Minoda 11/02/2019
Uma estrela em meio à escuridão total
Ao final de Elevation lembrei dos últimos momentos da primeira temporada de True Detective. Rust e Hart discutem na saída do hospital sobre a subjetividade da história mais antiga do universo: a luta entre o bem e o mal, a luz contra a escuridão. Hart olha para o estrelado da noite e diz que "(...) me parece que a escuridão tem muito mais território". Ao passo que, momentos depois, Rust replica: "Você está olhando errado (..) Antes, era só escuridão". E somos deixados com a imagem do céu da noite que se ajusta aos olhos humanos, onde aos poucos algumas estrelas começam a surgir e ganhar espaço na escuridão.
Elevation, entretanto, não é uma história sobre o bem contra o mal, mas sim um exercício de empatia que o King nos convida a fazer.
Estamos tão acostumados a ler o lado mais sombrio e pesado do mestre King, que não conseguimos lidar quando algo diferente disso nos é oferecido. Confesso que eu mesmo, em um primeiro momento, deixei esse livro de lado e decidi por outro, simplesmente porque algumas críticas me levaram a crer que Elevation era um simples passatempo que pouco lembrava o talento de Stephen King; e me arrependo por isso.
Elevation nos coloca em um universo onde só temos uma alternativa: aceitar o que nos é oferecido como realidade. Com isso quero dizer que, assim como aconteceu com o seriado The Leftovers da HBO, o fundamento do mistério que nos é apresentado logo de cara na narrativa, não é "relevante" para a conclusão da mesma. Isso é o que é. A história não é sobre as mudanças "físicas" / "impossíveis" que acontecem com Scott Carey.
Stephen King nos presenteia com uma história sobre paz.
Sobre a paz em aceitar as dificuldades que nos assaltam de uma hora para outra e, ao invés de questioná-las infindavelmente, procurar uma maneira de estar bem consigo e tirar o melhor que aquilo pode te oferecer. Aliás: Extrair o melhor que aquilo pode oferecer e talvez não apenas para você. Sobre a paz em entender que a felicidade, muitas vezes confundida com momentos de euforia, não vem acompanhada de algum tipo de mérito; está na resolução de problemas, em identificar o que precisa ser feito, com você ou ao seu redor, e fazê-lo independentemente das adversidades.
A vida é imprevisível. E, muitas vezes, de nada adianta questioná-la sobre as coisas que acontecem, pois além de imprevisível, a vida também é finita e o tempo... O tempo corre em nós.
Elevation é um pequeno texto com um lado mais humano e sensível de Stephen King. É um exercício muito mais sóbrio e maduro de diálogos e relacionamentos, do que em outros trabalhos do autor, como em "Insônia".
Particularmente, após tanto ler trabalhos do mestre King, eu sentia que precisava ler algo novo e que não fosse dele. Mas fiquei muito feliz em descobrir que mesmo em mais um livro do Stephen King, eu encontrei esse algo novo, leve e gracioso.