spoiler visualizarCris Moraes 16/02/2018
Uma leitura envolvente.
SPOILER
"O Alforje". Este livro me envolveu de diversas maneiras, em diferentes momentos. Do momento de sua chegada, da surpresa proporcionada pelo brinde que o acompanhava, as cores, as figuras, os bordados, o aroma intrínseco em cada página. Além disso, a narrativa envolvente em cada personagem apresentado com suas peculiaridades, com suas histórias de vida... Eu devorei o livro em dois dias de leitura (duas tardes somente, para ser mais exata). Acabei me sentindo muito além das Histórias das Mil e Uma Noites, totalmente presa às palavras por uma espécie de magia ou de algo místico, não sei bem.
Quando fui me apresentar à escritora, aí consegui vislumbrar um pouco da razão de minha empatia com a narrativa toda. Bahiyyih Nakhjavani tem por doutrina religiosa a Fé Bahá'i. E diz claramente que sua inspiração religiosa perpassa seus escritos. Tenho de concordar. Conheço um pouco das Escritas Sagradas Bahá'is. E realmente o texto de Bahiyyih Nakhjavani traz muito da espiritualidade, da crença, da vivência da Fé Bahá'i. Eu costumo dizer que é uma escrita terna, aconchegante, acolhedora, envolvente mesmo. É uma linguagem cheia de poesia e carregada de muito sentimento. Isso está bem presente em toda a narrativa.
Falando da história em si, percebemos que cada um dos personagens tem a sua crença religiosa específica. E cada um enxerga uma mesma situação no deserto de acordo com suas crenças e suas experiências. Ressalta-se que todos eles estão em uma peregrinação. Todos estão caminhando em alguma direção, realizando uma busca, almejando um objetivo. Todos estão atravessando um deserto (quer figura mais emblemática do que esta?). Poderia ser apenas mais um clichê esse caminhar de todos por um deserto, enfrentando uma dolorosa tempestade de areia, mas também encontrando o alívio da água fresca em um poço abundante, a mesma história narrada diversas vezes... Porém, Bahiyyih Nakhjavani faz com que cada personagem tenha um encontro marcado e diferente com os escritos que estavam em um Alforje. Desse encontro, surge para cada um e a sua maneira própria, um momento de iluminação, de redenção, de superação, de encontro consigo mesmo e com a divindade maior. Deus? O fim de uma busca? A iluminação?
O que seriam os rolinhos? Seriam os escritos alguma espécie de orações, de mensagem bíblica, de mensagem espiritual? A escritora não cita as palavras exatas de nenhuma das mensagens, apenas faz alusão ao conteúdo de cada uma e do impacto causado em cada personagem. Estaria ela então afirmando que o acolhimento e a compreensão (ainda que momentânea) daqueles escritos é quem determinaram o destino de vida de cada uma daquelas pessoas?
Talvez. Fica aí uma reflexão a ser realizada de várias perspectivas. A verdade nunca é absoluta. Pode ser questionada e interpretada. Acaba sendo vivenciada de muitas formas diversas.
Por fim, valeu a experiência de não apenas conhecer as imagens da história, mas também poder sentir o seu cheiro, o seu aroma. Realmente, uma experiência cheia de nuances diferenciadas.
Peço desculpas se minha impressão da história ficou meio longa e muito melosa, ou parecendo ser tendenciosa. Sei que, para alguns, esse tipo de narrativa é insuportável, repetitivo e cansativo. Para mim, foi uma experiência muito boa. E única até então. Que venham outras.