Bia Kollenz 11/06/2018BolerusBoleros são canções, Bolerus é um besouro. É com essa ideia em mente que Vanderley Sampaio inicia seu livro de poesias, Bolerus. Como dito antes, Bolerus é um inseto, um animal frenético e barulhento, que voa pelos ares sempre inquieto. O livro de Vanderley tem muito da alma do besouro, seja nos poemas, na diagramação ou na maneira de compor os versos.
O livro é lançado pela editora Scortecci e muitos dos poemas presentes no livro foram publicados em jornais, sites e redes sociais, em destaque para o blog Absurtos. Vanderley é natural Garça, interior de São Paulo, e começou a escrever poesia ainda na adolescência. Depois das indas e vindas da vida, Bolerus nasceu.
“A saudade que eu tenho / É como uma chama infinita Ardendo no peito. / Não há nada que possa apagá-la. / Nem mesmo as cachoeiras que deságuam de meus olhos nulos. / Nem mesmo o sangue que corre teimoso / Por minhas veias trêmulas.”
Para compor seus poemas, o autor se utiliza muito da aliteração e dos jogos de palavras, tudo para nos trazer a mente o zumbido característico do besouro. Essa brincadeira com os sons traz muito riqueza para a poesia de Vanderley, o que parece a primeira vista um acaso, na verdade tem um propósito muito bem construído. A poesia concretista também encontra seu espaço no livro, e junto da diagramação, traz muita vida às páginas, estas parecem sempre estar em movimento.
Tudo é muito bem dosado e feito para ajudar a contar o poema. Se algo está sendo destruído, nada mais certo do que as palavras caírem junto, correndo em direção ao chão. A coletânea conta com um bom prefácio, escrito por Rose Almeida, bacharel em Letras pela USP e poeta no blog Absurtos. Ela ajuda muito o leitor de primeira viagem entender o que os poemas de Vanderley buscam trazer: um pouco da loucura e da inquietação do Bolerus.
Em meio a tantos poemas, não foi difícil encontrar alguns favoritos, destaco da minha leitura os poemas: Boleros ou Bolerus, Nascente, Nus Estados, Sem Explicação, Algo Abstrato, Saudade Infinita, As Coisas e Dúvidas. Grande parte da diversão em ler Bolerus para mim foram justamente as aliterações.
“Inusitados / Os nus estados / Que se deitam em nós / Que se deicam em nós / Que se desatam em nós / Que se deságuam em nós / Que se embaraçam em nós / Que se entrelaçam em nós / Que os sinos dobram por nís / Que se vão”
Sou bastante fã do seu uso na poesia, justamente por dar tanta cor ao poema quando lido em voz alta, a poesia nasceu para ser dita em plenos pulmões, aliterações e jogos de palavras fazem dela ainda mais divertida quando recitada. Vida foi o que encontrei no livro de Vanderley Sampaio, por vezes li os poemas em voz alta, experimentando o sabor das palavras.
Mesmo que você não tenha o costume de ler poesia, a leitura de Bolerus é recomendada, quem sabe assim não surge o gosto por um novo gênero? Não basta nunca lembrar que a nossa prosa nasceu há muito tempo atrás, vinda da poesia oral, se hoje temos tanto livros é justamente devido à poesia e sua arte de narrar em versos tudo que sentimos e vemos neste mundo.
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