Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018InterferênciasEsse foi o meu primeiro contato com a escrita da autora e, mesmo não sendo um gênero que eu costumo ler, eu já adentrei essa história sabendo que a pegada era de chick lit, mesmo com o background de ficção científica. Por isso, estava esperando algo leve e divertido, como é a promessa central do livro e, infelizmente, não foi bem isso que eu encontrei.
Por mais que tenha uma linguagem e acontecimentos leves, o cenário de ficção científica acaba tendo mais espaço do que eu imaginei, mas não de uma forma positiva. As coisas apresentadas não se sustentam completamente dentro o gênero, o que, aliado uma narrativa truncada e lenta, não contribuiu para uma experiência legal. O livro é cheio de diálogos, e nem isso serviu para amenizar o ritmo da história. Parecia que eu lia, lia e lia e, além de não encontrar nada muito especial, também não saia do lugar.
Briddey é uma personagem completamente passiva. Tudo que se move ao seu redor é em função de sua família, que é insuportável, ou dos dois homens que vão estar na sua vida. Ela praticamente não tem personalidade e essa não é, de forma alguma, uma jornada de auto conhecimento, apesar de em alguns aspectos a autora desejar que fosse essa a interpretação. Não é como se a protagonista chegasse ao fim do livro mais evoluída, ela termina exatamente igual, só com mais coisas para contar.
Temos aqui um relacionamento que não passa nenhum sentimento e, em função disso, credibilidade. Em nenhum momento eu acreditei que os dois tinham uma relação que realmente validasse o tal procedimento e isso, consequentemente, já me deixou com a pulga atrás da orelha. Ai, conforme as novas cartas vão sendo posicionadas é muito mais fácil torcer pra pessoa número dois, não há nem o que questionar.
“Por que toda frase que começa com ‘precisamos conversar’ acaba mal”.
Em se tratando da família, é claramente uma relação invasiva e abusiva. Todo mundo se mete na vida dela, a TODO MOMENTO, em todos os lugares. Membros da família aparecem no trabalho, invadem a casa, ficam ligando, cobrando presença, dando palpites na vida dela, é simplesmente sufocante. E, por mais que ela questione um pouco isso, não parece realmente incomodá-la, já que não faz absolutamente nada com isso. Aliás, nem sequer a autora faz algo com isso. Não há reflexão nenhuma, resolução, evolução. É só algo jogado no meio da história, e que para mim pelo menos, só serviu pra me irritar ainda mais.
O problema de uma trama assim é que além de termos uma protagonista feminina, que é inteligente e teria tudo para se desenvolver, enfrentar os problemas e se impor sobre as situações, também temos uma autora mulher, que deveria perceber e usar essas situações como forma de trazer alguma mensagem legal, ao invés de tornar a personagem completamente passiva e manipulada em cada passo do livro ou pela família ou pelos dois homens.
Preciso mencionar também que o plot é bastante fácil de sacar. Na página 20 eu já tinha uma teoria sobre o que seria o “grande tcharam” da história e, até bem perto do fim, fiquei esperando que algo acontecesse pra sobrepor isso e me surpreender. O problema é que isso não acontece. E em um livro que tem 460 páginas você descobrir tudo em 5% não é algo muito legal. E ai, quando juntamos a proposta revelada, a parte de ficção científica e as explicações “lógicas/históricas” que a autora traz, acabamos entrando em uma parte que parece não ter pé nem cabeça, beirando, como eu mencionei, muito mais a fantasia do que o elo sci-fi.
Porém, se tem algo bacana que podemos tirar dessa história é a crítica estilo Black Mirror que temos aqui. O quanto nós estamos dispostos a revelar da nossa vida? Até onde pode ir a tecnologia? E, em que momento, vamos ter nossa privacidade completamente colocada de lado para dar lugar a esses avanços? São questionamentos que ainda que estejamos tão evoluídos como a proposta do livro, já podemos refletir dentro da nossa realidade de redes sociais e digital influencers que ganham a vida compartilhando tudo sobre ela. Onde é o limite que divide o aceitável do invasivo? Afinal, é aquela velha história, quanto mais tempos, mais queremos.
Então, o que digo a vocês é que entrei aqui esperando um livro leve e divertido para dar boas risadas, porém o que encontrei foi uma avalanche de coisas que não me agradaram e ainda me deixaram cada vez mais irritada com todo o desenvolvimento. Pra mim, a única coisa que salva esse livro é C. B. um técnico da Commspan que todo mundo acha que é meio maluco, mas que traz para o leitor as melhores referências e os melhores momentos também.
Eu ainda quero ler O Livro do Juízo Final da mesma autora, que saiu em 2017, porém, mesmo sabem que é uma pegada bem diferente, confesso que já baixei um pouco as expectativas e vou menos empolgada.
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