Naty__ 08/04/2018Deixou a desejar em gênero, número e grauAo finalizar essa leitura, fechei meus olhos e pensei: “O que estou fazendo da minha vida?” Chegar ao final era uma das minhas metas primordiais, no momento, afinal, seria como concluir um dever de casa que não estamos muito solidários a fazê-lo.
Dennis Danson é o protagonista, ele está preso há mais de 20 anos pelo assassinato brutal de uma jovem em Red River. Famosinho, o prisioneiro passa a ser o assunto principal num documentário a respeito de crimes reais, com o fito de descobrir a verdade e libertar um possível inocente. Sim, eu disse possível porque alguns acham que ele realmente não cometeu o crime. Em contrapartida, Samantha acredita nas alegações de inocência e resolve fazer uma campanha para tirá-lo da prisão. E é aí que as coisas começam a desnivelar e meus olhos querem ser fechados.
Sam passa a escrever cartas ao jovem rapaz. Ah! Detalhe importante é que ele é considerado um cara bonitão, ainda que tenha envelhecido, mas a aparência continua invejável e as mulheres ficam loucas por ele. Não sabemos nada sobre os traços físicos de Sam, a autora apenas foca em dizer que ela tinha complexo com gordura, com o rosto e acaba por aí. O que ela tem de encantador eu não sei, mas Dennis viu algo nas cartas dela; os dois acabaram se apaixonando e ficando juntos.
Rio Vermelho é o típico livro que vai te deixar indeciso, logo no início. Aliás, para ser sincera, ele me proporcionou sentimentos indescritíveis. E não entendam isso como algo mil maravilha. Acredito que esse fator ocorreu por causa dos protagonistas. Em momento algum senti afeto por eles, em parte alguma consegui dar credibilidade à ideia veemente de Sam, nem tampouco ao Dennis – que, cá entre nós, estava enfadonho.
Não vou dar continuidade ao que acontece, mas se vocês derem uma lida na sinopse ela contará, do início ao fim, o destino de ambos – o que, para mim, tirou todo suspense da história. Não é nada difícil descobrir quem é o culpado de tudo. Logo no primeiro capítulo as coisas ficam claras e o mistério não existe. Já iniciei a leitura sabendo o que aconteceria, principalmente quando temos uma sinopse tão de mão beijada. Esse foi um dos pecados mortais, no meu simplório ponto de vista. Não vou adentrar à história tanto quanto a sinopse fez, não vou dizer que eles se casaram, que ele saiu da prisão e nem que... Não, pera!
Vamos analisar de modo profissional o motivo de esse livro fazer tanto sucesso por aí, porém, de não ter me agradado – é melhor do que soltar spoilers. Já aviso de antemão que os pontos que me incomodaram podem ser considerados pontos positivos para vocês, o que não tira o fato de cada um ter o seu exemplar e tirar as próprias conclusões. Ok? Natalia não gostou. A crítica do gênero, a que já leu muitos livros desse estilo e já está um pouco saturada de elementos neutros, bem como a ausência de mistério. Combinado assim?
O incômodo começou logo na narrativa. A autora resolve mesclar a história, em tempo real, com cenas do documentário. Primeiro ponto que deixou a escrita como passos de cágado. O segundo obstáculo enfrentado durante a leitura foi a personalidade de Sam. Ok, eu sei... Já sei isso também. Entendo todo o psicológico que a autora tentou utilizar para criar uma personalidade mais humana, do nosso dia a dia. Ponto para a criatividade dela. No entanto, não acredito que tenha sido tão bem desempenhada.
Quando era estudante de Direito, fiz muitas pesquisas a respeito da mente humana e analisávamos aquelas consideradas doentias, perversas e tantas outras mais – pude perceber que essas coisas realmente existem e são lamentáveis. O fato de existir (friso) não quer dizer que tenha desenvolvido com sucesso. Afinal, a história me pareceu um tanto quanto superficial, no momento em que ela resolveu enviar as cartas. Não consegui captar um elemento envolvente, de início; nem tampouco fui convencida pelas ideias rasas de Sam. A autora teve a ideia de mostrar como uma mente pode se fechar para as coisas do nosso dia a dia, para sentimentos amorosos e não sei mais o quê. Entendo isso. Juro por Deus que entendo. Todavia, não aceito a superficialidade imposta.
O terceiro ponto que considero essencial para abordar é sobre a falha na construção. Dennis ficou 21 anos preso, sem prova concreta sobre si, supostamente havia DNA dele nos dedos da garota (que foram arrancados antes de ser encontrada morta) – o que não fala mais nada, posteriormente. Simplesmente foi preso e, depois de um novo julgamento, com muito protesto, foi absolvido. Esse fato eu nem vou adentrar, pois sei que há falhas no sistema judiciário, tanto para culpá-lo quanto para inocentá-lo.
O quarto e último detalhe que precisa ser falado impreterivelmente: o desfecho. Durante todo o livro tivemos uma narrativa lenta, compassada e até mesmo exagerada em alguns pontos. E quanto ao final? Mais veloz do que Usain Bolt. As palavras foram atropeladas, a revelação foi contada apressadamente. Se vocês acharem que é exagero, na página 253, em apenas um parágrafo, somos apresentados ao (não tão) grande final.
O livro tinha tudo para ser o melhor dos melhores lidos este ano. E podem apostar que muitos vão considerá-lo assim, ele foi até premiado. Porém, quem está acostumado com esse gênero vai encontrar muitas falhas na construção. Para quem gosta de um romance e não é muito leitor de thrillers como esse, certamente vai se sentir mais à vontade para apreciar e degustar uma boa história.
Ainda que você seja fã como eu, não vire a cara ao livro apenas porque eu disse coisas ruins a respeito dele. O que é bom para um não é tanto assim para o outro – e vice-versa. Muitos têm medo de fazer uma resenha crítica por medo de perder parceria com a editora, com os autores ou até mesmo por perder leitores. Mas acredito que seria bem pior se eu viesse contar inverdades e vocês corressem com sede ao pote achando uma coisa e, no final, não ser o que pensou.
Acontece de um livro não ser bom para mim, mas ser para você. Acontece de recebermos um livro, em parceria, que não agrada. Mas temos de ser profissionais e pontuarmos fazendo jus ao que somos. Não sou perfeita, ninguém o é. Porém, eu não fui a única a ter esse ponto de vista.
Aproveitem o exemplar que estamos sorteando, em parceria com a Faro Editorial, e tenha o seu em mãos para ter a sua própria opinião. E desejo que seja uma ótima experiência!
Sobre a edição:
Difícil não gostar dos trabalhos estéticos da Faro. Sempre muito bem impecáveis. A capa é bem bonita, com relevo no título e as páginas dentro, como puderam ver nas fotos, são trabalhadas. A diagramação é excelente. Achei apenas três erros de revisão. No mais, o trabalho ficou show.
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2018/04/resenha-rio-vermelho.html