Cássio Cipriano 31/03/2024Interessante e emocionante, mas poderia ter sido bem mais.Uma proposta interessante e emocionante, que a meu ver teve algumas falhas na sua execução, mas ainda assim é uma boa história. Aqui, veremos um homem cis gay branco e sem deficiência se envolver com outro homem cis gay negro e com deficiência visual. De cara, a gente pressupõe que vai ser uma história de amor entre pessoas com vivências bem diferentes em diversos aspectos, e de fato é.
Rafa, um engenheiro químico de família privilegiada e que coleciona decepções amorosas, se envolve com Leo, um revisor que foi diagnosticado com ceratocone na infância e a doença o levou à cegueira. A relação entre eles faz com que ambos saiam da zona de conforto. Convivendo com Leo, Rafa acaba se dando conta do quanto ele e a sociedade em que estamos inseridos são despreparados para acolher pessoas com deficiência; e Leo, que sempre se impôs como um homem forte e independente, principalmente para não ser tratado como um incapaz devido à sua condição, acaba se permitindo ser vulnerável na relação com Rafa.
No entanto, algumas coisas me incomodaram e fizeram com que eu não achasse o romance excelente. A escrita em terceira pessoa é meio formal, sei lá. Achei que o modo como o texto foi escrito não extraiu todo o potencial de emoção que a história poderia alcançar. Apesar de simples, não achei uma leitura fluida. Além disso, achei uma história extremamente heteronormativa, e isso foi o que mais me incomodou. Senti que, se um dos personagens do casal fosse uma pessoa cis hétero, não faria diferença, porque não tem um contexto de vivência LGBT. Inclusive, me incomodou algumas falas no livro sobre os protagonistas se identificarem por se comportar de determinada forma ou gostarem de certas coisas para não serem associados a um gay estereotipado, por exemplo, gostar de futebol, não gostar de música pop ou filmes tipo High School Musical. Em vez disso, eles gostam de filmes de super-herói, filmes de ação, gostam de rugby, e por aí vai.
Ao mesmo tempo que entendi essa construção de perfil pros personagens, pela região onde o livro se passa (a mesma em que vivo, onde as pessoas são mais tradicionais, preconceituosas e tal), achei que não precisava colocar as coisas dessa forma. Gostar de Madonna, por exemplo, não me faz mais ou menos gay. Gostar de futebol, não faz um cara mais ou menos gay. É só o que a pessoa gosta. Achei que, com isso, o autor acabou reforçando outro estereótipo, que é o do gay preocupado com as aparências, e por isso assume uma postura heteronormativa.
Tirando isso, é uma história legal, que foge do comum nos romances aquileanos.