Carous 23/12/2020Grim Lovelies é uma história muito interessante com uma premissa incrível sobre magia e animais que me prendeu o suficiente para virar as páginas porque eu não sabia como ia terminar, mas estava ansiosa para saber (mas se tratando desse gênero, acabou que minhas suspeitas foram confirmadas. A grande maioria dos gêneros literários não preza por inovar a fórmula que conquistou seus leitores) Tudo isso apesar da protagonista extremamente sem graça. Todos os outros personagens do livro são muito mais interessantes do que ela.
É dito que ela é ingênua e boa, mas, a verdade é que lhe falta personalidade mesmo. Tudo bem que a mestre dela a tratava bem, por isso ela tinha uma visão distorcida sobre a relação entre as duas. Onde havia abuso, ela via amor. Porém bastava ela notar o tratamento de sua mestra com os outros monstrengos para começar a desconfiar que a bruxa não era essa fada sem defeitos como ela via. No decorrer do livro, quando ela retira o véu de inocência e vulnerabilidade, ela percebe que sua mestre não era boa, nem amorosa nem uma figura materna calorosa.
É irônico o medo dela em voltar a ser um animal - um período que ela não se lembra e o descreve como tudo sendo preto (o que achei bem dramático, btw) -, mas animais reconhecem abusos. Então talvez não fosse tão ruim assim retornar à forma natural.
É esquisito o pavor dela em voltar a ser um animal, achando que passará fome e perigo sendo que ela nem sabe de onde a mestre a tirou. Ela pode ter sido roubada de um lar amoroso.
O romance, como em todo YA, é desnecessário, mas pelo menos é entre os dois personagens mais sem graça do livro: a Anouk e o Bo. Os dois são igualmente insossos e sem personalidade. Inclusive, acho que foi isso que os atraiu um no outro. Mas é um romance estranho já que no início da história ela confessa que o enxerga como irmão; de repente ela muda de ideia, os dois dão uns amassos e ela passa a enxergá-lo como um pretendente. Não podia ficar mais claro que é um instalove. Apesar de achar que o casal combina (pela falta de graça), tudo foi meio incestual.
Em tempos de vacas magras, a gente agradece as migalhas que recebe. As minorias estão sempre implorando por representividade em filmes, séries, novelas e livros; Quando a gente esbarra com um autor que lembra que o mundo não é todo branco nem cis, nem hétero, nem magro, a gente destaca e elogia (pelo mínimo).
Apesar da protagonista ser, óbvio, branca, loira, padrão, um bibelô que encanta todo mundo e que recai nela a chave para a salvação dos monstrengos (embora ela seja uma poia). Ela deixará de ser aquela personagem frágil, inocente e será forte (isso tudo entre aspas porque ela continua patética)
Embora Anouk seja a personagem branca, há 3 personagens negros (embora não tenha certeza quanto à Madame Zola), tem 1 personagem gay e um transexual.
Eu não sou transexual, não sei se alguma pessoa trans leu esse livro, por isso ignoro se foi bem retratado. Embora, na minha opinião, a maneira como Megan apresenta essa personagem trans fica bem no limite entre ser o ideal e ser de mau gosto.
O personagem gay tinha muito potencial, mas a autora deu preferência ao desevolvimento de Anouk. A gente descobre a orientação sexual do personagem pouco antes dele cair no clichê do gay apaixonado pelo amigo hétero e que se sacrifica pelo grupo. Grim Lovelies é o primeiro de uma duologia, então há esperanças de que ele não tenha morrido de fato.
E por fim tem Luc, um personagem que quase não aparece, mas é citado por Anouk durante a trama toda. Os comentários dela sobre ele são simpáticos e demonstram uma grande lealdade que ele tem com ela.. Mas o leitor mais atento percebe que Luc cumpre o papel de preto mágico. E você consegue ticar todos os itens desse estereótipo. (de fato, tem uma cena em que ele fala pra Anouk que está sempre ali para servi-la e eu não sei como a autora não achou essa cena de mau gosto).
Tirando todos os deslizes, o livro é bom. Gostei dele, tem um texto gostoso de acompanhar, fácil de ler. Consegui me envolver com a história.
Eu fiquei satisfeita com as explicações sobre o sistema de magia. Isso raramente chama minha atenção, mas parece ser muito importante para outros leitores.
A maior surpresa que tive com esta leitura foi dar essa nota tão alta para um livro que tenho consciência de que não é perfeito, que fiz muitas críticas e que não me importei em 1% com a protagonista. Mas ele me entreteve bastante.
Não vou ler o segundo livro, estou satisfeita com a história e é isso.