Dani do Book Galaxy 24/03/2021É personagens burros, revisão mal feita e plot ruim que você quer? Tã Dam!Jamais confie em um livro que diz "best seller do New York Times". Na maior parte das vezes, isso não quer dizer nada.
Em minha incessante busca por livros inspirados em sereias, ou que incorporem esses seres em suas histórias, me deparei com este romance. Apesar de ter sido alertada na sinopse de que se tratava de uma história com um enredo bem meloso, o fato de ela ter sido inspirada no conto da Pequena Sereia (aliás, na adaptação da Disney) me animou a ler mesmo assim e resolvi arriscar.
Infelizmente, depois de dois capítulos eu já estava totalmente entediada. Uns cinco capítulos depois, já estava querendo desistir da leitura. E, do meio para o fim, eu queria tacar meu Kindle na parede.
Eu li tudinho com a famigerada FORÇA DO ÓDIO. Foi realmente uma das piores experiências de leitura que eu tive, e isso não tem nada a ver com a minha decepção em relação a não ser uma história "de sereia".
Vou explicar porque eu achei este livro TÃO ruim. Não se enganem; não é só porque se trata de um romance meloso. Eu já li romances melosos bons, e até (poucos) romances melosos ótimos. Mas o problema de "O silencioso Canto da Sereia" é mais complexo do que ser simplesmente um romance bobo. O problema começa com a teimosia da autora em manter a inspiração na Pequena Sereia da Disney (acho que isso pode ter limitado sua criatividade, porque certas coisas pareceram bem rasas, adaptadas para se encaixar no conto), mas somado a isso vem: uma escrita ruim, personagens insuportáveis e capítulos entediantes. Tudo isso coroado por uma tradução horrorosa e mal revisada. O trabalho do revisor aqui, infelizmente, se perdeu em umas expressões de Google Tradutor que… só por Deus.
Bem, vamos começar a decupar os principais problemas da história?
Problema Número Um: a ambientação forçada.
A autora ambientou sua história em uma ilha fictícia isolada e afastada das cidades grandes do litoral leste norte americano. Através dessa ilha, ela criou alguns paralelos com o fundo do mar que vemos no conto da Pequena Sereia: uma comunidade pequena, onde todos se conhecem intimamente e limitada pelas tradições.
Nossa protagonista, Laire, é uma menina doce, inocente, que vive em uma bolha. Aos 18 anos, nunca foi beijada, não tem celular nem acesso à internet e não sabe absolutamente nada sobre sexo (do tipo que acha que beijo na boca é o mesmo que fazer sexo, e isso imediatamente significa bebês). Vivendo na ilha de Corey, ela não tem tem nenhuma amiga ou amigo, fora suas irmãs mais velhas, que a tratam com uma condescendência irritante.
A família de Lairie, vinda de pescadores tradicionais, parecia que estava parada no tempo, lá pelos anos 30. A total alienação em relação à tecnologia, apego às tradições ("Fulana tem que se casar com ciclano! São amigos de infância!") e total abstração da realidade do ano de 2009 era bizarra.
Achei essa ambientação totalmente descolada da realidade e obviamente forçada para criar esse paralelo com a história da Pequena Sereia. Mas tudo bem, isso não foi o pior, acho. A própria Laire foi um ponto baixíssimo da leitura, entrando no meu hall de "personagens principais mais irritantes da história literária".
Problema Número Dois: a protagonista pilha fraca.
Lairie é doce. Inocente. Fofa. Ruiva (claro). Ela não sabe usar a internet e acha que beijo de língua significa gravidez. Sua inocência a leva a se apaixonar perdidamente por um rapaz bonitão que ela vê quando vai ao continente. Surpresa! Ele é lindo, rico, gostoso, o mocinho de todos os contos eróticos da atualidade.
E é claro que nosso príncipe Eric moderno perde a cabeça por ela, afinal: ela é linda e ruiva! Tão pequena e delicada. Mas…
Em relação à personalidade dela, eu não senti absolutamente nada de incrível. Ela não tem um senso de humor irônico ou perspicaz, não parece ser muito inteligente e nem tem personalidade forte. Ela é só… fofa e bonita. Fim. E isso foi o suficiente pra fisgar o cara mais rico da ilha, que se apaixona tão perdidamente por ela que, 10 anos depois, ele ainda não consegue esquecê-la - a ponto de literalmente ficar BROXA em outros relacionamentos porque ele não consegue esquecê-la. É.
Por mais que a autora ficasse reforçando o tempo todo, pelo ponto de vista do cara, como Lairie é incrível, ela mesma não faz nada de mais. É só uma mosca morta ali que faz o rapaz perder a cabeça com um beijo (aliás… o primeiro beijo dela, CLARO).
Problema Número Três: o hot mal feito
Já não bastava ser um romance insuportavelmente meloso, esse livro TAMBÉM É HOT. Aposto que vocês conseguiram ver meus olhos revirando agora, quase até chegar na minha nuca, certo?
Bom, o elemento erótico foi totalmente jogado nesse livro. A autora tentou criar umas cenas sexy e calientes que pra mim foram totalmente deslocadas e fora de contexto. Em um momento, lá estava aquela escrita melosa, do mocinho pensando em como Lairie era linda e delicada, com seu pescoço de cisne e cabelos sedosos, e do nada pipocavam uns parágrafos na linha de "Lairie tinha seios fenomenais, e ele ficou de pau duro" e tudo mais. OI? Eu não tava preparada pra isso! Além de mal escrito, achei péssimo, fora de contexto, entediante e totalmente fan fic de menina de 12 anos que assistiu um pornô pela primeira vez e agora quer descrever tudo o que aprendeu.
Isso sem contar os problemas da tradução, utilizando expressões como "fodidamente" (para "fucking"). Parece eu e minhas amigas na época do ensino médio, traduzindo errado as coisas de propósito.
Problema Número Quarto: clichê em excesso.
Esse livro devia vir com uma tarja na capa igual às das embalagens de cigarros. "Atenção! Ler este livro causa olhos revirados, perda de paciência e alergia a livros de romance".
Pois é. Infelizmente, todos os clichês românticos estão aqui. Todos mesmo. Foi bem previsível e decepcionante. Tem: primeiro beijo, amor de verão, diferença de classes, triângulo amoroso, um amor que se reencontra anos depois, gravidez, intrigas da sogra, enfim! Tudo o que você pode imaginar escrito de uma forma bem ruim.
Fora que a narrativa é cansativa demais. A autora escreve parágrafos e parágrafos e parágrafos para descrever as personagens se questionando, pensando, divagando sobre seu amor perdido…. Juro, tinha capítulos com quatro páginas seguidas em que nada acontecia, era só a pessoa pensando. Eu não me envergonho de dizer que pulei alguns desses parágrafos, sem nenhuma culpa.
Problema Número Quatro: É todo mundo burro nesse livro!
Não é só o desapego à tecnologia que faz as personagens serem totalmente alienadas (tudo bem, acho que em 2009 a gente não era tão obcecado por smartphones, mas já existia banda larga e fibra óptica, pelo amor de Deus!).
Mas parece que burrice é um problema geral nas pessoas dessa história.
Há um trecho em que o mocinho fica remoendo sobre olhos castanhos, pensando como era possível uma mulher ter olhos castanhos… ele imaginava que mulheres só podiam ter olhos claros! Gente, COMO ASSIM? A história acontece em 2009! Um cara milionário, estudante de Harvard (ou alguma outra Universidade coxinha assim) NÃO SABER QUE MULHERES TINHAM OLHOS ESCUROS, GENTE?!
E quando eles se beijam pela primeira vez e Lairie empurra ele, dizendo: "Você quer fazer bebês em mim! Mas eu sou muito nova, pare!?"
Que surto foi esse livro? Fico chocada em como ele pode ter uma nota tão alta! De verdade.
Foi ruim, foi cansativo, foi um trauma e minha nota é 2 estrelas. Olhando em retrospecto, acho até que 2 estrelas foram muito, mas vou deixar assim.
E aprendi a lição de nunca mais confiar em “Best Sellers do The New York Times”…