joaoggur 08/01/2024
Ambiguidade da Neve.
Narrado por um amigo de adolescência do protagonista, a história narra sobre Ka, um poeta que vivia em exílio na Alemanha. Ao voltar a sua terra natal, a Turquia, parte para a pequena cidade de Kars, onde uma série de suicidios de moças muçulmanas intriga a mídia local.
Aqui temos o grande (e triste) exemplo de como a prolixidade pode atrapalhar a obra; a genialidade de Orhan Pamuk é evidente, conseguindo montar uma trama ?de emaranhados?, onde coisas banais resultam em outras coisas banais que resultam em outras coisas banais? e nosso entrosamento com os personagens nos faz continuar com a leitura. Mas, em contrapartida, creio que as grandes descrições que permeiam o livro trazem efeitos negativos; muitas informações, como em cenas que um personagem X começa a narrar a história de um personagem Y, são completamente dispensáveis.
Talvez pelas grandes descrições, o ponto alto do livro seja os personagens. Nós nos afeiçoamos a eles e nos solidarizamos a cada percalço que devem enfrentar (não acho que irei esquecer das irmãs Kadife e Ipek, o adolescente Necip, Fazil, o islamita-inimigo-e-amigo Azul?). E, como já citei no parágrafo anterior, se os personagens não fossem envolventes, continuar lendo ?Neve? poderia ser uma tarefa muito mais árdua (não que, na versão final do livro, já não seja?).
A climática da obra progride em relação a própria progressão da história; enquanto o início é morno e o meio é melo-dramático (ponto que o autor errara a mão; tem momentos que personagens adultos remontam a pieguice adolescente), quanto mais nos aproximamos do final mais o gosto pela narração aumenta. A excelente conclusão deixa certas pontas dignas de discussão pós-leitura.
No conjunto da obra, valera a pena. A questão política é desenvolvida de forma exímia; a religião, a política e a dialética com a ocidentalização sao quase como personagens.