SamaraF 03/04/2024
Triste, pesado e incrivelmente maravilhoso
Tô sofrendo sim, mas ao mesmo tempo contente por ter lido um livro tão incrível e bem construído! Amo quando as histórias me fazem acreditar de que tudo aquilo de fato poderia ser real. Só escritores muito habilidosos conseguem escrever uma ficção tão convincente como essa.
O livro conta a história de Charlie, que tinha um QI extremamente baixo (deficiência intelectual) mas que ao ser cobaia humano e passar por uma cirurgia na cabeça, começa a aprender extremamente rápido se tornando um gênio. Essa cirurgia foi antes testada em um rato, o Algernon, que acaba se tornando um companheiro de Charlie. Durante o livro acompanhamos toda a história de Charlie, visto que o mesmo é escrito a partir dos relatos do personagem. É como se estivéssemos lendo seu diário.
Conforme Charlie se torna mais inteligente, vai resignificando suas próprias memórias, portanto o que antes ele pensava ser ?um amigo riu para mim? consegue analisar que na verdade era ?um amigo riu de mim após me fazer passar vergonha por não ser inteligente?. Assim, a vontade que temos o tempo todo é de dar um abraço em Charlie e tentar protege-lo de alguma forma.
É um livro interessante para se refletir sobre a forma que olhamos para as diferenças, sobre as limitações das pessoas e a maneira de lidar com elas, sobre a importância da nossa inteligência emocional para além da intelectual, sobre o papel do afeto e a falta dele e também sobre a própria ciência em si, que por alguns é vista como salvadora e por outros é visto como algo pecaminoso que tenta se passar por deus.
Minha única pequena crítica é que no livro a Psicologia é tratada como uma só. Sou psicóloga e foi impossível não me incomodar com o fato de que as vertentes da Psicologia parecem não existir ali. As pesquisas com os ratos são mencionadas o tempo todo com muitas características da abordagem/linha teórica chamada Análise do Comportamento, mas ao mesmo tempo isso se mistura com Freud e a Psicanálise que vai totalmente contra a Análise do Comportamento. Como não é um livro que propõe explicar algo sobre psicologia, não vejo grandes problemas, mas teria sido muito mais crível se o autor tivesse chamado o psicólogo da pesquisa de cientista comportamental e deixado de lado a psicanálise.
Por fim, recomendo o livro de olhos fechados.