltam certas habilidades, fornecidas pelos seus companheiros. Os personagens são complementares e funcionam como uma equipe. Só precisam aprender a lidar com as diferenças uns dos outros. Aqui ainda temos o momento inicial em que eles passam a se conhecer. Provavelmente a questão da interação entre eles será explorada em outros volume.
Só para alertar, esta é uma história voltada ao público infanto-juvenil. Então não esperem nada complicado ou diferente. É uma narrativa de entrada para novos leitores. Se essa foi a intenção do autor, foi super bem realizada. Como eu sou chato, vou apontar só alguns leves problemas. Primeiro em relação ao desenvolvimento dos personagens. Por ser uma história do Sherlock, ele foi mal apresentado para o leitor. Só entendemos aqui que ele é um menino super inteligente, mas não sabemos nada sobre seu pano de fundo, sua família (que existe na história) e suas motivações. Muitas coisas Sherlock só menciona por alto. Faltou protagonismo para ele... em vários momentos, eu preferia permanecer no ponto de vista da Irene. Ela me pareceu mais redondinha do que Tesla e Sherlock. Outro problema tem a ver diretamente com o desenvolvimento de Sherlock que é o direcionamento da narrativa. Sei que o personagem é aquele super detetive que descobre a identidade de um bandido apenas pela ponta da unha do mindinho. Mas, certas situações que acontecem aqui são meio forçadas como a solução da carta enviada para descobrir o nome da Companhia. Nesse ponto, Cordenonsi poderia ter introduzido a figura do Mycroft (já que ele é envolvido com o governo) para ele fornecer as informações das quais Sherlock precisava.
O Mistério dos Planos Roubados é aquela típica história para darmos de presentes a nossos irmãos mais novos, filhos, sobrinhos... De forma a que eles possam se interessar por leitura. A narrativa é tão gostosa e fácil de ser entendida que vai certamente enredar mesmo aqueles que não curtem tanto ler. E o livro é pequeno, ou seja, não tem a desvantagem de ser um super calhamaço. E ele é repleto de ilustrações do Gabriel Fonseca representando cenas do livro. Já estou com o volume 2 aqui e em breve começo a lê-lo porque a história deixou bons ganchos.
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