Lay 13/03/2018Já falei para vocês que adoro conhecer novos autores, não é mesmo? É sempre aquela expectativa, será que irei gostar da escrita, como será que desenvolve os personagens, a narrativa. E quando é nacional então, torço para que me surpreenda e que consiga um espaço no meio de tantos livros estrangeiros.
Chiara nos leva ao Brasil de 1872, mais precisamente em Vassouras, onde a jovem Amaia de Carvalho mora com os pais e a irmã na Fazenda Santa Barbara. Aos vinte e três anos e com uma beleza inigualável, sua única preocupação é participar de saraus, usar belos vestidos e flertar até encontrar um homem descente para se casar, de preferência um que não seja escravocrata, o que devemos presumir, é bem difícil para essa época. Abolicionista assumida, Amaia faz o que pode para salvar alguns escravos da fazenda da família, mas todos veem seus ideais como fantasias de uma mente feminina fútil. Entretanto, a vida de Amaia mudará drasticamente após a recepção de noivado na casa de sua amiga Caetana.
Deixando as filhas na festa de noivado de Caetana Feitosa de Vasconcellos e Roberto Canto e Melo na Fazenda Guaíba, Gracílio e Otávia de Carvalho sofrem um acidente e morrem, deixando as filhas, Amaia e Cora, em uma situação bastante complicada: as duas se odeiam e estarão presas à uma fazenda em falência.
Amaia e Cora não tinham a menor noção da situação em que se encontravam, afinal, esse não era o tipo de assunto para jovens casadoiras. Ao descobrir que herdaram a fazenda e com ela uma imensidão de dívidas e que, além disso, não pode alforriar os negros que vivem na Santa Barbara, Amaia percebe que a única solução para a atual situação é casar-se. Porém, os muitos pretendentes que tem parecem desaparecer gradativamente e a situação se agrava à medida que precisa começar a vender vários itens para saldar algumas dívidas, manter a fazenda e os escravos e se alimentar. Cora em nada ajuda e, para falar a verdade, não compreende a gravidade da situação em que se encontram, deixando tudo nas costas de Amaia.
Eduardo Montenegro, conhecido como barão negro, não é um bom pretendente quando as mães pensam em casar suas filhas, mesmo tendo o Barão de Mauá como padrinho, que o enviou para uma educação privilegiada em Oxford, o que todos veem é o fato dele ser cofundador do Clube dos Devassos e sua fama de libertino. Amigo de Canto e Melo há alguns anos e tendo se instalado na cidade de Vassouras quando montou a Fazenda Caridade com um perfil diferenciado para a época, uma colônia de parceria, sem escravos, ele agora precisa se infiltrar entre os escravocratas da região para cumprir sua missão.
É com esse objetivo que chega aos festejos de noivado do amigo e assim conhece Amaia, que o encanta imediatamente - como ela faz com todos, aliás - e o interesse só aumenta à medida que conhece e percebe o quanto ela é diferente das jovens da sua posição e da sua idade, mas essa atração poderá atrapalhar seu objetivo.
Montenegro quer ajudar Amaia, mas sua posição exige que ela tenha um marido e isso ele não pode lhe oferecer, pois jurou nunca se casar, por medo de seu passado lhe assombrar e se repetir. Amaia, por outro lado, em sua busca desenfreada por um marido e uma teimosia fora de série, se mete em muitas confusões e algumas tão grandes que temi por ela nessas ocasiões. Aliás, não dá para dizer que apenas Amaia é teimosa, porque Montenegro também não fica atrás nesse quesito.
Embora tenhamos o romance, Chiara também nos mostra, com alguns fatos e personagens reais que ajudam a ambientar a história, como era a época, a questão da escravidão, a dificuldade de ser uma mulher jovem, sozinha, solteira tentando levar à frente a fazenda da família, contra a escravidão e presa ao sistema, tendo que muitas vezes pensar nos outros antes de si mesma. Sem uma família a lhe apoiar. Também retrata, ainda que rapidamente, o abuso familiar e como isso pode influenciar a vida de uma pessoa, mesmo que acredite que o passado tenha ficado para trás.
Além disso, ainda é preciso falar sobre os personagens. Amaia e Eduardo são teimosos sim, mas isso também é positivo quando vemos que isso faz com que sejam determinados em alcançar seus objetivos, em não desistir quando os obstáculos surgem em seus caminhos. Também adorei Bá, uma senhora que cuida de Amaia como se fosse uma filha e entre elas não há diferença de cor de pele. Sem falar em Canto e Melo e Caetana, duas pessoas incríveis e que tenho certeza de ver nos próximos livros da série e não posso deixar de lado as irmãs caçulas dela, Lavínia e Felipa, que acredito que ainda darão o que falar. Por outro lado, há personagens que poderiam desaparecer de tão nojentos que são e não quererem o bem de ninguém, como Cora, Severo (o capataz da fazenda de Amaia) e as gêmeas Rosária e Belizária, irmãs de Caetana.
Falei para Chiara que adorei a história e os personagens que ela criou, só queria que a teimosia de Amaia e Montenegro tivesse ido tão longe na história. Sou uma romântica quando o assunto é livro e queria mais deles como casal na história, não vou mentir.
Chiara ainda nos deixa curiosa quanto ao que é o Clube dos Devassos, personagens a serem explorados nos demais livros da série e a incógnita que é a quantidade de livros da série, pelo fato de ser uma série aberta. Além disso, fiquei realmente impressionada com a profundidade de algumas questões que trouxe na história, resumindo, fiquei na curiosidade de conhecer os demais livros e saber quais serão os novos protagonistas e suas histórias.
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