imsoffia 04/04/2024
Um final que não foi a altura da série
“Mas mesmo que o deserto esquecesse nossas mil e uma noites, saber que ele falaria sobre nós já era o suficiente. Que muito tempo depois de nossa morte, homens e mulheres sentados em volta da fogueira ouviram que uma vez, muito tempo atrás, antes de sermos somente histórias, nós vivemos.”
É com muita dor no coração que me despeço da trilogia “A Rebelde do Deserto”, pois foram três livros que conquistaram meu coração de um jeito inexplicável. A mitologia, os personagens, a ambientação e a política dessa obra foram todos muito envolventes. Eu, genuinamente, consegui imaginar como seria Miraji.
Infelizmente, dos três livros, esse último, apesar de ser o mais emocionante, foi bem inferior aos livros anteriores. Entretanto, foi uma história envolvente e possuiu seus pontos positivos e seus pontos negativos.
Primeiro, gostaria de ressaltar que a escrita da autora é maravilhosa! Ela conta a história de um modo tão gostoso, que me faz ter a sensação de estar vendo um filme. Quando pensava que tinha lido apenas poucas páginas, via que já tinha lido muito mais do que o previsto de tão interessante.
Além disso, é perceptível a evolução da Amani. Ela começou a se preocupar mais com os outros, ser mais empática e entender o que ela realmente desejava em seu coração. Se transformou em uma protagonista muito forte e marcante, capaz de entregar sua vida por aquilo que acreditava ser certo.
Outro fator positivo desse terceiro volume, foi o contato que os personagens tiveram com alguns seres e locais míticos, que antes não eram nada mais do que lendas e histórias, como a Muralha de Ashra.
Outra coisa que eu gostei foi das mortes de alguns personagens muito queridos. Apesar de ter desejado que todos sobrevivessem e encontrassem um final feliz, as mortes deles tornaram o livro mais emocionante e “real”. Afinal, eles estavam em guerra e era impossível que todos sobrevivessem a ela.
Enfim, de modo geral, o livro é muito bom! Possui ação, romance, lendas vivas e, principalmente, mexe muito com o emocional do leitor. E, também, o epílogo… Meu Deus! Que perfeito! Ver o que acontece depois do final é a maior curiosidade do leitor, e aqui vimos o que aconteceu depois do “felizes para sempre”. E foi muito bom.
Entretanto, há diversos pontos negativos nesse último volume. Poderia ter sido um final espetacular e marcante para uma trilogia maravilhosa. Mas, faltou desenvolvimento em alguns aspectos, principalmente nas cenas de batalhas.
O primeiro fator negativo foi a redenção do Noorsham. Ele aparece no primeiro livro, fica desaparecido (e não nem citado) no segundo, e, aqui no terceiro, não fica nem cinco páginas e morre. Não é que não tenha sido bonito seu final, ele alcançou seu objetivo e se tornou alguém essencial para Miraji. Foi uma cena linda e eu chorei (de verdade). Contudo,na minha opinião, faltou um desenvolvimento em dois aspectos nesse personagem: a sua história e a sua relação com sua irmã, Amani.
Outra coisa que não gostei, foi o pouco desenvolvimento das lendas presentes nesse livro. Apesar de ter gostado do aparecimento delas, faltou um maior aprofundamento. Por exemplo, o “Homem da Montanha”, que era dito como uma lenda milenar, estava todo esse tempo sob as montanhas de Sazi. Então, era somente os mineradores terem escavado só um pouquinho mais fundo que o teriam encontrado. Pensei que ele estaria escondido por magia e que seria necessário um “ritual” para encontrá-lo, mas não foi. Posteriormente, é revelado que ele era o tão temido “Criador de Pecados” e, novamente, pensei que seria um personagem relevante para a história. Porém, sua história é brevemente citada e, depois, ele some do livro.
Além disso, a lendária Cidade de Eremoth, o principal objetivo de Amani nesse livro, é muito pouco explorada. Por exemplo, a “Destruidora de Mundos”, que é tão citada e temida pelo povo de Miraji, habita esse lugar, mas ela nem aparece e é rapidamente esquecida. Principalmente num acontecimento envolvendo a Shazad e a Amani, mas ele não é relevante para a história. Pensei que a “Destruidora de Mundos” seria mais relevante para o final do livro. Ademais, a própria Cidade de Eremoth, que foi tão idealizada nos livros anteriores, dizendo que era praticamente impossível encontrá-la e uma lugar ancestral para o djinnis, foi tão mal trabalhada. Pois, indo contra o que foi dito, foi rapidamente encontrada (estava todo esse tempo em uma montanha ao sul de Miraji) e, depois, os rebeldes facilmente saíram de lá.
Outro aspecto envolvendo o “Criador de Pecados”, é que foi revelado que, na verdade, ele se chamava Zaahir, um dijini injustiçado por seus irmãos, por amar a primeira humana e heroína da história (outra revelação pouco explorada). Pensei, que após milhares de anos presos , sua libertação teria um alvoroço maior e que a sua vingança falha contra os outros djjinis seria mais relevante e trariam mais gatilhos para possíveis acontecimentos. Mas, não… ele foi liberto e é só isso mesmo.
Também, a batalha final foi muito broxante! Cenas que deveriam ter sido mais emocionantes, como a libertação de Fereshteh e a morte do sultão, foram rapidamente citadas e cortadas para outra cena destoante.
Por fim, alguns personagens deveriam ter tido mais relevância, como o próprio Ahmed, que iniciou a rebelião, mas foi reduzido a apenas alguns elogios e aparições.
Portanto, o que posso dizer é que, de modo geral, a trilogia “A Rebelde do Deserto” é maravilhosa. Possui personagens incríveis e marcantes, uma mitologia grandiosa e uma ambientação maravilhosa. Entretanto, o livro final deixou muito a desejar, faltando desenvolvimento em aspectos e cenas muito corridas,ou seja, deixou várias pontas soltas. Então, em resumo, esse livro tornou-se um fim ok para uma história maravilhosa demais e que não representa sua grandiosidade.
Para finalizar, gostaria de dizer que, apesar de o final não ter me agradado tanto, eu recomendo muito essa trilogia. Principalmente, pelo fato de o leitor acompanhar a Amani deixando de ser apenas uma garota do deserto para se tornar uma grande heroína.