Amanda Azevedo 09/05/2018
A jornada de um artista em "Tulipas Azuis"
Trabalhar com o que ama é um sonho distante para muitos. Principalmente quando o trabalho dos sonhos está ligado as artes. É comum encontrarmos artistas — sejam atores, músicos, dançarinos, etc., — que estudam e trabalham em outros ramos porque, infelizmente, se deparam com muitas dificuldades e desafios quando tentam viver da sua arte.
Com o nosso protagonista — Dolf Van Haarlem — não foi diferente. Desde jovem já demonstrava bastante habilidade e sensibilidade para desenhos e pinturas, mas acabou ingressando na faculdade de Direito por não acreditar, a princípio, que conseguiria se sustentar se utilizando do seu dom e maior paixão, a pintura. No entanto, apesar dos percalços no caminho ele encontrou coragem, arriscou, e fez da pintura a sua profissão.
Ambientado na Holanda, “Tulipas Azuis” é um romance de formação, onde acompanhamos a vida do nosso protagonista da infância até a fase adulta. A história não é linear, o autor vai e volta no tempo. Estratégia narrativa que gosto muito, pois conhecemos aos poucos a vida dos personagens. Isso torna a leitura envolvente e intrigante porque desperta a nossa curiosidade para entender a história como um todo.
Um dos aspectos mais interessantes da leitura pra mim foi o processo de criação dos quadros de Dolf. Não tenho muito contato com a arte expressada através da pintura, por isso nunca tinha parado pra pensar no que há por trás de determinada obra e, acompanhar esse processo através da leitura desse livro foi bastante enriquecedor. O autor descreve de forma bastante sensível o nascimento das obras de Dolf — principalmente as que ele criou inspiradas nas poesias de seu falecido pai. É tocante e de uma sensibilidade ímpar a mescla dessas duas artes, poesia e pintura.
Outro aspecto interessante é o apego que Dolf tem por alguns de seus quadros. Diversas vezes ele demonstrava certa resistência em vende-los e eu me perguntava por quê, mas depois de um tempo fui capaz de compreendê-lo. Afinal, se temos um autor e ele vende seus livros, ele ainda poderá ter uma cópia da sua história com ele. Se temos um músico/compositor, ele poderá ouvir e criar novas versões quando quiser. Mas um pintor, ao vender sua obra, é caminho sem volta, ele não a terá mais.
“Tulipas azuis” traz uma história sensível sobre a vida com seus altos e baixos, dores e delícias, amores e amizades, realizações e frustrações. Com uma escrita fluida e envolvente o autor nos apresenta a personagens reais, carismáticos e nos presenteia com um final surpreendente.