Silvjenn 09/04/2018
[ RESENHA ] Volte Amanhã
Gabriela Moraes é uma mulher moderna de 22 anos, que mora na cidade de São Paulo, ama usar salto alto e de se vestir de forma ousada. Além de ser bastante extrovertida, ela procura sempre dizer o que pensa e nunca levar desaforos para casa, o que às vezes desencadeava numa hilária confusão quando algo não saia como ela planejara.
Contudo, além de ter que lidar com pessoas que não a conheciam e que a julgavam pela sua aparência, Gabí também tinha que lidar com seus pais. Seu pai, Ricardo, era um homem sério e silencioso, mas bastava apenas um olhar em sua direção, que ela logo percebia toda a frustração e vergonha que ele sentia pela filha ser tão extravagante. Já sua mãe, Teresa, mesmo sendo o mais próximo de refúgio familiar que Gabriela possuía, sempre foi bastante introvertida e nunca levantara a voz para o marido.
O silêncio estava tão impregnado que ao chegar em casa, Gabriela passava pelos pais e ia direto para o quarto que era o seu refúgio. Refletir sobre o quão diferente a sua família se tornara, fazendo-a relembrar dos curtos, porém bons momentos da sua infância.
Mesmo tendo estudado em colégio particular até a conclusão do ensino médio, e da sua família ser classe média alta por conta da carreira de sucesso do pai, um desembargador aposentado, Gabí sempre teve os pés no chão. Estagiando desde os dezesseis anos, ela procurava ter a sua independência e liberdade, o que deixava Ricardo bem irritado e sem saber o que fazer.
“O jeito Gabí de ser não era tradicional. Na medida em que minha transparência não fazia sentido para as pessoas, minha forma de lidar com os haters me colocava em um degrau acima, aquele que não cai tão cedo e se mantém firme diante das complicações. Meu corpo esguio, com 1,80 perfeitamente distribuídos em um corpo curvilíneo – beijinho no ombro -, cabelos escuros, olhos castanhos e traços delicados geravam um tipo de destaque. O fato de eu ser meio brava, questionadora e bem resolvida comigo mesma me destacava ainda mais. Em uma sociedade sexista e conservadora, talvez eu ainda não conseguisse fazer o mundo me aceitar, mas eu certamente o faria me respeitar. Você precisa de poucas coisas para sobreviver, uma delas é amor próprio.”
Planejando sua carreira desde cedo, com estudos, esforço e dedicação, Gabí já cursava o 9º semestre de Direito na USP. Almejando o sonho de conseguir tornar o mundo um lugar mais justo, ela procurava ser condizente com as suas atitudes. Gabriela também estagiava no Andrade & Falconi Associados, um escritório de advocacia relativamente novo e em franca expansão. Sua ambição e força de vontade deixavam sua chefe e mentora, Marisa, muito satisfeita, além de colocá-la no nível mais alto como estagiária.
Porém muitos a subestimavam. Seu estilo de vida e comportamento incomodava muitos funcionários e todos possuíam os mesmos pensamentos em relação a ela. Fútil, depravada e doente. Mas ela já estava acostumada com essas palavras e com os olhares de reprovação, por isso nada poderia abalar a sua alto estima. E nada era pior do que os seus dias dentro da USP.
A sensação era de estar sendo observada o tempo todo, gerando medo, ansiedade e desconfiança em seu consciente. Todavia, se ela quisesse alcançar a glória, era preciso se adaptar. Havia de tudo, desde agressão, opressão e principalmente assédio. E ela não era indiferente a isso, mas o problema não era nem ter que lidar com os estudantes babacas e sim, com os professores.
Um em específico, era Herbert Alves que, por ser um professor muito respeitado dentro da Universidade, ninguém acreditaria que este homem de meia idade assediava as alunas, sempre com um sorriso irônico no rosto, tendo uma preferência enorme por Gabí. Todos esses acontecimentos a cansavam, mas felizmente, não chegavam a abalar os seus ânimos.
“Uma das razões dos calafrios que eu procurava sempre ignorar era o professor de Direito Constitucional, Herbert Alves, cuja visão sempre recaia sobre o meu andar. -Já te disse hoje que você e a minha aluna favorita, Gabí? -Começava ele, me olhando dos pés a cabeça. -Infelizmente, até agora não, professor. -Quanto mais você nega isso, mais verdade se torna.-Ele gargalhou. -Verdade ou não, não é algo que faça diferença para mim. Levantei um pouco mais a voz, acelerando o passo. Só pude escutar a risada carregada de ironia e afronta se dissipando à medida que me afastava, já no horário de intervalo daquela segunda-feira interminável.”
A vida de Gabriela pareceu melhorar após conhecer Maria Luiza Vigotto ou Malu, uma morena de olhos verdes e bastante tímida, totalmente o oposto de Gabí. As duas se conheceram na faculdade e desde então se tornaram inseparáveis.
Mesmo com a amizade, o emprego e a faculdade, com o passar do tempo, Gabriela percebera que seus sonhos, desejos e projeções foram ficando desamparados. E o que ela procurava, não constatava com o que ela havia se tornado. Contudo, ela não poderia culpar ninguém, bastava seguir a sintonia consigo mesma e a felicidade seria consequência disso. Ela só não imaginava o quanto essa felicidade estava próxima.
Enquanto as amigas almoçavam próximas da Universidade, um amigo de Malu se aproxima das duas e resolve juntar-se a elas. Seu nome era Carlos Eduardo Fernando, ele tinha 24 anos e além de ser incrivelmente lindo, ele também era inteligente e já havia se formado em Direito na USP. Por ser de uma família de médicos, a notícia de que o filho seria um advogado não agradara os pais, por isso ele decidira morar sozinho e seguir o seu sonho, mesmo que isso o tornasse um desajustado.
Gabriela estava tão encantada com Cadu, que por incrível que pareça, ela acaba não conseguindo falar absolutamente nada diante da presença do rapaz, soando até mesmo hilário para Malu que apenas observava sua amiga finalmente se apaixonar por alguém e não saber como se comportar. Após esse momento, Cadu e Gabí se reencontram e têm uma segunda chance de se conhecerem. Os dois percebem que tinham muitas coisas em comum, porém o medo de relacionamentos faz Gabí ter um pouco de cautela, mas aos poucos ela irá perceber que Cadu é totalmente diferente dos outros homens, mas será que esse relacionamento pode dar certo? Só lendo para descobrir!
“(...) A Lua havia decidido liberar sua mais bela forma de luz. Sentia como se pudesse tocá-la ao esticar o braço, uma ilusão extremamente prazerosa. Com o olhar fixo nela, senti Cadu pegar minha mão. Não havia som algum à nossa volta, nem de trânsito. Pelo menos, eu não estava escutando. Cadu apontou para aquele círculo perfeito e iluminado e fez com que eu me sentisse ainda mais especial, levando embora qualquer preocupação. –Sempre que você se sentir sozinha, lembre-se dela. Lembre-se disso. Enquanto eu assimilava aquelas palavras como um mantra a ser seguido, Cadu virou para mim, me juntando ao seu corpo. Me olhou daquele jeito doce, que trouxera um novo sentido para a minha vida e me beijou. Senti como se o céu fosse uma orquestra, com a Lua ditando o ritmo das estrelas que cantavam para nós. Me senti verdadeiramente viva, como jamais acontecera.”
Uma romance divertido, lindo, envolvente e emocionante, onde o autor aborda temas muito interessantes como o amor próprio, preconceito, assédio e entre outros. A diagramação está linda e a história é narrada em primeira pessoa pela Gabriela, com isso podemos nos divertir bastante com o seu modo louco de narrar a sua história. Ela é uma personagem maravilhosa, sua musa inspiradora é a Valesca Popozuda haha, Gabí é uma mulher forte, determinada, bonita, inteligente e muito divertida. E apesar de todas as situações estressantes pela qual ela tem que lidar todos os dias, isso não a impede de sair com a cabeça erguida e pronta para outra batalha.
Cadu é homem gentil, atencioso, inteligente, lindo e muito fofo haha. Também gostei dele logo de cara. Com uma escrita leve e fácil de ser compreendida, o livro pode ser lido rapidamente. Confesso que no meio do livro, a história de Gabí tem uma reviravolta bombástica, mas irei parar por aqui para não soltar algum spoiler para vocês. Vale a pena conferir!
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