Deus é bom e o Diabo também

Deus é bom e o Diabo também Mahana Cassiavillani




Resenhas - Deus é bom e o Diabo também


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Mauro.Donato 13/08/2019

“Deus é bom e o Diabo também” de Mahana Cassiavillani
Há um ritmo de poemas. Parágrafos são divididos e espaçados como estrofes.
No entanto, “Deus é bom e o Diabo também” é um livro de contos. Suave?
Sente-se, leitor.
Os contos de Mahana Cassiavillani são lancinantes, vão na jugular.
Quem dá o diapasão é Maria Velho da Costa. A ferina escritora portuguesa – perseguida e censurada pela ditadura patrícia - é citada nas epígrafes de cada subdivisão do livro de Mahana, o que confirma aquilo que se sabe desde Gutenberg: só escreve bem quem lê bem, o resto é o resto.
A escrita implacável da autora trata majoritariamente dos encantos e desencantos do “universo feminino”. As situações cotidianas de abusos contra a identidade. A cobrança pela aparência, o estupro, os assédios morais e sexuais que tantas vezes são cometidos assim mesmo, aos duplos, pelo chefe, pelo colega, pelo tio do pavê, pelo mais insuspeito dos amigos, pelo marido.
Mulheres com a autoestima fragilizada, mergulhadas em tristeza e duvidosa falta de rumo. Mulheres em busca de encontrar a própria força.
Lúgubre?
Em momento algum, leitor. Eu disse majoritariamente, não exclusivamente.
Mahana é de um humor preciso. Prepare-se para rir muito com “O quarto andar”, conto que já inicia em ritmo de piada de salão.
Mordaz, a autora não poupa seus personagens, nem a si mesmo, menos ainda o leitor. Sem condescendência nem vitimização alguma.
Como faz?
“(...) pinto com cores feias que, inegável dizer, estão mesmo neles, mas não são suas únicas. Infelizmente, são as que escolhem usar e eu os sigo em tom e miséria”, dispara ela em um dos contos. Ali é possível ouvir a voz da autora falando de alguns personagens, bem como de todos os personagens, e ainda ver seu dedo apontado para nós.
Não só. Mahana fala, sobretudo, de si mesma.
O discurso indireto livre - levado com maestria – carrega um teor confessional tão contundente que por vezes trai a autora até quando a narrativa é feita em terceira pessoa. Sabemos quem de fato está do lado de lá.
Mahana consegue olhar para os próprios pés como se fossem algo ao sul de sua existência, como um vizinho voyeur, um autônomo e intrometido. Um deus, ou um diabo.
É literatura de gente grande. No sentido literal e no figurado.

Por Mauro Donato
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