jota 24/07/2023MUITO BOM: livro de Paolo Cognetti é basicamente sobre uma amizade nas alturas dos Alpes italianos, mas o título se refere mesmo ao NepalLido entre 07 e 23 de julho de 2023. Avaliação da leitura: 4,5/5,0
No final do livro nos é informado que o autor nasceu em Milão, como o personagem principal, e há anos se divide entre a cidade e um chalé a dois mil metros de altura: tem um tanto disso também nessa história. Começando pelo título, que tem a ver com um velho nepalês, uma pergunta que ele faz a Pietro, o protagonista, se ele faria a volta das oito montanhas da cordilheira do Himalaia. Mas Pietro não é alpinista, está no país para fazer um documentário. Passado em Milão, Turim, nos Alpes italianos (Valle D’Aosta) e no Nepal, As Oito Montanhas é fundamentalmente sobre amizade, mas também sobre pais e filhos, incompreensão, perdas e, claro, montanhismo.
A amizade de Pietro, menino da cidade, com Bruno, criatura das montanhas, ambos com onze anos quando se conhecem, nos é contada desde a infância deles até quando atingem cerca de quarenta anos. Mas durante esse tempo ocorre uma interrupção nela, que durou quinze anos, e ficamos sabendo depois que foi nesse período que se intensificou a amizade de Bruno com Gianni Guasti, o pai de Pietro. Filho e pai se desentenderam e isso levou ao rompimento dos laços familiares: Pietro não queria mais acompanhar o pai nas suas subidas às montanhas do D’Aosta, as alturas lhe faziam mal. Também não pensava em estudar mais depois do colégio, queria ser documentarista.
Durante o tempo em que ficaram separados Bruno e Pietro não se esqueciam um do outro. E adultos voltam a se encontrar depois da morte de Gianni, que determinou a Bruno uma missão que tinha a ver com o próprio Pietro: reconstruir um abrigo nas montanhas que Pietro pudesse aproveitar, justo ele que a princípio não se sentia bem naquele lugar. Por sua vez, Bruno não se dava bem com seu pai, um bêbado insolente, mas sentia grande afeto por Gianni, o pai do amigo e nisso era correspondido, então aceitou essa tarefa e a levou a cabo. Ao saber de tudo, Pietro o ajuda e passa a intensificar suas caminhadas pelas montanhas, descobre o outro lado de seu pai, que desconhecia.
Bruno é um homem das montanhas, permanece fiel a elas; Pietro é muito mais um homem das cidades, é ele quem vai e vem pelo mundo. Mas isso não os impede de desenvolver uma amizade fraterna, que permanece mesmo à distância, no distante Nepal. Na maior parte do tempo em que passam juntos reconstruindo a cabana nas montanhas eles se dão muito bem, isso rende algumas das melhores páginas do livro. Basicamente a história é essa, sobre uma grande amizade, mas claro, resumida desse jeito fez com que eu deixasse de fora muita coisa interessante como os pensamentos de Pietro na sua solidão, sua paixão pelos livros, desenvolvida pela própria mãe, que também tentava dar alguma instrução a Bruno, para que progredisse na vida etc.
Então, se isso lhe interessou, leia o livro. E depois veja o filme homônimo. Eu o vi em seguida, depois da leitura; é realmente muito bom, tão bom quanto o livro. E com uma vantagem: temos as paisagens dos Alpes italianos, que são deslumbrantes, muito bem fotografadas pelos realizadores da versão cinematográfica. É de encher os olhos, numa história que em certos trechos mexe com nosso coração profundamente...