Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018DE VOLTA PARA CASA - Seanan McGuireEu estava aguardando esse livro já fazia um bom tempo. De Volta Para Casa é uma novela, e portanto uma história mais curta, porém não tão curta como um conto. Aqui vamos encontrar uma narrativa de realismo mágico e, se você conhece o gênero (ou não), deve ir sabendo que não teremos todas as explicações sobre como essas portas aparecem ou o que é esse lugar para onde as crianças vão. Recebemos, logicamente, algumas informações, mas o bêabá fica de fora e é preciso fazer a paz com isso para aproveitar a história.
Há toda a uma separação em categorias desses locais, já que cada jovem vai para um diferente. De acordo com as características que eles relatam, Eleanor categoriza e distribui, para que eles fiquem juntos de pessoas que dividem experiências parecidas. Esses locais parecem, de certa forma, serem reflexos de coisas que essas crianças precisam ou sentem, e que nem sabiam necessitar. Ao chegar lá, se tiverem uma experiência positiva, vão se completar, e a tarefa de “voltar para casa” vai ser na verdade o oposto disso, já que sentirão que estão deixando sua verdadeira casa para trás.
Eu gostei muito desse ponto interpretativo e consegui ver várias metáforas pra isso no nosso mundo real. O normal, o que temos como certo, nem sempre funciona ou deixa todo mundo confortável. Cada um, a sua maneira, precisa encontrar o seu local no mundo e a sua verdadeira “casa”. E, às vezes, são pequenas portas que se abrem pra gente, ao invés de apenas uma ao longo da vida. É um livro que lemos e que nos apresenta um novo mundo, é aquele seu hobby que te desconecta da realidade e faz você ter um momento completo de flow.
“A esperança machuca. É isso que você precisa aprender, e rápido, se não quiser que a esperança corte você de dentro para fora.”
E, apesar de estarmos lidando com “crianças”, os adolescentes tem uma linguagem que não incomoda ou infantiliza a narrativa. Nancy está muito segura de si e vivendo uma época em que é difícil conviver com os pais sem que nada fantástico tenha acontecido, com esse fator então, missão impossível. E cada um dos jovens possui uma personalidade bem diferente, dando mais vivacidade a eles. Meus favoritos são Sumi e sua irreverência e Kade com o ar misterioso.
A casa de Eleanor, porém, não é a única no mundo, e não é todo mundo que tem uma experiência bacana. Há quem volte completamente desestabilizado ou em pânico e há outros lugares escondidos pelo mundo para ajudar esses jovens.
O bacana de uma novela é que tudo precisa acontecer de forma dinâmica, já que são menos de 200 páginas de história. Assim, logo no começo já somos apresentados ao real problema, tornando a trama acelerada. Não vou mentir e dizer que o desfecho foi uma grande surpresa. Há pistas suficientes ao longo das páginas para que você descubra quem é o responsável pela situação muito antes de ser realmente revelado.
Entretanto, acredito que o diferencial da obra não está nesse desfecho e sim em instigar o leitor a tentar desvendar todos os mistérios desse universo e das possibilidades que se abrem sempre que uma nova porta surge. E, há uma surpresinha no final que fez com que a jornada valesse ainda mais a pena!
“A morte era preciosa. Isso não mudava o fato de que a vida era limitada.”
Vale a pena também mencionar que esse é um livro com bastante representatividade e trabalhada aqui de forma bem “leve”. A autora escolhe nos contar sobre certos personagens e suas identidades de gênero como parte da apresentação deles ao leitor. Conforme outros personagens confrontam eles, temos um leve desenvolvimento do assunto, mas nunca se torna o foco ou vemos aquilo ser forçado dentro da história.
De Volta Para Casa foi um livro que atendeu as minhas expectativas e me mostrou como uma história pode ter muitas histórias para contar. É um daqueles livros que faz a gente se perguntar qual é o nosso real papel nesse mundo sem precisar falar sobre isso de forma direta, e que usa a famigerada metáfora da “porta” para nos conectar com esses questionamentos que fazem parte da vida real (ou deveriam). E ai, você já encontrou a sua casa?
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