Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018A Heroína da Alvorada - Alwyn HamiltonA Rebelde do Deserto virou uma das minhas trilogias de fantasia mais queridas depois do fim desse livro que, diga-se de passagem, foi incrível. Pra já tirar logo do caminho, Alwyn Hamilton finalizou a história de forma maestral e nos deu bem mais do que o esperado, posicionando coisas bem a frente para uma visão bem mais ampla do seu universo.
Acho que uma das coisas que mais gostei aqui foi o fato de, pela primeira vez, termos Amani em uma posição de liderança. Por mais que ela sempre tenha sido uma personagem com personalidade forte, de certa forma, a história ia sendo contada através do caminho de outras pessoas. O encontro dela com Jin, a causa de Ahmed. E aqui, o palco é dela e somos surpreendidos por uma posicionamento diferente. Ela sabe o que precisa ser feito e mesmo que isso tenha consequências, está disposta a ir em frente. Isso mostra um amadurecimento muito grande da Amani que começa essa história sendo apenas uma garota que quer fugir de casa.
Sendo um livro final, é preciso estar preparado para se despedir de alguns personagens. Porém, todos eles tem a sua chance de brilha e se despedir de forma correta da narrativa, tendo um papel relevante na história que está sendo contada. Isso faz com que as mortes tenham propósito e não estejam ali apenas para chocar. Uma em especial me doeu um pouco mais, mas aceitei todas elas pela sua importância na história.
“A crença era um idioma estrangeiro à lógica.”
Algo que também é muito explorado aqui são as lendas e uma proximidade muito grande com elementos de As Mil e Uma Noites. Por mais que também se passasse no deserto e houvessem os Djenis, nunca tivemos esses aspectos como uma grande referência e aqui, a autora uso coisas bem particulares para estabelecer esse elo e colocar pequenos temperos ao longo da narrativa. Junto com isso também conheceremos mais sobre as lendas e a mitologia que habita esse universo. Isso é ótimo, principalmente porque a autora já revelou que vai continuar escrevendo dentro dele, décadas a frente, o que também super se alinha com o fim dado ao livro que nos proporciona entender bem sobre que contexto teremos ao adentrarmos essa nova história.
Vamos ter o reaparecimento de vários personagens, afinal, Alwyn nos presenteou com encerramentos para todos eles, mesmo que alguns com bem menos destaque do que outros. É uma satisfação enorme perceber que a autora não “se esqueceu” de ninguém. Perceber que desde o princípio aqueles personagens estavam ali por um motivo e não apenas para serem mais um na história. E, ainda conectado a isso, teremos capítulos intercalados onde nos são contados visões e histórias de personagens que habitam essa trama, mas que não tem pontos de vista reais dentro do livro. Por vezes é algo que remonta muitos anos atrás, mas que se conecta com o presente. Em outros está diretamente ligado ao que virá a seguir ou já aconteceu. Isso ajuda a nós leitores a também nos despedirmos desses personagens tão queridos.
A narrativa da autora segue leve e conseguimos ter um bom panorama em todas as cenas, inclusive nas que temos mais ação. E há picos bem diferentes aqui que se intercalam também, deixando o livro dinâmico para que possamos ter todas as respostas, atar todas as pontas e ainda assim ter uma história concisa, cheia de lendas, tramoias e desfechos.
Se tem algo que me encanta profundamente sobre essa história é como a política é trabalhada. Há um grande universo fantástico aqui, com uma cultura que é diferente, mas muito semelhante a partes atuais do mundo. Isso não é por acaso. As críticas sociais, assim como todas as questões políticas que a autora levanta aqui como parte da narrativa podem servir muito para que a gente reflita no nosso dia a dia, e isso é muito bacana. Quando temos uma visão do futuro e do que surgiu ao fim de toda a luta travada aqui, percebemos ainda mais as semelhanças e, de certa forma, uma certa esperança pelo que virá.
Não posso finalizar essa resenha sem mencionar as interações dos personagens. Há momentos muito divertidos, assim como há momentos devastadores. E há aquelas pequenas interações e reencontros que fazem tudo voltar a se encaixar com um sentimento legal. Sobre romance, que foi algo que esteve muito mais forte no primeiro livro do que no segundo, também vamos ter um desfecho que, para alguns até pode soar “clichê”, mas que pela forma como foi conduzido, ganhou meu coração.
“Então ela resolveu que não mudaria só o mundo na mente das pessoas, mas também o mundo real. E jurou que morreria antes que outra pessoa a usasse mais uma vez.”
No fim do dia, fiquei muito feliz com todas as escolhas da autora e, mesmo que hajam aqui e ali algumas pequenas coisas que poderiam ter sido mais surpreendentes ou feitas de forma diferente, me encho de alegria ao pensar nesse livro pela forma como tudo se encerrou.
Dou adeus a essa história já com saudades e espero ansiosa para retornar. Foi uma jornada incrível através das areias, ao lado da Bandida de olhos azuis, com um tiro certeiro ao alcance da mão, o mundo na ponta dos dedos, em busca de uma nova alvorada e um novo deserto.
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