CrisVieira~ 01/08/2021Uma História em Construção e com mais Reviravoltas do que o Próprio Autor ImaginariaComecei esta leitura empolgada pelas informações . Li as primeiras páginas e já pensei que seria um bom conteúdo para se abrir ver. E realmente is primeiros capítulos sai riquíssimos em detalhes sobre o passado mais distante. Já verdade, livros didáticos de todo o planeta deveriam conter está informações que esclarecem de forma mais lúcida e racional uma época que fomos educados para chamar de "pré-história". Neste ponto é necessário que haja correção e compartilhamento do que já existe sobre as diversas espécies humanas e dobre a única que restou depois de milhões de anos: a Homo sapiens.
Foi muito prazerosa e informativo, como disse antes ler este inicio do livro. Apesar de alguns pequenos vícios de linguagem e equívocos sobre mulheres e pessoas pretas, o apanhado sobre construção de discursos, ou como o livro diz, da 'imaginação' para conseguir a cooperação dos sapiens.
Porém, após esta parte, começou a ocorrer um declínio nas informações. Como este livro foi originalmente publicado em 2012 - provavelmente escrito no final da primeira década do século XXI -, todas as informações posteriores a tal ano de publicação, as quais vieram se juntar ao apanhado que já compõe a história humana sobre a Terra - geraram uma reviravolta frente à visão do autor. Pois os dados sobre avanços tecnológicos são concretos, mas as expectativas de Harari em relação à humanidade não mostram que caminham para se cumprirem.
Infelizmente, no Brasil, por exemplo, (bem como em todo o resto do planeta) iniciamos a terceira década do século XXI movidos pela perplexidade e pela dor, testemunhando um evento global que era previsto mas não se esperava concretizar e que alterou os rumos de toda a espécie humana Homo sapiens.
A ideia de "era de paz" em que Harari, de maneira otimista, disse que vivíamos não é real, exceto: 1) em comparação à vida no planeta - da qual conhecemos pouco, ocorrida há milênios quando os sapiens migraram para onde outras espécies humanas viviam; e 2) para uma parte dos Sapiens que desde antes o ano de 1500 d.C. - este sendo um marco que o próprio autor trata como "uma revolução", foi o início de algo que até os dias atuais gera grave sofrimento a duas coletividades importantíssimas - usufruem de cada mazela que é provocada contra os próprios humanos bem como o resto da vida neste planeta em troca de dinheiro e manutenção de discursos alienantes.
No caso, Harari disse que o sofrimento de hoje seria pontual, individual; não reconhecendo a gravidade da manutenção de algo que, na primeira parte do livro, ele expõe com conhecimento sobre o assunto, mas na segunda, Harari releva para falar de assuntos que não são realmente importantes para o futuro desta espécie se não tocam em pontos cruciais como o imaginário acerca de raça, classe e gênero. Estes três sendo fundamentais para qualquer discussão sobre o futuro desta espécie. Falar disso como se não interferisse diretamente na jornada humana atualmente bem como futura é temerário.
Que o digam as manifestações no Chile em 2018-19, do movimento Black Lives Matter em 2019-20, ou na Colômbia neste ano de 2021! E não podemos esquecer os atos de mulheres pelo mundo por direitos respeitados, ou contra um político que consideraram, acertadamente, inadequado para ocupar um cargo de liderança em um país latino-americano. Ou mesmo, neste ano contra algo que nem mesmo o próprio autor poderia prever (e mostrando o quanto historiadores agem corretamente ao não aceitarem agir como "futurólogos", deixando isto para a Ficção) sobre um vírus que age no planeta desde o início do século XX (os primeiros casos confirmados surgiram em 1937), mas que não apenas sofreu uma mutação significativa como também se espalhou rapidamente e ocasionou mais de 4 milhões de mortes em todo o planeta ao longo de dois anos.
Este ano nos mostrou que o presente não possui vantagens como se imagina. Yuval Harari, o autor do livro, acertou quando disse não saber se somos mais felizes hoje com o rastro de destruição às nossas costas gerado em troca das facilidades que a vida moderna nos concede.
Pois não somos.
Temos mais fontes e formas de prazer e diversão atualmente do que jamais se poderia imaginar há 500, mil anos atrás, mas, como ele bem disse, felicidade e prazer são coisas diferentes. E mais ainda, diante do cenário global atual podemos perceber que mais do que um futuro com "super-cyborgs", nossa luta hoje é para que, ao menos,
haja um futuro.
Enfim, foi uma leitura interessante, mas infelizmente - apesar da quantidade de dados e informações corretas -, opinativa.
Não temos noção sobre o futuro e apesar de haver certa justiça em se sonhar com futuros onde seríamos capazes de gerar vida artificial, necessitamos dos dois pés no chão para evitarmos que antes disso, os próprios Homo sapiens, que somos nós, adiantem o relógio da extinção; nossa e dos demais animais que ainda sobrevivem, apesar de nós.
Espero que o autor volte a escrever sobre o assunto (já que considerei sua escrita consistente e fluída, mesmo não concordando com algumas de suas opiniões sobre sociologia, política e geopolítica), talvez refletindo sobre as alterações que duvido que o próprio Harari esperava ocorrerem neste curto espaço de 6 anos após a publicação da obra, pois ele perceberá que várias de suas crenças necessitam serem expandidas para muito além da cultura em que ele mesmo está inserido.