Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias

Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias Franz Kafka




Resenhas - Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Anderson673 31/10/2022

3/5
É uma coletânea com alguns contos muito bons e algumas histórias inacabadas. Não foi uma leitura fácil, na verdade, não gostei da maioria dos contos. A maneira que Kafka utiliza a linguagem fez eu me sentir como se estivesse numa fila de banco que não acabava nunca e eu nem sei o porquê estou lá. Porém, não da para descartar que alguns dos contos possuem uma base filosófica que faz o leitor questionar a si mesmo enquanto experiencia o texto. O melhor texto dessa leitura foi "O artista da fome", esse mexeu bastante comigo. Não dá para dizer que saí daqui fã dele, mas ainda tenho interesse de ler suas principais obras. Até porque a parte mais interessante do livro, para mim, foram os textos que traziam informações biográficas dele.
comentários(0)comente



willian.coelho. 10/12/2021

Antologia de contos do Kafka bastante competente
        "Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias" é uma antologia de contos (e uma peça, a única escrita pelo autor) do austro-húngaro Franz Kafka - traduzida diretamente do alemão por Marcelo Backes e publicada pela editora Civilização Brasileira. Como tudo em Kafka, os mais de trinta textos têm caráter demasiadamente metafórico, transitando entre fantasia e onirismo e projetando os ecos das experiências internas vividas pelo escritor. São trabalhados a culpa, o desdém, o medo, o poder, a insegurança, etc, vinculados, na realidade, à figura paterna, às mulheres com quem se envolveu, ao processo de adoecimento por tuberculose (num momento prévio ao advento da penicilina, em 1928). Tudo indica que Kafka era um homem atormentado por seus pensamentos: o tipo de pessoa que rememora os eventos infindáveis vezes, enquanto os racionaliza ou os ressubmete a julgamentos.
        São narrativas curtas, nauseantes e difíceis, especialmente as menores; é, portanto, válido citar que faz bem às obras um desenvolvimento maior. Franz tem ótimos textos mais longos (cabe destacar "O processo", um livro grande, com tudo o que há de melhor no termo "kafkiano"); os curtos, todavia, são concomitantemente inebriantes e sintéticos demais, de modo que o leitor, às vezes, não consegue se situar no fluxo de raciocínio. Para tornar a tarefa um pouco mais árdua, os períodos são intermináveis, com inúmeros termos intercalados e relações de coordenação e subordinação (mistos); há uma predileção pelo ponto e vírgula em vez de findar os segmentos. Quanto ao emprego de vocábulos, não há rebuscamento, é até simplório, se comparar esse aspecto com os supracitados. O posfácio do Marcelo Backes é deveras satisfatório (extenso, com certo detalhamento e informações extras): traz uma visão geral da vida e obra de Kafka, suas inspirações, como a literatura se transformou depois do autor e, principalmente, sua visão crítica sobre cada conto. Seria excelente se as reflexões ficassem ao fim de cada conto, uma vez que é interessante vislumbrar a percepção de outro ser humano, sabendo que certamente possui mais domínio sobre o autor (traduziu o mesmo). Dito isso, fica a curiosidade de o porquê Kafka ser tão vendável no Brasil, parece contraditório: um povo que lê pouco e, quando o faz, busca enredos lineares e acessíveis.
comentários(0)comente



Mr. Brownstone 20/06/2021

Não tenho muito oque dizer sobre Kafka. Seus contos são incríveis. Meus favoritos até agora foram "Um médico rural","Chacais e árabes"e"O cavaleiro do balde".
Essa edição é a que possui mais contos no Brasil, apesar de não ser todos. Recomendo obter também a coletânea "Narrativas do espólio" da Companhia das letras.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



jota 18/12/2018

Blumfeld e os outros: kafkianos demais
Marcelo Backes, conhecido especialista em literatura alemã, é o responsável pela organização e tradução dos 36 textos que compõem esse volume, alguns deles inéditos em português. Ele também escreveu o longo posfácio da coletânea, quase um ensaio, na verdade. Para Backes, Franz Kafka (1883-1924) "registrou da maneira mais precisa e profunda um modo diferente de ver o mundo." Assim é que aplicamos o adjetivo "kafkiano" para designar situações da realidade que muitas vezes superam as da ficção.

Os personagens dos 35 contos e da peça O Guarda da Cripta, sejam eles o que forem, humanos ou não, exibem um enorme sentimento de inadequação ao mundo, tal como o sentia Kafka. Todos, nas palavras de Backes, "(...) são vítimas de um enigma indissolúvel: o da própria vida num mundo que não faz sentido." Mas se algum texto não fizer sentido para o leitor (é provável que mais do que um não faça), ele não deve se preocupar: Backes esclarece tudo (ou quase tudo) no citado posfácio, excelente.

O renomado tradutor vai além do que esperávamos: faz uma análise daquilo que chama de os "quatro pilares" da obra de Kafka: A Metamorfose, Carta ao Pai, O Processo e O Castelo. Depois de lê-la você chega à conclusão de que, por mais estranho que o mundo, as histórias de Kafka pareçam, esse era o mundo dele, de fato. Há muito da vida do autor tcheco em sua estranha, original literatura, conforme comprova a análise de Marcelo Backes.

Ler em sequência mais de 300 páginas de puro Kafka, uma overdose literária, não me parece uma boa ideia, especialmente se nunca se leu nada dele antes. Mesmo não sendo meu caso, penso que ao final de Blumfeld, o Solteirão de Mais Idade e Outras Histórias, apreciei mais os textos de outra coletânea, da Penguin-Companhia, com tradução, seleção e comentários de Modesto Carone: Franz Kafka – Essencial (2010), onde as coisas, se eram estranhas, não eram tanto como são aqui.

Lido entre 10 e 17/12/2018. Minha avaliação: 3 pelas histórias selecionadas, 5 pelo posfácio bastante esclarecedor.
comentários(0)comente



Alexandre Kovacs / Mundo de K 16/04/2018

Franz Kafka - Blumfeld, um solteirão de mais idade e outras histórias
Editora Civilização Brasileira - 336 Páginas - Organização, Tradução e Posfácio de Marcelo Backes (Lançamento: 29/01/2018).

Talvez a obra de Franz Kafka (1883-1924) tenha sido a mais influente do século XX e seu legado literário, repleto de simbolismos e significados, em livros como: "A Metamorfose" (1915), "O Processo" (1925, póstumo) e "O Castelo" (1926, póstumo), ainda permanece relevante como representação da angústia do homem contemporâneo diante do absurdo de um mundo sem sentido. O autor, que morreu aos quarenta anos, não presenciou o reconhecimento pela importância do seu trabalho, tendo a maior parte de seus textos publicada postumamente pelo amigo Max Brod, que ignorou o desejo de Kafka de ter os seus manuscritos destruídos após a morte.

A seleção dos 35 contos desta antologia, acrescida de um drama inédito no Brasil, "O Guarda da Cripta", feita pelo tradutor e escritor Marcelo Backes, foi norteada pela sua tese de que os diferentes heróis de Kafka são sempre os mesmos e compartilham características muito comuns ao autor tais como: a solidão provocada pela inadequação ao mundo e as exigências de uma sociedade com a qual ele não se identifica, o conceito de culpa e punição, a opressão vinda de um poder que simboliza as consequências dos erros de uma educação dominadora recebida do pai, enfim uma série de elementos que se repetem não somente nos contos selecionados aqui, mas também em toda a obra de Kafka.

No brilhante posfácio que acompanha esta edição, praticamente um livro dentro do livro, Marcelo Backes desenvolve a sua tese com muitos exemplos, assim como uma visão geral da biografia e da bibliografia de Kafka, a grande ironia de "um autor 'fracassado' que veio a se tornar um dos maiores escritores do século XX." Backes apresenta algumas possíveis interpretações (entre tantas outras) para os contos desta antologia, utilizando comparações entre os próprios contos, que nos ajudam a compreender os simbolismos ocultos nas diferentes camadas do texto e que, de outra forma, poderiam passar despercebidos, principalmente para o leitor iniciante no universo kafkiano.

Um exemplo das características recorrentes do autor na sua obra, está presente no conto que empresta o título a esta antologia e que tem no seu protagonista, o solteirão Blumfeld, um elemento muito familiar ao próprio Kafka, ele também um solteirão inveterado que não conseguiu concluir quatro noivados, preferindo viver sozinho. Contudo, existem outros elementos indiretos ainda mais importantes neste conto, como a sua frustrante e opressiva atividade profissional (muito semelhante ao Gregor Samsa de "A Metamorfose"), suas neuroses e obsessões na vida privada. A solidão que faz com que Blumfeld pense em adquirir um cachorrinho para lhe fazer companhia, até que desiste ponderando sobre as vantagens e desvantagens. O absurdo acontece uma noite, ao retornar do trabalho, quando encontra em seu quarto duas esferas saltitantes que insistem em acompanhá-lo. Como sempre, não é o absurdo da situação que surpreende, mas sim a "impressão desagradável" que "aquelas duas bolas estranhas" provoca no protagonista que busca uma forma de se livrar delas.

"Até então, Blumfeld, em todos os casos de exceção em que sua força não se mostrou suficiente para dominar uma situação, lançou mão do auxílio de fazer de conta que não percebia nada. Isso muitas vezes ajudou, e na maior parte dos casos melhorou suas condições, pelo menos. Portanto, também agora ele decide se comportar desse jeito, está em pé diante da armação de cachimbos, escolhe, de lábios entreabertos, um deles, enche-o de modo especialmente minucioso com o tabaco do saquinho à mão e, deixa as bolas darem seus saltos atrás dele sem se importar. Só titubeia em ir até a mesa, mas ouvir o ritmo sincronizado dos saltos e de seus próprios passos quase lhe causa dor. De modo que fica parado, enche o cachimbo por um tempo desnecessariamente longo, e examina a distância que o separa da mesa. Por fim supera sua fraqueza e vence o trecho pisando tão duro que nem sequer ouve as bolas. Quando já está sentado, contudo, elas voltam a saltar do mesmo modo perfeitamente audível de antes, atrás de sua cadeira." (Pág. 11)

Conto surpreendente que dá margem a muitas interpretações, "Investigações de um cão" tem um protagonista que não é humano, mas sim um cão que questiona a origem dos alimentos, acreditando que esta origem esteja vinculada à "irrigação do solo", na verdade o ato de urinar. O curioso neste texto é o fato do cão protagonista buscar inúmeras teorias ao longo de sua existência para explicar o fenômeno sem citar em nenhum momento o elemento humano, ausente em toda a narrativa. Ao avaliar apenas os efeitos da ação humana em seu cotidiano, desprezando a causa principal da obtenção do alimento, o cão chega a conclusões erradas. Neste momento, somos levados a uma possível e irresistível comparação com o não reconhecimento de um "deus" pelos homens. Segundo Backes nos informa no posfácio, Max Brod, que não era ateu, interpreta este conto como uma "travestia melancólica do ateísmo".

Em "O artista da fome", publicado originalmente em um jornal alemão em 1922 e também em uma coletânea de mesmo título lançada no Brasil, a ironia amarga de Kafka chega a seu ponto mais elevado quando ele imagina, antecipando um "reality show" moderno, espectadores presenciando durante dias, sentados em frente à uma pequena jaula sem grades, a performance de um artista que se limita a jejuar por 40 dias O desinteresse gradativo neste tipo de espetáculo, no entanto, faz com que o artista tenha um final de carreira deprimente. Uma triste alegoria sobre o comprometimento do artista com o seu trabalho e a relação com o púbico.

"O foguista", publicado originalmente em 1913 e incluído posteriormente por Max Brod como o primeiro capítulo do romance inacabado "América", é uma narrativa menos sombria e poderia até mesmo, em uma leitura menos atenta, ser comparado com o estilo de um romance de aventuras do século XIX. O adolescente Karl Rossmann é obrigado pelos pais a fugir para os Estados Unidos após ter engravidado uma criada, na chegada ao porto de Nova York acaba perdendo a sua bagagem e conhecendo um problemático foguista do navio ao qual tenta ajudar de todas as formas, participando de uma espécie de julgamento. Em uma reviravolta da trama, quase chegamos a um final feliz quando o adolescente conhece o seu tio senador que vivia nos Estados Unidos.

Sempre achei que existem poucas homenagens mais importantes para um autor do que ter o próprio nome transformado em adjetivo pela importância e característica de sua obra, mesmo que este adjetivo tenha sido imortalizado como designação para situações irreais e pesadelos. Quem sabe está justamente aí o motivo para a atualidade da obra do autor que não viveu para constatar a brutalidade dos eventos da Segunda Grande Guerra, e de como a sua "ficção" acabou, de certa forma, profetizando o absurdo das detenções sem motivo, perseguições e extermínio em massa do regime nazista. Hoje, infelizmente, vivemos em um mundo cada vez mais kafkiano, bastando assistir aos noticiários para confirmar como a realidade é sempre mais surpreendente do que a ficção.
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR