Desireé (@UpLiterario) 20/04/2020Tudo pode ser roubado. Até você mesmo. (@Upliterario)Uma garçonete de um badalado restaurante de São Paulo passa as noites seduzindo clientes para depois roubá-los. Itens caros e raros, roupas, joias, artigos de luxo. Tudo o que afana, ela leva para o brechó de Tiana e procura fazer uma grana. Ela possui poucas ou nenhuma ambição, busca apenas juntar o dinheiro necessário para comprar seu próprio apartamento. E é aí que uma oportunidade imperdível surge em seu caminho: roubar uma primeira edição de O Guarani e garantir uma bolada. Acontece que a obra pertence a um professor universitário divorciado e recluso. Tudo mesmo poderia ser roubado?
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“É duro admitir, mas para todo filho da puta existe um trouxa.”
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Uma protagonista sem identidade, perdida na selva de pedra de uma grande cidade, sobrevivendo da ingenuidade e cobiça de seus clientes. Ela rouba deles o prazer, umas horas de luxúria e uns itens de luxo e a cada item ela perde mais e mais um pouco de si mesma. Vai deixando pedaços de si em cada esquina, casa ou apartamento alheio e passa os dias em uma rotina medíocre e vazia.
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“Amarga não, garçonete. Passo várias horas por dia ouvindo as conversas dos outros. Claro que não dá pra ouvir tudo, mas o suficiente pra saber que, com poucas exceções, o egoísmo venceu o amor.”
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Sem grandes vícios, com exceção do seu amado café, sem famigerados desejos, sem perspectivas, ela aprenderá que um ladrão também pode ser roubado e que o bem mais precioso do ser humano não pode ser precificado em quantias estáticas de uma moeda qualquer.
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“Não tem muito que a gente possa fazer contra a nossa natureza.”
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Uma grande história que te faz pensar, repensar, digerir e deglutir as palavras que saltam das páginas. Com cinismo e ironia, a narrativa é visceral e expõe uma São Paulo que poucos conhecem, com becos e ruas tortuosas pelo caminho.
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“Essa é a São Paulo de que eu gostava, a São Paulo depois do expediente, quando as pessoas afrouxavam a gravata e deixavam entrever, como flores sinistras rebentando pelo corpo, as marcas de viver numa cidade tão obcecada com a produtividade.”
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Recomendo!
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