Wlianna 26/08/2015
Artigo de morte
"Ao leitor cabe escolher: aceitar a mentira como uma verdade ou aceitar a verdade como uma mentira ou ficção". Essa é a última frase do posfácio do romance "A morte do Brasil", e é também uma frase que muito diz sobre a obra de Lêdo Ivo, que foi escrita a partir de questionamentos sobre o que é mentira, o que é verdade, o que é o Mal e o que é o Bem.
O autor traz no livro, como personagem principal, um alagoano que após se formar em direito e trabalhar como jornalista tornou-se um competente delegado de polícia do Rio de Janeiro, e que está sempre cercado de questionamentos que o acompanham desde a infância.
O romance é extremamente urbano, e além do delegado, de seu protetor (delegado Plutarco), dos escrivães da delegacia, de uma senhora que procura em vão por seu marido desaparecido, de altas figuras da sociedade e dos porteiros, há também a presença marginalizada de "putas, veados, alcaguetes, bicheiros, punguistas e outros comparsas da arraia-miúda". Há uma busca incessante por respostas para a situação periclitante de um país que é um artigo de morte, para o que é uma pátria "(...)tudo isso era a Pátria. Igual a Deus, ela era uma soma de todas as coisas e seres existentes e inexistentes".
A obra é muito bem escrita, e apesar de pincelar várias histórias, não tem um enredo consistente, mas nos leva até a última linha movidos pelas mesmas questões que movem o personagem principal, e nos presenteia com as lembranças de Maceió, cidade natal não só do peraonagem mas também de Lêdo Ivo.