Lilies_. 19/03/2024
Um turbilhão de emoções!!
Esse livro foi uma montanha russa de emoções surpreendentemente boas, tive que deixar meus próprios sentimentos de lado para fazer uma resenha crítica em relação à obra, acho importante ter algumas ressalvas para determinados pontos que influenciam a história, e para: isso vamos começar pelo desenvolvimento do Damen e como Pacat retorna novamente a falar sobre a escravidão, nos mostrando que esse tema não é apenas um acessório que ela colocou no primeiro livro.
Antes de seu próprio período de cativeiro, Damen possuía escravos e ele não se sentia nenhum pouco mal com isso, porque para ele, é assim que as coisas são e sempre foram, eram assim que seu pai fazia as coisas e o pai de seu pai também. É algo natural para o meio dele. Aqui vamos ter o arco de evolução do Damen que se dá por uma forma bem interessante de escrita.
O fato do Damen ser tão privilegiado e ter se beneficiado impensadamente da escravidão durante toda a sua vida que logo após ele descobri que seus companheiros Akielos estão sendo torturados e abusados por Vere, a prioridade do Damen no primeiro livro é tirá-los de lá, porque para Damen apesar de está preso e vivendo como um escravo, ele não acredita realmente que os escravos deveriam ser livres. O problema não é que seus companheiros Akielos sejam escravizados e sim que os guardas Veretianos os tratam mal. É um pensamento repugnante, mas uma escolha totalmente intencional por parte da C. S. Pacat. E quem ela escolhe para lhe questionar sobre isso é ninguém menos que o Laurent, essa é a evolução do Damen, ele precisa entender que seus conceitos estão tão errados quanto ele acha que os conceitos de Vere são repugnantes.
Em boa parte desse livro, ele começará a se sentir enojado com a escravidão que havia aceitado tão impensadamente antes. Ele se sente enojado com ele mesmo, com seus antigos valores e o quão preto no branco era sua visão de mundo. Ao longo de sua jornada é óbvio que ele precisa entender um conceito que ele mesmo repete inconscientemente todas as vezes: liberdade. E a liberdade da qual ele conhece, não é a liberdade da qual ele acredita atualmente, digo, depois de tudo que ele passou. Traições que ele sofreu. Ele já não quer seguir os mesmos pretextos que seu pai, porque talvez essa não seja a coisa certa. Talvez ele nunca quisesse seguir, mas como o "natural" para todos em sua família era aquilo, então ele sente que também precisa fazer e dar orgulho ao pai. E quando ele assume essa consciência das coisas, ele entende que tudo que sua família fez, a qual ele também faz parte, isso não vai mudar as inúmeras vidas, vidas que foram moldadas por anos para se submeter aquele tipo de situação. Devo ressaltar que estão é uma explicação, não uma desculpa.
Então, desde o primeiro livro começamos a entender a extensão dos preconceitos de Damen e quando esses preconceitos são desafiados por sua experiência vivida ou pelos questionamentos do Laurent, vemos o Damen começar a mudar e vemos essa mudança por meio de suas ações, não de seu monólogo interno(sua cabeça/seus pensamentos do qual lemos), o que pode ser um pouco difícil de se perceber devido ao estilo da escrita da Pacat, pois é muito fácil para o leitor esquecer que estamos de fato lendo a perspectiva limitada de um único personagem que é influenciada por seus próprios preconceitos e falhas. O mundo que o Damen enxerga, não é o mundo que o Laurent enxerga. Não sabemos a complexidade do mundo sem essa limitação. O que pode parecer preguiçoso por parte da Pacat, mas não é. Da mesma forma que ela fez a primeira versão do Laurent para ser odiado, ela fez relações de ambiente e personagens para mostrar essa mudança, pode ser muito chato já que você terá que ter que desacreditar daquilo que está lendo para acreditar naquilo que os personagens fazem, mas não é sempre assim. Apenas não esperem ler algo do tipo:
?Só porque suas perspectivas são diferentes das minhas não significa que sejam piores. Me desculpe por não ter notado isso antes.? para justificar a complexidade dos personagens em relação à política do meio que foram inseridos.
Em relação ao Laurent, acredito que estamos entrando na camada mais profunda dele, talvez este seja o momento no qual ele se permitirá ficar vulnerável sem sentir que precisa controlar como os outros vão reagir. Tudo sobre Laurent é um pouco ambíguo, não me sinto confiante em falar sobre ele sem ler o último livro da série. Mas não há dúvida de que ele age muito diferente quando está longe do Regente. Percebo a existência de alguns paralelos, mas não é algo que eu possa dizer com clareza ainda. Estou começando a entender essa popularidade que as pessoas dão a ele, até agora, ele é um personagem clichê para mim, um clichê dos mais insuportáveis possíveis, mas com algumas subcamadas muito interessantes de se ver em um personagem odiado por todos que leram o primeiro livro e deixaram por isso mesmo.
A relação entre Damen e Laurent: eles estão próximos, mas ainda há uma tensão que ainda não foi revelada por ambos os lados. Acredito que esse será o ponto crucial desse relacionamento no próximo livro. Gostei da maneira sincera como eles começaram a se tratar porque passaram de: ?você é meu inimigo e pode me matar.? Para: ?Eu sei que te machuquei, não espero que você me perdoe por isso, mas não farei isso de novo.? Ambos se machucaram, mesmo que de forma diferentes, mas em nenhum dos casos isso deixa de ser violência. Digamos que as ações falam mais alto que palavras para muitos personagens deste livro em momentos diferentes.
Uma das críticas que vi em relação ao Príncipe Cativo, especialmente esse segundo livro, é o plot twist que está ligado com o livro seguinte. Caso não saibam o significado de plot twist, são situações previstas de antemão e resolvidas depois, ele não existe necessariamente para impressionar você, leitor. Ele existe para fazer sentido a história, se você leu esse livro e achou que as coisas estavam muito óbvias? bem, é, parabéns, isso só significa que você entendeu todo o ponto narrativo. Parece bem idiota, mas acontece que quando você está lá lendo uma história, você tem a percepção de todo o universo apresentado, você sabe de coisas que os personagens não sabem. Então, sim, o plot twist está ligado aos personagens e sua intenção na história, e isso é muito importante para esse livro.
Dependendo do tipo de livro que você está lendo, o plot twist pode ser apenas um detalhe na história, um livro vai muito além disso. Isso não significa que ele não seja importante. Isso também não significa que você não possa avaliar um livro como ruim por ter um plot twist que não te agradou. Leitura é uma experiência individual, sempre bom ter isso em mente. Ninguém precisa ser um crítico sempre.
Enfim, estou animada e triste para o terceiro livro, não queria acabar mas preciso entender o momento final. Esse foi o livro que mais tive dificuldade de extrair as coisas em uma primeira leitura, estava envolvida demais na proximidade dos protagonistas, a delicadeza das situações que eles interagiam, cada mudança de comportamento deles e entre diversas situações que me deixaram feliz. A Pacat está arrancando da escuridão sombria que essa trilogia iniciou e transformando em algo natural, belo, genuíno e lindo. Parece coisa de maluco, mas é o que aconteceu.