pedrocipoli 06/09/2018
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O título resume bem o “pensamento” de um dos autores explorados no livro. Trata-se de Jacques Lacan, e pode parecer alguma espécie de conhecimento superior, mas não. É apenas uma linguagem que é propositadamente confusa para esconder uma “ideia” que pretende ser complexa, mas é simples, e geralmente fraudulenta. Como diz Roger Scruton: (peço desculpas por possíveis erros de digitação) “Em função de sua imensa desfaçatez intelectual, sua truncada regurgitação de teorias que claramente não explorou nem entendeu não possui paralelos na literatura recente”.
Então que tal o “Mas, pela própria reciprocidade de coerções e autonomias, a lei termina escapando a todos e, nos agitados momentos de totalização, surge como Razão dialética, ou seja, externa a todos porque é interna a cada um, e como totalização em desenvolvimento, embora sem totalizador, de todas as totalizações totalizadas e de todas as totalidades totalizantes” de Jean-Paul Sartre? Trechos como esse são comuns em todos os autores de “Tolos, Fraudes e Militantes”, uma obra-prima sobre o pensamento da Nova Esquerda.
Os autores estudados incluem os já mencionados Lacan e Sartre junto com Hobsbawn, Thompson, Galbraith, Dworkin, Foucalt, Habermas, Althusser, Lacan, Deleuze, Gramsci, Said, Badiou e Zizek, além de Adorno, Lukacs, Marcuse, Anderson, Horkheimer e Rorty. Uma pletora de “intelectuais” presente em qualquer faculdade de humanas, reverenciados como os profetas de um mundo melhor.
O que têm em comum? Um compromisso visceral com o comunismo, em especial uma tentativa de salvar Karl Marx dos resultados genocidas de suas teorias. Mais ainda: salvar Karl Marx da Realidade, tentando protegê-lo da fraude que ele realmente é. Não aceitam qualquer ideia que contrarie suas visões de mundo e consideram Karl Marx uma espécie de Jesus laico. Rejeitam obstinadamente a realidade e, quando esta invariavelmente se prova correta, bom, pior para a realidade.
Outro ponto, uma burocracia linguística inacreditável é proposital. Escrevem “difícil” não por explorarem uma teoria complexa, mas exatamente para não serem compreendidos. O que é esperado, já que quando alguém entende o que eles realmente querem dizer, como é o caso de Roger Scruton, acha-se apenas compromisso ideológico e teorias infantis que se auto contradizem e, em alguns casos, são francamente criminosas.
Hobsbawn, por exemplo, apoiava abertamente os gulags. Não a ideia romântica dos comunistas de iPhones atuais de que os gulags eram o paraíso. Não como um desvio. Os gulags que torturavam todos e qualquer um. Os gulags como solução para os “traidores do movimento”. Esse mesmo Hobsbawn que ainda hoje é visto como um historiador sério por qualquer estudante de humanas que manda você ler história enquanto dizem que a nossa ditadura militar foi o pior acontecimento de todos os tempos (os milhões e milhões mortos em nome do comunismo são apenas um detalhe técnico).
Dworkin, outro que merece destaque, é o criador desse retrocesso civilizatório que é o ativismo judicial. Segundo ele, pouco importam as leis, mas sim o que um juiz diz, mesmo que ele decrete exatamente o contrário do que está previsto na lei...baseado na lei. É o “avô” do nosso STF, os não eleitos que jamais seriam eleitos, que querlegislar sobre tudo, da legalização do aborto até sobre o planejamento de fronteiras (protegendo seus camaradas corruptos, claro).
Que tal Adorno, Habermas, entre outros da Escola da Frankfurt? Os nascidos em berço de ouro que se consideravam os donos do proletariado. Não o proletariado real, é claro, mas sim o proletariado teorizado por eles mesmos. Nas palavras de Scruton: “Parece que o pensamento proletário não é encontrado na obra de escritores proletários, mas somente nos clássicos marxistas”. Essa idealização dos pobres que existe até hoje, com intelectuais que acreditam saber o que eles pensam, o que geralmente é o contrário do que a “classe” proletária realmente quer. Intelectuais e esquerdistas em geral acreditam ser os donos dos pobres, sabendo o que querem, o que sentem, mesmo que não tenha a menor evidência na realidade. A realidade é, afinal, uma “invenção burguesa”.
Habermas, que escreve com uma “burocracia linguística”, não explica nada e não tem nada a dizer, e exatamente por isso é adorado. Depois de um estudante de humanas dedicar tanto tempo à leitura de seus livros (se é que leu algum, considerando a mecânica de uma faculdade de humanas), a solução é defendê-lo sem saber o motivo, recitar passagens que não entendeu (e que não significam nada) até a morte. Mas nunca, jamais, admitir o vazio de ideias das suas teorias.
E que tal Gramsci, esse que até ontem era visto como uma teoria da conspiração? Universidades, mídia e intelectuais completamente intoxicados por ele, transformando nosso país em regime totalitário de cultura. Discordar virou crime, discutir somente quando ambos concordam com uma opinião de esquerda. Olavo de Carvalho (A Nova Era e a Revolução Cultural, 1994) disse que isso aconteceria há mais de duas décadas, mas ele é um “fascista, direitista, ocultista, agente da CIA e amante da ditadura”, então ninguém deu bola.
Por fim, sinto a obrigação de destacar o monumento cultural que é Roger Scruton. Além de ser uma verdadeira enciclopédia humana, faz algo que não vemos mais hoje: um tratamento respeitoso de seus “oponentes”. Mesmo mostrando o vazio filosófico dos autores acima, o faz com respeito e educação. Seus livros seguem a linha “essa teoria está errada por causa disso, disso e disso, e aqui está a prova”.
Tolos, Fraudes e Militantes deveria ser leitura obrigatória em qualquer universidade de humanas do país e do mundo, além de ser insubstituível para quem quiser conhecer os autores responsáveis pelo “totalitarismo cultural” atual. Não consigo ser claro o suficiente sobre a importância dessa obra, mas vou tentar: comprem “Tolos, Fraudes e Militantes”, leiam, anotem, releiam, passem para seus amigos, converse sobre ele. Se você tiver que escolher um livro para ler este ano, leia esse.