Mumartins 10/07/2022
Uma leitura da sociedade brasileira
Por se tratar de um tema cotidiano, muitas vezes o conceito ou a conquista cidadania é tratada de forma simplista. O fato é que no Brasil nunca houve, e nem há, cidadania plena. Se ela é fundamental para a democracia, logo, nunca houve regime verdadeiramente democrático.
Ao escrever seu livro, José Murilo de Carvalho não recorre a simplismos ou generalizações, muito pelo contrário: o autor busca tratar das peculiaridades brasileiras na luta pela conquista de direitos sociais, políticos e civis. Na perspectiva do autor, o fato do povo brasileiro ter recebido como um “presente” do Estado Novo seus direitos sociais causaram no brasileiro a chamada estadania: a impressão de que os direitos não surgem da luta social, mas sim de uma dádiva concedida por um líder paternalista que governa o Estado.
Ao final do livro, o autor analisa a dita sociedade democrática pós 1988. Afirmando que o pleno gozo de todos os direitos só ocorrem com “doutores”, homens formados em nível superior, ganham no mínimo vinte salários mínimos e que possuem influência no legislativo, executivo e judiciário; também existem os ditos “cidadãos simples”: ganham entre dois e vinte salários mínimos, e dependem da boa vontade das autoridades para ter seus direitos assegurados; por último, o autor denuncia a existência dos elementos, assim chamados pelas forças policiais. Os “elementos” não possuem seus direitos validados e para eles o único código que vale é o penal.
O autor não termina seu livro deforma pessimista, mas sim realista: afirma que o Brasil não possui uma longa experiência democrática, tendo em vista que o seu primeiro período que pode ser considerado desta forma (1945-1964) foi interrompido por um golpe militar, e somente voltou a haver uma democracia frágil após, afirmado que é necessário que o Brasil vivencie a democracia durante um longo período de tempo, para que suas instituições e cidadãos amadureçam.