spoiler visualizarGabriel1994 21/02/2019
O autor do livro ?As Primeiras Civilizações? é Jaime Pinsky, um atual historiador e editor brasileiro de 79 anos que completou sua pós-graduação e doutorado na USP, além de também ter sido professor nas faculdades Unesp, USP e Unicamp. Entende-se que o princípio para o escritor estudar e escrever uma obra acerca da antiguidade foi o desejo de tornar contemporânea tal história, trazendo-as para o presente sem torná-las anacrônicas, pois, segundo ele: ?p.1661 [...] isso não tem a ver com o período estudado, mas com o olhar que a ele se lança.?, ou seja, seu intuito é explicar, atualmente, as ações passadas para se ter novas e diferentes visões do mundo presente e futuro.
O livro é, em resumo, uma ótima desconstrução do estereótipo generalizado que a atualidade tem das primeiras civilizações, tanto por meio da explicação dos reais fatos e importâncias que tais acontecimentos carregam quanto pela opinião e conhecimento do autor, que de introdução não erra ao preferir explicar que a ideia de civilização tratada na obra não se limita ao ideal de evolução ?tecnológica ou econômica- das comunidades, mas sim de todas as transformações culturais entre os povos. Ademais, além de Pinsky tratar de tais episódios principalmente por meio da chamada história social, existente apenas entre os humanos -já que a partir do momento em que o homem começou a criar, transmitir e difundir culturas, ele saiu da simples condição de integrante do reino animal e da história natural-, ele também escreve que ?p.163 Neste livro, em vez de apresentar verdades prontas e acabadas, queremos propor problemas a serem debatidos e pesquisados com mais profundidade [...]?, uma ótima forma de tentar não deixar o leitor levar o conteúdo do livro como verdade absoluta, mas sim como mais uma forma de conhecimento e debate.
Assim, apresentada as referidas explicações, o surgimento das primeiras civilizações começa a ser discutido por meio da questão da ?aventura humana?, a ação do grupo Homo erectus de abandonar suas origens e iniciar a ocupação do planeta. Pinsky interessantemente acredita que, além das condições objetivas para tal ação, o espírito de aventura humano foi essencial para esse risco não devidamente calculado, assim tendo a própria ?humanização do homem? ocorrendo em conjunto à formação das tribos e das diferenciações entre os caçadores e coletores e os criadores e agricultores, caracterizações também muito bem dialogadas, já que são apresentadas ideias pertinentes, como ?p.548 O que não se pode é, simplesmente, atribuir ao ?primitivismo? de um grupo, a seu caráter de ?pré-civilizado?, a não ocorrência de passagem de coletor a agricultor.?, ou seja, a transformação ao sedentarismo de alguns grupos humanos não os torna mais ou menos civilizados. Em continuidade, passando pela Revolução Agrícola ?que se tornou quase irresistível às comunidades- e sua consequente paulatina fixação do homem ao solo e da destruição de existências anteriores, Jaimes explica as diferenças das culturas neolíticas providas das diversas disponibilidades naturais e finalmente chega à criação das cidades pelo homem. Seguindo tal linha de raciocínio, três grandes civilizações -que segundo o autor surgiram a partir da necessidade de sobrevivência- são citadas, analisadas e comparadas de forma lógica e eficiente: primeiramente, a Mesopotâmia que, entre os rios Tigre e Eufrates, desenvolveu diversos aspectos únicos e transformados, como a força de trabalho organizada, reis, grandes templos e consequentemente a evolução da forma de transmissão do ?novo e complexo? conhecimento. Em seguida, a civilização do Nilo, que estando no Egito, cresce com o trabalho organizado a partir da atuação do homem em condições geográficas favoráveis ?dado por eles como uma dádiva do etéreo-, mantendo tanto uma preocupação enorme com a unidade, com a religião politeísta e com os faraós quanto aspectos originais, como a edificação das construções monumentais e a unidade de reino. Por fim, os hebreus são o último tema em que o autor se centra, comentando que, apesar de não serem tão antigos quanto as outras duas e de terem criado sua grande civilização quase sem Estado, ela é uma ponte entre as civilizações do Oriente Próximo e da ocidental, ou seja, por meio deles que foi possível o ocidente atual ter o conhecimento, entre outros, cultural e cientifico.
Em conclusão, o livro de Jaime Pinsky é uma ótima e recompensadora forma de estudar diferentes pontos de um tema pouco explanado: o surgimento das civilizações. Apesar de pouca partes maçantes, o historiador consegue, de um modo ?quase totalmente- simples, fluído e compacto, expor fatos verídicos fundidos com sua opinião e imaginação, usufruindo de diversas imagens que auxiliam a imersão e de citações de diferentes obras que formam uma grande bibliografia chamativa para, por toda a experiência, passar ao leitor uma incomum maneira de compreender melhor os primeiros grupamentos humanos.
Ps: as referências de páginas são da versão Kindle.