Fazendas Ásperas

Fazendas Ásperas Geny Vilas-Novas




Resenhas - Fazendas Ásperas


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RUDY 31/12/2018

ANÁLISE CRÍTICA E DA AUTORA
Confesso que durante todo tempo que faço análises e resenhas de livros, essa é a mais difícil de concretizar. Já terminei a leitura há quase um mês e fiz vários rascunhos. Nenhum que satisfizesse totalmente a maneira como gostaria de me expressar. Resolvi então, sentar e escrever o que traz o sentimento e o entendimento. Espero que consiga passar toda a grandiosidade da obra.
A maior dificultado é a forma como o livro foi escrito que para mim traz certo ineditismo e uma demora em adaptar a leitura, dificultando um pouco entrar no âmago do relato e identificação com as personagens.
O livro conta a história da família da autora em uma mistura de fatos reais com uma ficção bem elaborada, inserida em uma linguagem própria, carregada de analogias e dando ênfase ao valor da Mãe.
Traz um ensinamento tão intrínseco sobre a região de nascimento da autora, demonstrando os hábitos, costumes, trajes, gastronomia, as pessoas locais, e drama e paixão da família em seu cotidiano. Na verdade o livro é uma prosa local com a vivência local arraigada.
Obstante a esse regionalismo, muitos ensinamentos e reflexões que nos fazem reavaliar nossas vidas, pensamentos, sentimentos e cria até certa expectativa em ter um cotidiano mais tranquilo, junto aos ‘causos’ e a natureza.
E devo falar com sinceridade: o livro é muito bom, porém não é para todo tipo de público. É para aqueles que gostam de conhecer sobre a vida das famílias e sobre seus dramas, problemas, felicidade e amor.


site: http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/2018/04/resenha-24-fazendas-asperas-literatura.html
Michelle 05/12/2021minha estante
adorei a resenha. parece ser uma história bem profunda


Angela Cunha 17/03/2022minha estante
Puxa Rudy, não me lembro de ter lido nadinha a respeito desse livro. Mas como moradora de interior a vida toda, já fiquei apaixonada pelo título da obra e pelo temas abordados.
Cheirinho de livro que vou gostar muito!!!
Beijo




Evandro.Atraentemente 31/01/2018

Fazendas Ásperas
Fazendas Ásperas, de Geny Vilas-Novas, foi publicado pela Editora 7 Letras e teve seu lançamento em dezembro de 2017. Reunindo as histórias de seus antepassados, a autora se esbarra com a inocência de sua infância no Sítio de Cima em Minas Gerais, às margens de um riacho que corria para o Rio Doce, para mais tarde desaguar no mar. Saudosas lembranças e descobertas se confrontam com a realidade dos dias atuais, de forma que sua própria escrita se torna um desabafo, servindo de alento para amenizar a saudade de um tempo que se passou.

Em cada passo dado em direção ao passado, descobrindo personagens e histórias, muitas delas com várias versões para o mesmo acontecimento, a autora nos presenteia com a riqueza de uma época onde imigrantes portugueses se instalavam no Brasil e constituíam aqui suas famílias, fixando suas raízes. Até que ponto a narradora consegue se distanciar dos fatos e manter os laços que a impedem de se envolver emocionalmente com as personagens que são parte de sua história? Cada um dos seus antepassados são peças fundamentais em sua vida. Sendo assim, muitas vezes esses papéis se confundem e ultrapassam o limite mágico da tênue linha que separa passado e presente. Narradora e personagem se mesclam à medida que o tempo se torna implacável com as memórias dos dias que se passaram, escondendo-as debaixo das águas do grandioso Rio Doce de sua infância.

Entre sorrisos e lágrimas, alegrias e dramas, figuram surgem ganhando nome e importância no enredo, como se fossem peças de um jogo embaralhado, compondo a árvore genealógica da família e dando cores ao quadro que, aos poucos, deixa de ser apenas uma fotografia em preto e branco. Os sonhos e brincadeiras infantis, casamentos, nascimentos ou as dores dos trágicos desfechos que são agora revividos a cada memória. O enredo não segue uma ordem cronológica, passeando livre como o vento, deixando para o leitor a sensação de ouvir velhas histórias contadas pelos avós.

Com 216 páginas amarelas, folhas com excelente espessura, letras confortáveis e capítulos de leitura fluída, Geny Vilas-Novas nos apresenta uma deliciosa leitura. É um livro repleto de simbolismo e metáforas onde realidade e ficção se confundem aos olhos de quem lê. A autora tem um estilo próprio e característico, além de uma escrita madura e dinâmica. A narração acontece em 1ª e 3ª pessoas. Muitas vezes ela brinca ao substantivar e adjetivar nomes próprios, dando leveza à narrativa, como por exemplo, Mãe Rainha do Lar, Peixinho Dourado e Nora de Olhos Cor de Ônix. Detalhes como estes, acabam criando em alguns momentos uma atmosfera lúdica no enredo. Outras vezes somos levados a embarcar nos devaneios narrados.

O Rio Doce tem presença fundamental no enredo, tornando-se figura tão importante como qualquer outro personagem principal. O terrível desastre ambiental em 2015 também se destaca, mostrando o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco que atingiu o Rio Doce com seus rejeitos e lamas, poluindo suas águas, fazendo vítimas e atingindo direta e indiretamente muitas pessoas ao longo de seu percurso.

Ao leitor, cabe o prazer de ver o passado ser revelado através das memórias e de documentos empoeirados em gavetas de cartórios ou prateleiras das igrejas. Como imaginar que através de tão poucos anos tantas histórias pudessem ser contadas e a surpresa em sentir o elo com um passado que insiste em se perpetuar nos traços e manias de seus descendentes. Uma pena a autora não ter acrescentado um esquema da árvore genealógica da família para que o leitor pudesse acompanhar no decorrer da leitura, afinal são várias gerações. Também poderia ter acrescentado fotos antigas da família que enriqueceria ainda mais a obra.

Pincelando a narrativa com situações atuais do país, Geny parece impor o confronto entre a realidade e o mundo que ficou para trás, assim como a família que vai se dispersando com o tempo, confrontando o próprio presente com o passado e mostrando que no futuro tudo isso será apenas pequenos grãos que farão parte de uma outra história, perdendo aos poucos sua forma.



site: http://www.atraentemente.com.br
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Maria Ferreira / @impressoesdemaria 06/06/2018

Memórias e Linguagem
Este é um livro de memórias, no qual a autora vai em busca de tentar reconstruir a história de sua família, Neves e Villas Novas, desde Portugal até Minas Gerais, onde viveu sua infância no Sítio de Cima, às margens de um riacho que corria para o Rio Doce. Para tal, constrói uma narrativa na qual expõe a ajuda que teve de familiares como também as dificuldades dessa empreitada, uma vez que envolve a vida de outras pessoas e nem todas estão dispostas a colaborar ou aceitam bem essa ideia.

É um livro fortemente baseado na realidade, mas é bom ter em mente que não deixa de ser uma narrativa ficcionalizada. Por isso é importante saber diferenciar as instâncias autor, narrador e personagem, por mais que a narrativa faça parecer que é a própria autora quem nos fala, é bom lembrar que o faz por meio de uma narradora, que é também personagem. Em diversos momentos, a narradora frisa que o trabalho de um escritor é retrabalhar a realidade, contar mentiras fazendo parecer que são verdades: “Vou contando a saga da família. Tudo é ficcional, nada é oficial” (p.36); “(...) Eles são inocentes não sabem que nós, escritores, somos mentirosos. Vamos intercalando verdades e mentiras para confundir o leitor. A verdade é o que menos nos interessa” (p.115)

A narrativa não linearizada, ora em primeira ora em terceira pessoa permite não só que vários assuntos sejam abordados, como também que haja um trânsito entre o passado e o presente, desde alguns aspectos da escravidão, que são não desenvolvidos até a tragédia de Mariana, com o rompimento de duas barragens da empresa Samarco, em 2015 e teve como uma das consequências a morte do Rio Doce, que foi e é muito importante para a autora. O presente se faz perceptível nas diversas críticas sociais e políticas: “O Brasil está em chamas. Gritam o preço da cebola, do alho e do tomate. Se não tem pão, pois que comam brioches. Esta é a resposta de uma rainha, não importa se a cabeça dela irá rolar depois. Alguém está querendo falar de depois? Depois é outro dia. Eles dizem que puxam uma pena, vem uma galinha. Durante as passeatas, nenhum político é bobo o suficiente para aparecer lá segurando bandeirinhas” (p.43).

Paralelo à ação principal de busca da origem familiar, o livro também vai se valer da metalinguagem para tratar sobre o ato de escrever, afinal é um livro sobre o processo de pesquisa e escrita de um livro sobre uma história familiar. Por isso, em muitos momentos há passagens que são sobre o ato da escrita: “Se a escrita estiver muito bem comportada, desconfie. Sujeito, verbo e complemento. ‘Suje-a”. Faça inversões. Mas o texto não pode ficar incompreensível. Lance mãos das imagens: iterativas e recorrentes. Use enumerações caóticas. Se a verdade atrapalha, retira. Nosso compromisso é com a literaridade. Seleção vocabular não deve ser esquecida” (p.68).
A impressão que tive é que a autora se vale desse recurso da metalinguagem também para que o leitor entenda como o livro está pensado. Entenda que a linguagem singular tem um propósito. O mesmo pode ser observado no trecho a seguir: “Jorge Luís Borges dizia mais ou menos assim: Deus, com sua imensa ironia, deu-me os livros e a noite. Referindo-se à cegueira. Parafraseando-o, digo: Deus deu-me a escrita e a dislexia. As palavras migram, as letras mudam de lugar. Posso cometer mais de dois erros na mesma palavra. Algumas palavras comuns não estão registradas na biblioteca do meu cérebro. Ou as minhas ferramentas usam portas erradas na hora de buscá-las” (p.97).
Mas também o ato de escrever é por vezes descrito como algo que causa a catarse, como demostra esta frase que é repetida diversas vezes ao longo da narrativa: “Existe um momento em que, se eu não escrevesse, a vida seria insuportável” (p.77).

Sei que não é o foco do livro, mas quero destacar a questão da escravidão. Tem uma personagem, a Sinhá Ritinha, que foi uma das bisavós da narradora. Já pela ascendência portuguesa e a ancoragem em Minas Gerais, que utilizou muitos escravos nas minas, imaginei que está família teria alguma ligação com a escravidão, afinal é uma família branca. De fato, tem uma personagem chamada Sinhá Ritinha. O “sinhá” não deixa pensar outra coisa, mas há passagens mais evidentes sobre a relação da família com a escravidão: “Sinhá Ritinha não suportava mais beber água em canecos, como os escravos” (p.123); “Vovó nasceu em 1889, um ano após a abolição dos escravos. Ela dizia que se envergonhava com a escravidão. Era uma dolorosa mancha em nossa família. Contam que Sinhá Ritinha ficou chorando na boca do fogão, com uma caixa de fósforo. Não sabia acender o fogo, para coar o café da manhã. Muitos escravos seguiram adiante, mas a maioria voltou. Ir para onde? Fazer o quê? Não podiam morrer de fome” (p.190).

O grande diferencial do livro é que a linguagem é usada de modo a constituir a singularidade da obra. Um dos recursos utilizados para tal são os modos como os diálogos são expostos, sempre em discurso indireto. Dessa forma, por meio de metáforas e muitas referências literárias, a autora/narradora nos guia por essas águas turvas até que encontremos a transparência ou até que cheguemos perto de entender o que é ser lapidado em gemas raras.

Com introdução de Ivan C. Proença, capítulos antecedidos de epígrafes com haicais de Matsuo Basho e outros poetas, folhas grossas e ótima diagramação, esta publicação da editora 7 Letras só apresenta bons motivos para ser lida.

site: https://www.impressoesdemaria.com.br/2018/06/fazendas-asperas-geny-vilas-novas.html#more
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 13/07/2018

Geny Vilas-Novas - Fazendas ásperas
Editora 7 Letras - 216 Páginas - Lançamento: 2017.

Ao iniciar este texto, enfrento o primeiro impasse de todo resenhista que precisa apresentar informações objetivas ao leitor e, por este motivo, é sempre um escravo dos enquadramentos, fico com a seguinte dúvida: como resumir o gênero literário da mineira Geny Vilas-Novas? Memorialismo, autobiografia, romance de ficção ou prosa poética? Talvez um pouco de tudo isso em uma estrutura narrativa que oscila todo o tempo entre a primeira e a terceira pessoa, presente e passado, regional e universal. Bem, já se percebe que temos aqui um autêntico exercício de literatura na melhor tradição de outros grandes escritores de Minas Gerais.

A autora, que é também a protagonista na imagem da "Mãe rainha do lar", e tem na Literatura o seu refúgio, trabalha com um núcleo de personagens no presente, formado pelo "Pai" (na verdade, o marido), a "Nora de Olhos Oblíquos e Cor de Ônix", a "Filha de Olhos Cor de Esmeralda" e o "Filho" (sem adjetivos, apenas a identificação da letra maiúscula) em contraponto com outro grupo de personagens familiares do passado, iniciando com os seus pais, "lapidados em gemas raras", e chegando até a origem genealógica da família no Brasil a partir dos trisavós vindos de Portugal. A protagonista escreve sobre a própria família, sabendo que "todo escritor é mentiroso", ligando o passado com o presente e citando também fatos muito recentes da história brasileira, como o terrível assassinato ecológico do Rio Doce, ponto de referência da autora no mundo, para quem o livro é dedicado.

"Falar dos mortos é mais fácil, o problema são os vivos. Deus dá livramento. Não tenho paciência de pesquisador, sou voraz. Não sei apalpar, ou entro em um personagem e arrisco tudo, ou não toco no assunto. Vou contado a saga da família. Tudo é ficção, nada é oficial. São todos obscuros personagens. Existe um momento em que, se eu não escrevesse, a vida seria insuportável. Escrever exige distanciamento, e quando a emoção chega, ela já aparece decantada. Como se fosse um segundo plano, envolta em nuvens e bem camuflada. O corpo precisa estar entorpecido e os fatos não nos pertencem mais. São apenas palavras loucas, histórias difusas e irresponsáveis." (Pág. 36)

A técnica de Geny Vilas-Novas, parte do pressuposto de que "escrever bem não é suficiente", que "não basta usar as técnicas, como se fossem receitas de bolo. Escrever é maior do que isso. Exige uma história, e essa história tem que ser imperiosa, e 'ditar' com rigor como irá para o papel. E o papel é obrigado a iluminar-se, em contato com as palavras". Assim é que a Mãe, rainha do lar e "caçadora de palavras", vai contando uma série de histórias dos tios, primos e avós, algumas vezes acontecimentos trágicos, outras vezes momentos alegres da infância, mas sempre revelando muita intimidade com tudo que é humano e utilizando no texto imagens da mais pura poesia, como no trecho abaixo.

"Com os pais, lapidados em gemas raras, agora a Mãe só fala em sonhos e em lembranças. Moravam em uma casinha de vidro, no alto da colina, no Sítio de Cima. O riacho de cristal líquido corria vagaroso ou apressado. Se vagaroso, fazia remansos, marolas, cantarolava em cascatinhas e desaguava no Rio Doce e o Rio Doce corria com ele para o mar. Os raios de sol poente refletiam nas águas do Doce, e as transformavam em ouro líquido. Peixinho Dourado e a Mãe brincavam com aquelas águas sem pressa de chegar ao mar." (Pág. 37)

Os capítulos são introduzidos por epígrafes constituídas por haikais do poeta japonês Matsuo Basho (1644-1694), uma ponte inusitada entre o Japão feudal e o interior de Minas Gerais, mas que revela-se muito apropriada pelo uso da natureza como tema literário. Algumas vezes o lirismo da narrativa é interrompido por choques de realismo como o já citado atentado ao Rio Doce pela enxurrada de lama tóxica gerada pela indústria de mineração ou, até mesmo, o fenômeno da diáspora internacional, representado pelos refugiados da Síria que continuam sendo sepultados nas águas do Mar Mediterrâneo, mostrando que a vida também é isto e que, por vezes, seria melhor "ter uma pedra no lugar do coração".

A autora sabe que é preciso continuar contando as nossas histórias, o nosso legado familiar, mesmo sem o "ouro líquido" das águas do Gigante Rio Doce, continuar buscando o que ainda existe de bom na humanidade. E a literatura certamente é uma dessas coisas que podem justificar a vida e a teimosa permanência do nosso coração no lugar de uma pedra.
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Milena @albumdeleitura 11/08/2018

Fazendas Ásperas
Através da contação extremamente detalhada de sua própria história, Geny Vilas-Novas esbarra com o passado e busca reconstruir a trajetória de sua família desde a época em que imigrantes portugueses se instalaram em terras brasileiras e aqui constituíram seus novos lares, até o memorável palco de sua infância em Sítio de Cima - MG, às margens de um riacho que corria para o Rio Doce.

Entre lágrimas e sorrisos, alegrias e tristezas, a autora vai dando cor e vida a diversos personagens; cada qual com sua devida importância no enredo e totalmente indispensáveis para a conclusão deste quebra-cabeça tão singular composto pelos membros da família Neves e Villas Novas.

A narrativa não-linear permite que vários assuntos sejam abordados, possibilitando ao leitor a viagem entre um passado conturbado e um presente alvo de críticas políticas, sociais e econômicas.

"Não sei apalpar, ou entro em um personagem e arrisco tudo, ou não toco no assunto. Vou contando a saga da família. Tudo é ficção, nada é oficial. São todos obscuros personagens."

Paralelo a este enredo sentimental e nostálgico, a autora aborda a metalinguagem sobre o ato de escrever e toda a pesquisa necessária para a criação de uma obra autobiográfica, cultural e histórica quanto Fazendas Ásperas.

"Existe um momento em que, se eu não escrevesse, a vida seria insuportável. Escrever exige distanciamento, e quando a emoção chega, ela já aparece decantada."

"Se a escrita estiver muito bem comportada, desconfie. Sujeito, verbo e complemento. ‘Suje-a'. Faça inversões."

"Aqueles momentos, nas nossas vidas, eram tão raros, mas tão raros que mais pareciam sonhos."

Nesta obra que oscila entre presente e passado e mistura romance, ficção, memorialismo e prosa poética, Geny Vilas-Novas apresenta um estilo ímpar de escrita, levando o leitor muito além do enredo, ao proporcionar um encontro íntimo e pessoal com suas próprias raízes e memórias através da reflexão. Recomendo para todos aqueles que sabem apreciar uma boa escrita e que gostem de se surpreender com uma história tão bem desenvolvida quanto esta.

site: https://albumdeleitura.blogspot.com/2018/08/dica-de-leitura-168.html
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Maria - Blog Pétalas de Liberdade 20/12/2018

Resenha para o blog Pétalas de Liberdade
A narradora, que acredito se chamar Gabriela (por um trecho da página 91), vê sua mãe (ou talvez seja ela mesma) tentando escrever um livro de memórias sobre a família. Para isso, ela precisa conversar com parentes, resgatando os nomes e as histórias de seus ancestrais, voltando num espaço de tempo de aproximadamente 130 anos. Surgem obstáculos, como fazer contato com a parte da família que se distanciou após um discussão ou o temor de alguns parentes sobre expor as mortes e os casos de suicídio de alguns membros. E surgem também muitas lembranças. Boa parte delas acontecidas próximas ao Rio Doce, nas terras de Minas Gerais, onde a família nasceu, cresceu, casou, se multiplicou, morreu e foi enterrada.

"Fazendas ásperas” não foi uma leitura fácil. Uma história com personagens bem definidos e uma sequência de acontecimentos linear não é o que encontraremos aqui. Começando pela confusão com a própria narradora, que hora me parecia ser a filha observando a mãe tentando escrever e até mesmo ajudando-a nas investigações, hora me parecia ser a mãe falando de si mesma alternando em primeira e terceira pessoa... Na maioria das vezes, o nome dos personagens não era usado, optando-se por "apelidos" como "Peixinho Dourado" para a irmã mais nova, "mãe, lapidada em gemas raras" para a mãe da "Mãe"... Na página 41 há a seguinte citação: "Se uma obra não possuir corpo e alma, ela morre.", e o corpo de "Fazendas ásperas" estava nas minhas mãos, mas eu não consegui ver a alma dessa obra perto o bastante.

"O ouro, os diamantes, as águas marinhas enfeitam os museus do mundo. Fazem parte da coleção de príncipes, princesas e celebridades. As lavouras de café e os animais silvestres se foram com as matas. A nossa última chaga, da qual ainda não conseguimos estancar o Sangue, é a dos retirantes que emigram para os Estados Unidos. Santo Deus! O que está acontecendo com Minas Gerais?" (página 74)

Não encontrei só pontos negativos nessa leitura. Há várias aspectos que me agradaram. Por exemplo, a ligação da família com Minas Gerais, seus costumes, o jeito de ser mineiro, ler sobre isso foi um encanto para mim, uma mineira apaixonada pela minha terra, pela minha gente e pela nossa História. Ver meu sobrenome - Pereira - como sobrenome da família, também me fez ficar mais conectada à leitura.

"Falei: Vovó não era bonita, tinha a testa muito grande. Ela olha para o filho que a trouxe e sorri: É a marca registrada da família." (página 206, testa grande também temos nos Pereiras aqui de Liberdade)

Alguns capítulos da obra funcionariam facilmente como crônicas. A autora traz muitas referências a assuntos da atualidade, como a migração de mineiros em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Geny aborda especialmente a tragédia de 2015, onde uma barragem da mineradora Samarco se rompeu, encheu de lama o Rio Doce, causando mortes de pessoas, animais e vegetação. Se para uma pessoa comum, o fato já foi revoltante, imaginem para alguém que tinha tantas boas memórias vindas do Rio Doce, e de uma hora para outra, ver destruído o seu lugar favorito no mundo!

A edição traz uma capa predominantemente verde, com a imagem de uma velha casa, muito semelhante aos velhos casarões que encontro aqui em Minas. Temos páginas amareladas, com letras, margens e espaçamento de bom tamanho. Não me lembro de ter encontrado erros de revisão.

Enfim, se a resenha parecer um pouco confusa, sem abordar muito personagens ou história, é apenas um reflexo de como foi a leitura para mim, com pontos altos e baixos, uma experiência bem diferente das minhas expectativas. Um livro interessante, mas difícil de ler (não pela linguagem utilizada) e difícil de resenhar. Sugiro que confiram outras resenhas dele no Skoob para terem mais opiniões.

site: https://petalasdeliberdade.blogspot.com/2018/08/resenha-livro-fazendas-asperas-geny.html
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