Victor 21/07/2020
A perfeição em forma de livro!
Quem gosta de história policial, mas quer fugir do tradicional, ou seja, Sherlock Holmes e Agatha Christie, faz bem em ler os livros do padreco. Chesterton foi um dos escritores mais brilhantes da sua geração e, tendo ela tantos escritores brilhantes, isso equivale dizer que foi um dos mais brilhantes de todos os tempos!
O Padre Brown, por outro lado, não é um detive, é um padreco do interior, com uma batina surrada e um jeito abobalhado que esconde uma profundidade intelectual imensa e uma inteligência ímpar! O padre Brown, com efeito, não busca solucionar crimes pela curiosidade intelectual, como Holmes, ou por ser um profissional da área, mas tem como único objetivo - e que nobre objetivo! - converter a alma do criminoso. Sim, o padreco quer tão somente entender o que leva o criminoso ao crime e ouvi-lo, conversar com ele.
Se pensa, porém, o leitor, que isto faz das coisas enfadonhas, se engana muito! É muito dinâmico e, por vezes, surpreendente! Às vezes o leitor, por si só, consegue adivinhar quem é o criminoso antes que o próprio autor o revele, e quase sempre há uma profunda reflexão sobre o motivo do crime e sobre o criminoso.
O padre Brown, por sua vez, por ser um religioso, não deixa de trazer, antes o traz com perfeição, a sua catolicidade para cada conto deste livro. Nada mais bonito que quando o padre diz que "a Igreja ama tanto a Razão que a elevou à divindade" (paráfrase minha). Nada mais bonito que a tristeza do padre ao narrar o que sabe sobre este ou aquele crime, em oposição à quase excitação que os detetives clássicos demonstram quando o fazem.
Desnecessário é dizer que Chesterton era fã de Sir Arthur Conan Doyle e de seu icônico personagem Sherlock Holmes, pois quem escreveria estórias policiais sem gostar, ao menos um tiquinho, deste excêntrico londrino? O padre Brown, porém, devo dizer, é outra ordem de livro. Não é um livro para pessoas comuns, pois, sendo sincero, exige mais que olhos para lê-lo, exige também, pelo menos um pouco, de coração.
Não conheço muitos que leram as histórias do padre Brown, mas com efeito não conheço ninguém que não goste delas! A Inocência deste padreco, como vemos logo no primeiro capítulo, está apenas em seus gestos, em suas roupas, em sua personalidade e em sua Fé (como deve ser, feito Fé de criança!). O título é, sem dúvidas, propício, mas nem um pouco revelador. Não creio, também, que haja alguém que leia os contos do padre Brown e continue lendo estórias policiais como antes.
Um padre detetive! O que é isto, senão perfeição?