Italo 15/03/2023
Melancólico
É uma leitura INCRÍVEL, impecável, porém ela consome MUITO do leitor. Não quero dar spoiler, apenas a minha opinião sobre o livro.
O livro vai seguir a mesma linha dos outros dois clássicos, A Metamorfose e, principalmente, O Castelo. Por sinal, recomendo ler este antes de O Castelo, sinto que eles se completam e eu perdi um pouco lendo-os na ordem "errada". Todavia, vamos ao livro.
O Processo ele vai tratar, justamente, sobre um processo. Um verdadeiro problema kafkiano. Ao pé da letra, imagine receber a notícia, no auge da sua juventude, que você está sendo processado criminalmente e sendo PRESO - todavia, ninguém tem o interesse de te informar os motivos de você estar sendo conduzido. De antemão, é uma crítica à burocracia estatal: processos longos, papelada desnecessária mas obrigatória, advogados gananciosos e preguiçosos e juízes e juizados negligentes. Uma burocracia complexa mas, gasta. O protagonista, Josef K., em todo livro, tenta se defender de uma acusação que nem ele mesmo foi informado.
Sob o que eu entendi do livro, acredito que isso reflita mais sobre mim, mas também tenha sido intencional do Kafka, considerando a vida dele. No final, acredito também que o livro fale mais sobre o Kafka do que sobre um processo ou uma burocracia estatal. Todo o livro, para mim, soou como uma crise depressiva: diferente do que o protagonista alega, ele é humano, e como todo humano, existem tantos motivos para ele estar numa crise que soa como não tivesse nenhum. Como se aquilo fosse completamente aleatório. E digo mais: todos os livros do Kafka que eu li me aparentam esse mesmo teor depressivo. Para mim, o Kafka usa o protagonista (curiosamente, de nome K.) para falar sobre sua própria depressão. Um problema comum à maioria de nos. O processo que ele enfrenta é essa depressão: ele nao sabe como ou pq entrou, nem como pode sair; muito menos a quem recorrer pra isso. No início, ele finge que não há nenhum problema mas, com o tempo, ele se vê num fundo do poço.
Realmente, do fundo do meu coração, não sei se essa resenha diz mais sobre o protagonista, o K; o autor, o Kafka; ou a mim, Ítalo, o leitor.