Victor Dantas 13/08/2020
Relatório de Progressão: 13 ago. 2020
Oi, sou o Charlie.
Não, quero dizer, ele é o Charlie. Eu sou apenas um mero leitor, que se apegou profundamente a esse personagem a ponto de chorar e sonhar com a história. Pois é.
O Charlie vive em Nova York, tem 32 anos, trabalha numa padaria, e vive uma vida normal. Bom, para ele sim, para os zotros a vida do Charlie é uma piada. Ele é motivo de piada.
Só qui ele ainda não percebeu isso.
Mas, nós leitores sim. E isso nos enoja!
Vamos começar du começo. O Charlie nasceu com uma deficiência intelectual. Desde a infância até a faze adulta, o Charlie teve dificuldades em lidar com vocabulário, ex crita, coordenação motora, informações.
O mundo ex terior sempre foi uma barreira para ele e, isso se tornou mais grave a medida que sua família não entendia as necessidades do filho, não tinha um acompanhamento psicológico ou algo do tipo que ajudasse a compreender a condissão do Charlie, e assim, acompanhá-lo e auxiliá-lo a desenvolver suas abilidades aos poucos.
Na verdade, os seus pais, ou pelo menos sua mãe, sempre o viu como anormal e, sempre pressionou o filho para se comportar como alguém “normal”.
A hostilidade e a negligência dos pais do Charlie para com ele foi ficando cada vez mais gravi, até que em um determinado momento da sua vida, o Charlie é mandado imbora de casa, pois, sua mãe o via como uma ameaça para sua irmã, a Norma.
Passam-se anos, e o Charlie começa a viver por conta própria em Nova York, trabalhando em uma padaria e, começa a frequentar uma escola para educação de jovens e adultos com dificuldades de aprendizagem. Sua professora, Kinnian, o tem como o melhor aluno da turma e, isso implicará em situassão que pode mudar a vida do Charlie. A professora, acaba recomendando-o para uma pesquisa científica comandada pelos pesquisadores, Strauss e Nemur, da Universidade de Beekman.
A pesquisa pretende, grosso modo, diminuir o retardamento mental do Charlie a zero e, torná-lo inteligenti, aumentando seu QI. Para tal procedimento, o Charlie será submetido a uma cirurgia.
Charlie, como você deve imaginar, fica eufórico, e com a esperança que vai se tornar um novo homem, um homem inteligente, que será admirado por todos a sua volta, principalmente seus pais.
Outro procedimentu da pesquisa, são os relatórios de progresso que o Charlie vai ter di escrever antes e após a cirurgia, como forma de documentar e verificar as mudanças que vão ocorrendo gradativamente no seu intelecto.
São esses relatórios que vamos ler, onde acompanharemos de pertu a evolução do Charlie.
Será que a cirurgia vai ter o sucesso esperado pelo Charlie, suprindo todas expectativas?
E quais as consequências desse processo na vida dele?
A escrita do autor é magnífica. A forma como ele moldou a obra, reflete na sua originalidade no nicho da ficção científica. Nas primeiras 50 páginas do livro, vemos o Charlie com sua dificuldade de escrita e vocabulário fielmente retratada, onde o autor escreve inúmeras palavras com erros ortográficos.
E isso talvez dificulte sua experiência de leitura, mas, eu motivo a você não desistir do livro por conta disso, pois logo a escrita muda, onde retrata o Charlie aprendendo a escrever corretamente e estender seu vocabulário com palavras até então consideradas complexas para ele.
A originalidade de “Flores para Algernon” não está apenas na escrita, mas, no enredo, a mensagem por trás da obra. Apesar de ser uma ficção científica, a história não se reduz ao experimento e as teorias em si.
O autor direciona essa experiência para o campo humano, ou seja, a subjetividade do personagem é o foco, onde surge o drama que envolve todos os que participam desse processo, principalmente o Charlie.
Nesse sentido, o leitor é bombardeado de reflexões e questionamentos, quais, o Charlie também possuí. Para mim, os principais foram:
1. Traumas de infância: vemos o Charlie revisitando suas memórias aos poucos, e temos passagens onde o Charlie é vítima de bullyng, intolerância e preconceito na escola, na vizinhança e até mesmo dentro de casa.
Chega a ser revoltante em muitos momentos.
Percebemos que as consequências de traumas da infância não tratados podem influenciar nossa vida adulta de uma forma cruel. E muito da sua infância traumática tem poder sobre o Charlie.
2. Busca incessante por aprovação: o Charlie não aceita passar pela cirurgia por motivos próprios, mas, para atender as expectativas dos outros em busca de aprovação, seus pais, seus “amigos”. Se existe coisa mais atual que esse sentimento na gente perante a sociedade, desconheço.
3. Comparação: pelo fato de buscar a aprovação do outro, o Charlie a todo momento fica se comparando as pessoas a sua volta.
A visão de si mesmo, é reflexo de um complexo de inferioridade que desde a infância foi introduzido nele. Em situações extremas, o Charlie se vê inferior até mesmo de um rato.
É difícil fazer um paralelo com a sociedade atual? Acredito que não né...
4. Normal x Anormal: o que nos define como normais? O que nos torna anormais?
Essa dicotomia, que não passa de uma construção social e histórica, é algo presente na vida do Charlie. A deficiência que o Charlie possui, e assim como outras pessoas do mundo possuem diversas deficiências, ou melhor, necessidades, é tratada com intolerância, desprezo, indiferença, por uma sociedade que sempre invisibilizou, negou, ignorou, ideias, crenças, sexualidade, pessoas, que não se enquadram no “padrão”, no “aceitável”, no “correto”.
E a forma como o Charlie vê os outros (normais) e ele próprio (anormal), é fruto desse processo.
5. Sentimentos: é nesse aspecto que o drama da história se desenrola. Vemos o Charlie buscando explicações científicas e racionais, para os sentimentos que se manifestam dentro dele. Até que em certo momento ele entende, que nem tudo é passivo de cirurgia. Sentimentos não são objetos, nem seres, e não podem ser reduzidos como tal.
6. Amizade: por buscar aprovação das pessoas em sua volta, o Charlie acredita que quanto mais inteligente ele ficar, mais amigos terá.
Mas, o que ele acaba percebendo, é que amizade é respeito ao próximo, permitir que o outro se expresse como ele é, de enxergar no outro diferenças, e não distâncias. E se o outro anula tudo isso, ele está longe de ser nosso amigo.
E é aqui compreendemos o porquê do título do livro, quando o Charlie encontra seu verdadeiro amigo.
7. Inteligência: o que nos torna inteligente de fato? Um QI alto? Um currículo acadêmico extenso? Nossa profissão? A quantidade de livros que lemos?
Para o Charlie a inteligência humana, sempre esteve relacionada a esses aspectos, mas, ao longo das situações que ele vai vivendo com os outros a sua volta após a cirurgia, e, o tratamento que ele recebe destes, o leva a compreender que a inteligência... é HUMANA.
Sendo assim, uma cirurgia, seja ela qual for, não nos torna mais ou menos humano.
A humanidade não é um estado, posse.
A humanidade é ser, valores.
Um livro necessário.