Raquel 23/06/2021
O livro A forma da água é de autoria dos roteiristas Guillermo Del Toro e Daniel Krauss e tem um enredo muito semelhante ao filme, com os aprofundamentos que o formato escrito possibilita. A história se passa na década de 1960 e gira em torno da captura, na Amazônia, de uma criatura fantástica, uma espécie de homem anfíbio, com guelras e escamas, que é chamado de deus Brânquia e levado para a Occam, um centro de pesquisas nos Estados Unidos, a fim de ser estudado. O responsável pela captura é Richard Strickland, um detestável oficial do governo norte-americano muito cioso das suas obrigações para com o país, mas que vive atormentado pelas lembranças de tudo o que foi obrigado a fazer a fim de ocupar esse posto. Do outro lado, está Elisa Esposito, uma faxineira muda da Occam que tem uma inesperada e profunda interação com o deus Brânquia. Porém, o destino da criatura já está selado, o sacrifício e a dissecação, e Richard Strickland não mede esforços para que isso aconteça.
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✔É inevitável relacionar A forma da água com o conto de A bela e a fera, pelo fato de ambas as histórias versarem sobre a paixão entre uma mulher e uma criatura não humana. Entretanto, em A forma da água a mocinha está longe de ser uma princesa da Disney. Órfã, sem voz e sem perspectivas, Elisa cria uma intensa afinidade com o homem anfíbio, permitindo que pela primeira vez ela se sinta compreendida e amada. Por isso, quando percebe que o deus Brânquia corre risco de vida, tenta salvá-lo, contando com a ajuda de seus dois únicos amigos, Zelda e Giles. ✔Mesmo sendo uma missão arriscadíssima, é compreensível o motivo pelo qual Zelda e Giles se engajaram no resgate do homem anfíbio. Afinal, assim como Elisa, seus dois amigos têm vidas tão descartáveis quanto a da criatura: Zelda é apenas uma faxineira negra, colega de Elisa na Occam, e Giles é um artista homossexual idoso. Não havia lugar para nenhum deles na pujante sociedade norte-americana da década de 1960. Então, a identificação ao deus Brânquia que tragou Elisa também atingiu seus amigos, ainda que no caso deles tenha sido de forma indireta e através da moça. Além do romance puro e bonito entre a mulher muda e o anfíbio, outro elemento que me emocionou bastante foi a parceria envolvendo Elisa, Zelda e Giles, e como todos foram capazes de compreender a urgência de salvar a criatura, como se estivessem salvando a si mesmos. Assim, A forma da água não é apenas uma comovente história de amor, mas também de amizade, lealdade e união.
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✔A versão escrita de A forma da água tem elementos que tornam a história ainda mais interessante que no filme. No livro, os capítulos são narrados do ponto de vista dos personagens principais, e até a esposa de Richard Strickland ganha importância. Lainie Strickland é uma típica dona de casa norte-americana, que se vê em crise nesse papel e começa a buscar alternativas. Assim, há várias críticas à sociedade estadunidense através dos personagens: o lugar da mulher (Lainie), do homossexual, do artista, do idoso (Giles), dos negros (Zelda), e as consequências psicológicas que os deveres patrióticos impuseram a soldados em nome do American Way of Life (Richard). Eu recomendo fortemente as duas versões da obra: o premiado filme e o riquíssimo livro.
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