Tamirez | @resenhandosonhos 01/08/2018A MULHER ENTRE NÓS - Greer Hendricks & Sarah PekkanenSuspense é um gênero difícil de encantar pra mim. A história precisa realmente costurar muito bem as coisas e surpreender além do normal para que eu já não chegue meio decepcionada ao seu desfecho já tendo matado a charada. Parece presunçoso até, mas depois de um tempo como leitor do gênero, fica bem mais fácil saber onde procurar as pistas, tornando a surpresa algo mais difícil de ser alcançado.
Me interessei por esse livro porque tive uma experiência ótima recentemente com um outro título e quis tentar a sorte novamente, e a premissa misteriosa e instigante, claro, também ajudou. O que temos aqui é um thriller mais doméstico e, apesar de se passar do ponto de vista das mulheres, fica fácil perceber que o verdadeiro mistério reside no que as une, o marido.
Até o meio eu estava achando tudo muito normal e não tinha compreendido muito bem para onde a trama estava indo, e é ai que as coisas mudam. Um conselho que fica é: nem sempre o que estamos ouvindo, vendo ou lendo é verdade. Mas, por termos o ponto de vista, achamos que está tudo bem em crer no que vem sendo nos dito, supor, arriscar palpitar ou até mesmo “prever” um final. A questão é que aqui, por um longo caminho, vamos trabalhar com ilusão.
E esse é um artifício muito bacana, diga-se de passagem. Acho incrível o ato de ludibriar o leitor e já li alguns livros que fizeram isso tão bem como esse, mesmo não da mesma forma. A questão é que isso somente não basta para manter a trama em movimento, e a euforia que se cria com a descoberta não se mantém muito além.
“Richard quase nunca falava da ex, então Nellie sabia pouco sobre ela. Ainda morava em Nova York. Tinha se separado dele pouco antes de Nellie conhecê-lo. Era bonita, tinha cabelos escuros e compridos e rosto fino.”
Infelizmente, não acho que as autoras souberam ir em frente com a intensidade da trama que construíram. Em poucas páginas caímos novamente no marasmo do começo e voltamos ao tom “comum” do que já vínhamos vendo. E ai, até o último capítulo, temos uma história que se sustenta, mas não causa surpresa ou empolgação. Sendo completamente enterrada na hora que alcançamos o epílogo.
Na minha opinião há três resultados para a trama que tenta o famoso “a cobra morde o rabo”: você pode fazer extremamente bem feito, com dicas sutis e uma amarração surpreendente; com pequenos pedaços faltando e aquela sensação de que poderia ter sido melhor; ou, como aconteceu nesse livro, com a autora querendo amarrar absolutamente todo mundo no mesmo nó que a coisa perde a graça e o sentido. Sinceramente, 80% do meu desapontamento fica para o elo final e a necessidade desnecessária de conexões.
Salvo esses poréns, acho que a temática trabalhada por trás de toda essa situação é bem pertinente e relevante em dias atuais. A Mulher Entre Nós é um livro que vai falar sobre formas diferentes de abuso e de como isso pode se mascarar atrás de coisas impensáveis. É uma daquelas tramas que vendo a situação sem os enfeites levanta o questionamento e serve para que estejamos atentas a coisas semelhantes.
Sendo assim, confesso que me decepcionei um pouco. Muito mais pelo desperdício do artifício tão bem usado num primeiro momento, e depois perdido no meio de pontos mais comuns, do que pela qualidade da história em si. Mas, para os fãs do gênero que interessar, acho que vale a pena pela experiência da virada e pelas reflexões já mencionadas.
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