Fire and Fury

Fire and Fury Michael Wolff




Resenhas - Fire and Fury


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Cheiro de Livro 10/01/2018

Fogo e Fúria
É o livro mais explosivo do ano. Ou não. Michael Wolff promete expor os bastidores da Casa Branca de Donald Trump. O Presidente ameaçou tentar proibir, os advogados mandaram cartas, mas a editora Macmillan/Henry Holt & Co. não caiu no blefe. Pagou pra ver e antecipou o lançamento. Trump e seus assessores dizem que é fantasia. Wolff diz ter gravações e anotações que comprovam (quase) tudo o que escreveu. Quem está falando a verdade?

O retrospecto não é favorável ao empresário-presidente. Um levantamento do Washington Post (que faz oposição ferrenha a Trump) encontrou 1.945 inverdades ditas por Trump nos primeiros 347 dias de presidência. Dá mais de 5 mentiras por dia. Já o jornalista – especializado em cobrir o setor de mídia – se defende. Na introdução, explica que confiou nos relatos que colheu de pessoas próximas a Trump. Admite que ouviu versões conflitantes, mas diz que na maior parte dos casos, teve mais de uma testemunha corroborando a versão que resolveu publicar.

Logo de cara, chama a atenção a afirmação de que ninguém acreditava que Trump pudesse ganhar a eleição – nem o próprio candidato. Assessores, consultores – todos já pensavam em como o trabalho na campanha iria alavancar as carreiras de cada um. Trump, segundo Wolff, achava que ia sair como “campeão moral”, um mártir derrotado pela “desonesta” Hillary Clinton.

Steve Bannon, o ex-estrategista-chefe de Trump, é descrito como um picareta, um aproveitador que ao longo da carreira sempre lucrou com situações litigiosas. De certa maneira, é Bannon, mais do que o próprio Trump, o personagem principal.

No mais, a narrativa de Wolff não surpreende tanto quem acompanha diariamente a política americana. New York Times, Washington Post, CNN – todas “Fake News”, notícias falsas, segundo Trump – já descreveram os mandos, desmandos e desentendimentos na equipe de Trump. O que Wolff faz é contar muito bem essa história, numa narrativa envolvente.

O grande problema é a falta de credibilidade das fontes de Wolff. A equipe de Trump é um saco de gatos, um esfaqueando os outros pelas costas, todos se estapeando pra cair nas boas graças de um presidente altamente volúvel e despreparado. Fica claro que são essas pessoas que alimentaram o jornalista, o que dá a impressão de que muitos desses relatos podem não passar de fofoca, de parte do jogo para derrubar os rivais.

Por outro lado, esse caos contribui pro livro. Fica difícil rebater as versões apresentadas por Wolff. Por mais que Trump e cia reclamem, até agora só apontaram um erro mais grave: quando Wolff diz que Trump não sabia quem era John Boehner, então Presidente da Câmara. Trump já havia jogado golfe com Boehner, e mencionado ele várias vezes no Twitter. Fora isso, não conseguiram refutar muita coisa…

Como é o caso de muitos livros de política, ainda mais no caso de uma presidência ainda em curso, o leitor provavelmente vai terminar reforçando as convicções que já tem. Quem acha que Trump é um fanfarrão despreparado, vai encontrar aqui ampla comprovação. Mas quem acredita que Trump é perseguido pela imprensa liberal, alinhada com os políticos tradicionais, também vai encontrar aqui argumentos para a tese. Difícil é sair neutro.

site: http://cheirodelivro.com/fogo-e-furia/
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Knuttz 17/01/2018

Se 10% de Fire and Fury for verdade, já seria um livro assustador
Fire e Fury é um livro eletrizante. A narrativa de Michael Wolff é fluída e prende o leitor como prenderia uma ficção bem escrita – por vezes pedante, mas bem escrita –, o detalhe é que em tese não se trata de um ficção.

Por que ‘em tese’?

Porque tudo no livro é demais.

Detalhes demais, aspas demais, atores estúpidos demais, fofocas demais.

Na realidade a única coisa que me impede de chamar o livro de mentiroso, é o fato de que em sua gênese está uma demonstração absurda de amadorismo* por parte da administração Trump: como alguém pode deixar que um jornalista fique zanzando em um dos complexos de escritórios mais importantes do mundo – a Ala Oeste da Casa Branca, onde está o escritório do Presidente –, sem nenhum acerto prévio sobre o escopo de sua atuação ali?

Wolff, que havia feito no passado uma matéria que agradou Trump, disse ao novo presidente que gostaria de ser ‘uma mosca na parede da Casa Branca’, para escrever um livro sobre ele, mas não obteve uma resposta. Falou com Bannon – pintado no livro como o ‘Rasputin’ trumpista –, sobre a mesma coisa, mas igualmente não obteve resposta.

Mesmo sem uma autorização oficial, Wolff continuou voltando à Casa Branca, e por agir como quem tinha acesso pleno à Ala Oeste, passou a tê-lo, fez-se conhecer, e conversou com diversos membros da equipe presidencial, acumulando, alegadamente, mais de duzentas entrevistas, que expôs de forma quase pornográfica – por vezes deixando uma sensação de “como alguém diz isto a um jornalista??” –, nas páginas de Fire and Fury.

Desde a equipe presidencial que planejou o que fazer ao perder a eleição, mas não tinha a menor noção do que fazer ao ganhar, até ações do presidente que se traduzem em obstrução de justiça, passando, entre outros, pela alegação de que pelo menos cem casos de abuso sexual foram negociados por advogados de Trump, você encontrará de tudo neste circo de horrores.

Aliás, se apenas 5% do livro for verdade, já seria algo assustador.

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* uma das demonstrações de amadorismo, segundo comentário de alguns jornalistas, é que muitos dos atores, por inexperiência, não sabiam que conversas que não sejam explicitamente denominadas como ‘off record’ (que não podem ser creditadas à fonte), são automaticamente consideradas ‘on record’.
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lemke 22/01/2018

O que há por trás da máquina?
Fire and Fury está sendo acusado de ser um livro de fofocas, e talvez seja, mas é importante entender em qual sentido. O livro, ao contrário do que muitos imaginaram (eu incluso), não é uma coletânea de anedotas maldosas sobre Trump. Muito pelo contrário. O autor busca mapear as intrigas internas da Casa Branca para influenciar as decisões do governo americano, e não fala muito sobre as idiossincrasias do presidente.

O aspecto "fofoca" está no fato de que nem todas as informações do livro são verificáveis. Isso, porém, não chega a ser um problema tão grande.

O leitor precisa encarar o livro como se fosse metade jornalismo, metade fanfic. Nem tudo o que está ali deve ser real, mas representa com clareza os conluios entre as três diferentes facções que dominaram o governo americano no primeiro ano de Trump na presidência.

Entrando no enredo, temos os três grupos, e seus objetivos:

o liderado por Bannon, representante da alt-right, editor do site de jornalismo ruim Breitbart, quer isolar os Estados Unidos, expulsar os imigrantes e, basicamente, criar um modelo americano de fascismo;

o liderado por Ivanka Trump, filha do presidente, e seu marido Jared Kushner não tem interesses necessariamente políticos, mas econômicos. Querem garantir os próprios negócios e se safar dos erros que cometeram;

e, por último, o grupo liderado por Priebus, chefe de gabinete da casa branca, que defende os interesses dos grupos republicanos tradicionais, que querem apenas que Trump mantenha o status quo.

Essas pessoas dominam a narrativa muito mais do que Trump, que aparece como um líder fraco e influenciável, que apenas repete o que foi dito pela última pessoa com quem conversou.

O livro não explica algumas questões que iriam além desses conluios. Por exemplo, em dado momento Anthony Scaramucci, Diretor de Comunicações da Casa Branca por dez dias, fica aborrecido que documentos pessoais seus vazaram, mas não é mostrado ao leitor o que havia de preocupante nesses documentos.

É uma boa leitura para quem quer entender o aspecto mais politiqueiro da Casa Branca, e ajuda a entender algumas tomadas de decisões estranham por parte de Trump (por exemplo, o ataque americano na Síria), mas o leitor sempre precisa cuidar com exageros ou, que sabe, mentiras do autor
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