Heranças invisíveis do abandono afetivo:

Heranças invisíveis do abandono afetivo: Daniel Schor




Resenhas -


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Mabi 07/11/2022

Incrível
Muito conhecimento na área do direito, muito importante para quem quer sabe reais sobre o abandono afetivo.
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Carla.Parreira 09/02/2024

Heranças invisíveis do abandono afetivo: um estudo psicanalítico sobre as dimensões da experiência traumática (Daniel Schor). Melhores trechos: "...Na medida em que repete, o sujeito permanece fixado em determinado ponto de sua história, que se faz atual, entre outras coisas, pela transferência da carga emocional experimentada naquele contexto para o presente. Nesse sentido, as atuações precisam ser consideradas como um modo particular de rememoração. Assim, o entendimento da compulsão à repetição como algo que traz à tona o “passado presente” do paciente nos faz abranger um espectro muito mais amplo de sua história emocional. Se recordar é evocar o acontecido, repetir é encenar o que permanece inconcluso em relação à história do sujeito... Num momento extremamente precoce, sua mãe o havia invadido com a ansiedade de que ele a abandonasse, subvertendo completamente sua tarefa de cuidado ao filho recémnascido e, agora, eu deveria sustentar rigorosamente nossa relação, a despeito do quão inseguro ele me mantinha acerca de seu compromisso comigo... No contexto do desenvolvimento inicial, pode-se dizer que, num ritmo desenfreado, a criança se sentira despossuída, liquefeita, inconsistente, exposta a angústias de esvaziamento que poderá então voltar para si mesma numa defesa paradoxal em vez de as refletir. Num ritmo muito lento, a experiência perderá seu sentido, seu valor, mobilizando uma angústia de perda de objeto e de abandono... Entre os principais determinantes da autoalienação de que tratamos, isto é, da perda do vínculo consigo mesmo ocasionada pelas experiências traumáticas, está, geralmente, a procura obstinada e fracassada da criança pelo sentido do distanciamento dos pais em relação a ela... Quando as condições são favoráveis à inevitável separação entre a mãe e a criança, ocorre no Eu uma mutação decisiva. O objeto materno se apaga enquanto objeto da fusão primária para dar lugar a investimentos próprios ao Eu, fundadores de seu narcisismo pessoal... apagamento do objeto materno transformado em estrutura enquadrante só é conseguido quando o amor do objeto é suficientemente seguro para desempenhar este papel de continente do espaço representativo. Este último não corre mais o risco de rachar, pode suportar uma espera, com a criança se sentindo sustentada pelo objeto materno mesmo quando não está fisicamente presente... Num desenvolvimento saudável, o bebê fortalece aos poucos sua convicção de que há algo exterior a ele capaz de sobreviver aos seus ímpetos famintos e se encher novamente até a próxima mamada. Nas situações em que a mãe é capaz de sustentar essa regularidade, o caráter de alteridade do seio/mãe torna-se quase imperceptível, e a criança pode se apoiar na crença de que os processos que precisam acontecer realmente acontecem... Nas circunstâncias traumáticas, o ciclo de uma relação saudável se rompe, e a criança vê-se obrigada a se proteger das experiências de dar e receber. Nessas condições, a experiência de amamentação deixa de ser vivida com a plenitude de seu significado emocional, tornando-se apenas um meio para extrair ao máximo as coisas boas do mundo exterior e armazená-las no mundo interior, onde finalmente poderão ser amadas e manipuladas pelo sujeito sem o risco inerente às relações com os objetos externos. Tal atitude faz parte do esforço patológico de não depender, ligado à experiência humilhante de não ter tido suas necessidades atendidas durante a plena vigência da dependência infantil... É importante, contudo, observar a diferença estabelecida pelo autor entre a fase oral primária e a fase oral secundária. Na primeira, o objeto natural é o seio da mãe. Já na segunda, o objeto é a mãe com o seio. Essa transição se caracterizaria, também, pelo aparecimento da tendência a morder. Se na fase oral primária a atitude libidinal de sugar tem o monopólio da situação, na fase secundária, esta atitude passaria a competir com o ímpeto de morder... Quando o trauma se abate sobre o sujeito num momento muito precoce, ele não se sente odiado, mas odiável. Ao se deparar com falhas persistentes e precoces do objeto, sente que sua ávida necessidade de se ligar a ele é má e o esvaziou. Com isso, passa a entender que foi seu próprio amor que destruiu a capacidade de amar da mãe. Dessa forma, as falhas do objeto primário instauram no sujeito uma enorme desconfiança em relação a seus conteúdos internos... O maior problema do indivíduo esquizoide seria, portanto, o de como amar sem destruir com seu amor, ao passo que o maior problema do indivíduo depressivo seria o de como amar sem destruir com seu ódio... O maior trauma que uma criança pode experimentar é a frustração de seu desejo de ser amada como pessoa e de que seu amor seja aceito... Amar uma criança como uma parte de si mesmo é roubar dela a posse da singularidade de seu gesto e, com isso, todo o seu potencial criativo. Para preservá-lo, são fundamentais tanto o seu reconhecimento como um ser único quanto a aceitação daquilo que dela provém, e que não poderia partir senão dela... Durante o período de transição, que pode, conforme a organização psíquica em questão, perdurar por toda uma vida, a conduta do indivíduo se caracteriza tanto por seu esforço para desvencilhar-se do objeto quanto pelo de conquistar finalmente uma união segura com ele, quer dizer, por tentativas concomitantes e desesperadas de “'escapar da prisão’ e de ‘voltar ao lar’. No primeiro caso, o risco é o de se ver engolfado nessa relação e se ver para sempre paralisado. No segundo caso, o risco é o de se ver isolado e abandonado, o de não conseguir se ligar a outros objetos e de, em última instância, se ver condenado à morte psíquica... Além disso, as falhas na relação com o objeto primordial instauram no sujeito uma insegurança básica quanto à qualidade de seus conteúdos interiores e quanto à sua capacidade de cultivar boas relações. Para alcançar relações maduras, o indivíduo precisa estar seguro não apenas de que existem no mundo objetos dignos de confiança, mas de que ele próprio possui objetos bons em seu interior... Em linguagem adulta, este sentido inconsciente poderia, talvez, ser traduzido nos seguintes termos: 'Como posso esperar do mundo algum amor se, ao me conhecer, mesmo meus pais não puderam ter por mim senão desprezo? Devo ser, de fato, alguém muito horrível'. A partir daí, só restam ao sujeito duas alternativas: esconder para sempre sua 'feiura' ou assumir de uma vez sua 'natureza' monstruosa, buscando, inclusive, apresentá-la defensivamente como uma faceta de seu livre arbítrio, enfeiando-se ainda mais... Tais objetos substitutos se tornam, assim, símbolos primários, ou seja, objetos para simbolizar a falta do objeto primordial, que irão ajudar o bebê a reduzir a lacuna que agora se abre entre a experiência do 'encontrado' e do 'criado'. Uma dialética é então estabelecida entre o que a criança pode continuar a obter diretamente da relação com o objeto e o que terá de ser obtido, agora, com o auxílio da simbolização. Uma das condições para que este começo de representação possa se dar é que a criança não se sinta hiperdependente do objeto, ferida por sua imaturidade ou mesmo aprisionada na dependência que ele próprio experimenta em relação a ela... Em todos os casos, estamos diante de defesas contra o pavor da queda no abismo interno a que nos referimos páginas atrás, isto é, uma angústia de fragmentação e despersonalização gerada pela profunda insegurança a respeito da confiabilidade do objeto. Ora, se, em minha origem, estive diante de um objeto de cuja verdade, presença e consistência não estou seguro, disso decorre que todas as representações que chegaram a mim por seu intermédio – minha existência como ser humano, a realidade dos objetos que compõem nosso universo compartilhado, sua própria existência como um outro real – passam a estar recobertas pela mesma ameaça de irrealidade, a qual é capaz de me acompanhar por toda uma vida..."
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