Queria Estar Lendo 31/03/2018
Resenha: A Verdade Sobre Amores e Duques
A verdade sobre amores e duques é o primeiro livro que leio da autora Laura Lee Guhrke, e o recebi de cortesia da editora Harlequin. Com a premissa de um romance arrebatador e uma protagonista que lute pelos seus direitos como mulher e da classe operária, o livro não cumpre suas promessas. Poderia ter sido ótimo, mas foi apenas bom.
Irene Deverill é a orgulhosa editora do Society Snippets, o jornal por ela criado e do qual tira o sustento de sua irmã mais nova e do pai alcoólatra. Graças ao seu talento e tino para negócios o folhetim têm ganho cada vez mais leitores, e suas principais fontes de sucesso são a sessão as mais tórridas fofocas sobre os nobres ingleses e a coluna de aconselhamentos amorosos de Lady Truelove. A conselheira fictícia, encarada por Irene, está sempre pronta para ouvir os corações aflitos e instigá-los a viver seu amor.
"(...) e o visto por quem ele era: um homem que um dia quisera uma mulher tão desesperadoramente e com tanta paixão que jogara para o alto todo o resto de seu mundo apenas para tê-la, com resultados catastróficos."
Quem não está nem um pouco feliz com os conselhos de Lady Truelove, por sua vez, é o Duque de Torquil. Devido a um aconselhamento da jornalista sua mãe, a duquesa, decidiu que iria fugir de casa para se casar com um pintor italiano quase vinte anos mais jovem. Mas Torquil não poderia permitir que isso acontecesse, Henry precisava dissuadir sua mãe e preservar a honra da família, e para isso resolveu que ninguém melhor do que a própria Lady Truelove para mudar a ideia da duquesa. Afinal, fora o conselho dela que deu início a toda aquela confusão.
É com esse antagonismo inicial que se dá inicio a relação entre os dois protagonistas, Irene defendendo seu jornal e o direito da duquesa de tomar suas próprias decisões e viver o seu amor, e a luta de Henry para salvar a família de um escândalo e proteger sua mãe de um provável salafrário. O universo dos dois personagens não poderia ser mais distinto; ele um nobre respeitado e que aprecia as tradições e regras da sociedade, que se orgulha da sua posição e dos benefícios que ela trás, e ela uma sufragista, que luta pelo direito das mulheres e da classe trabalhadora, que se orgulha de seu emprego e do que conquistou com ele, e que tem um desprezo pela nobreza e a maneira como eles veem o mundo.
"A despeito do atrevimento daquele último comentário, o ressentimento de Irene era palpável, e Henry se perguntou se, além de ser mascate de jornais, sufragista e solteirona, ela também era marxista."
Mas como o próprio Duque deixa claro para Irene desde o começo, ele é homem, nobre e poderoso, e fará de tudo para que sua vontade seja realizada. Desta maneira, devido a uma jogada realizada por Torquil, Irene acaba se vendo entre a cruz e a espada: ela convence a duquesa a desistir do casamento ou irá perder seu jornal. E é assim que a srta. Deverill acaba se encontrando com a missão de morar duas semanas debaixo do mesmo teto que Torquil, enquanto tenta achar uma maneira de se livrar de toda essa situação.
"Estar na presença do duque já era algo complicado quando ele era difícil. Quando era amável, era devastador."
O que o Duque não podia prever, no entanto, é que a beleza de Irene acrescida de sua personalidade forte e atrevida iriam despertar sensações e sentimentos que ele pensava há muito já ter superado. Estar sob o mesmo teto da srta. Deverill acabou se provando uma tarefa mais árdua do que ele imaginava, e talvez ao fim daquelas duas semanas o casamento de sua mãe com o italiano acabasse sendo o menor de seus problemas. Porque com o desejo que ele sentia pela jornalista, era capaz de ser ele a acabar com a honra da família. Ou pior, com a honra de Irene.
A verdade sobre amores e duques tem tudo o que um romance de época precisa ter para ser bom, mas pecou em suas falhas. A narrativa muito direta e fria da autora deixou a desejar logo nos capítulos inicias. Talvez possa ser uma questão de tradução, não tenho como afirmar, mas falta algo que prenda e mergulhe o leitor na história. Quanto aos personagens, eis aqui minhas razões de ódio e regojizo.
"- Eu pretendo marchar nas ruas e lutar pelo voto feminino sempre que tiver a chance - respondeu Irene. - Mas, no momento, administrar o jornal toma todo o meu tempo."
Irene tinha absolutamente todas as qualidades para ser uma das minhas protagonistas preferidas, a maneira como foi apresentada, as causas as quais defendia e o papel significativo que exercia na história tinham tudo para fazer dela o meu mais novo amor. Infelizmente a autora falhou comigo e com Irene. O decorrer da história trouxe reflexões e mudanças que não condiziam com a personagem apresentada, e mais uma vez vemos uma mulher forte e extraordinária fazer concessões por causa de um homem. Não é errado mudar de opinião, ou ceder em algo, mas neste caso em particular também não acredito que fosse certo, que fosse necessário.
"Não esconderei minha situação como se tivesse vergonha para forçar uma relação com alguém que nunca demonstrou uma gota de consideração comigo. Não farei isso nem para elevar minha amada irmã a um novo patamar de vida. E não o farei porque o senhor está exigindo."
Torquil, por sua vez, foi o perfeito nobre cheio de si e que me fez querer esfregar a cara dele no asfalto tão logo apareceu. Surpreendentemente, isso não é algo muito diferente do que eu costumo esperar em livros de romance de época. Sua mania de acreditar ser superior aos demais graças ao título que carrega, e a maneira como se dobra as convenções e regras impostas pela sociedade me tiram do sério. Mas são seus comentários sobre as ideologias de Irene, que me tiram do sério. Por que, no fim, é sempre a mulher que precisa ceder?
O final da história é um tanto quanto corrido e milagroso, mas confesso que me surpreendi com os rumos que o livro tomou no início do seu último arco. Achei corajoso e interessante, aplaudo a autora pela escolha. Tivesse trabalhado melhor esse plot, talvez, o livro teria sido muito mais instigante.
"- Abrandá-las como? Deixando de fazer o trabalho que amo? Abandonando a causa em que acredito? Não farei isso, nem por você, nem por meu pai, nem mesmo por Clara."
A verdade sobre amores e duques é um livro com suas falhas, mas que possui também grandes acertos. Gostaria de ler outras obras da autora para poder tirar algumas dúvidas quanto a sua escrita, e por acreditar que ela tem muito potencial a ser trabalhado. Indico a leitura para todos que gostam de um bom romance de época, e aproveito para deixar aqui uma reflexão: por que quando se é mulher, mesmo quando se ganha, se perde?
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