fubies 30/12/2023
O tal livro tão odiado
A grande coisa sobre odiar o último livro é que se tornou um padrão tão grande quanto amar o primeiro. E, para mim, odiar ou amar um livro está sempre ligado a quais eram minhas expectativas, sabe? Muitas expectativas normalmente geram muitas decepções e, nesse caso específico, eu esperava tão pouco que acabei aproveitando o que o livro podia me dar. Foi uma leitura divertida!
a) É o mesmo mundo?
Sendo sincera, eu esperei tão pouca familiaridade com os outros livros que isso passou batido, mas é verdade. Não parece, de maneira nenhuma, ser o mesmo mundo mágico e universo rico dos outros livros. Só que sempre vale ressaltar que isso é um roteiro de uma peça, não um livro, e não me esqueci disso em momento nenhum (o que provavelmente tornou essa experiência no mínimo tolerável).
b) Descaracterização do Trio?
Provavelmente sim, em partes até concordo. Porém, gostaria de deixar a indagação: o quanto nós somos semelhantes a quem éramos na escola, no ensino médio, na faculdade, no nosso primeiro emprego?
A cada pequena evolução nas categorias da vida deixamos uma bagagem imensa de coisas para trás e, as vezes sem notar, pegamos novas cargas para o próximo caminho.
Não digo que não é verdade, o Ronald foi a descaracterização que mais me irritou porque era um personagem que eu amava, apesar de admitir que seu papel era muitas vezes reduzido ao alívio cômico. A Hermione? Se tornou totalmente aqueles adultos que as crianças detestam. E o Harry? Era de se imaginar que não seria tão chorão, irritadiço e imaturo, na verdade, nele eu realmente queria ter visto uma descaracterização, mas o que vi foi o puro suco de homem imaturo. Metade dos problemas foi causado pela incapacidade dele de se comunicar ou, ao menos, falar a verdade, o que é atitude de um adolescente. No fim fiz essa reflexão e descobri que sou a própria descaracterização de quem eu era, e provavelmente daqui dois anos, vou ser ainda mais. Crescer é basicamente isso.
c) Parece uma fanfic? Talvez, mas vamos lá: o roteiro parece uma fanfic mal escrita ou as fanfics são tão mal escritas que, ao invés de parecerem livros, parecem roteiros de peças escritas com rapidez absurda que parece uma corrida e sem uma profundidade em muitos temas que são trazidos de maneira superficial como o, nesse caso, luto? Eu já escrevi fanfics melhores que esse livro, porque eram histórias, livros e não roteiros. Agora um exercício: escrever um roteiro de peça que deva, em todo seu desenvolvimento e efetividade, ser unicamente um roteiro de peça.
d) ?Não matou a saudade/Não agregou na história?? Bem, achei muito delicado trazer como é o amadurecimento de uma criança que gostava de ser desprezível em sua adolescência e agora, como adulto maduro, precisa lidar com as consequências. Acho que, de certo modo, o livro até traz uma infantilidade porque nos faz acreditar que na vida real as pessoas que fazem coisas ruins (como se aliar a partidos desumanos) de fato pagam por isso e pelas coisas que apoiaram, o que não acontece na realidade. Me emocionei muito com as falas da Gina, entender como foi pra ela ser a garota que foi possuída, e ainda mais com as falas do Malfoy. Trouxe pra mim uma visão humana, e foi a parte mais bonita de toda a história.
e) O enredo? Péssimo. A coisa do edredom, a coisa da viagem no tempo, a coisa da paixonite, tudo isso achei ridículo. Não mal construído, mas a ideia em si absurda - o que é uma loucura se a gente for considerar que é um mundo de magia. Parece que, ao tentar fazer uma nova história acontecer, forçaram tanto que fizeram um universo de magia inteiro virar uma piada. De novo, não justifica achar ruim por falta de profundidade quando, veja bem, já sabíamos que era um roteiro.