Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018O Dueto SombrioA Melodia Feroz foi uma das minhas leituras favoritas de 2017 e, com toda a certeza, a melhor entre os livros da autora que eu já li e, portanto, haviam altas expectativas em cima desse segundo e livro final da história. Aliás, quero ressaltar o quanto a experiência de ler uma duologia é algo diferente, depois que você está tão acostumado a se confrontar com séries enormes dentro do gênero de fantasia. Ao mesmo tempo em que é super interessante histórias mais curtas e saber que o final não vai demorar tanto, é claro que há o aspecto onde as coisas acabam mais rápido e o sentimento se “vazio” que a trama deixa parece mais fugaz.
Ao ver nossos protagonistas se despedirem no primeiro livro, acho que ficou claro pra todos que algo que viríamos a esperar seria o momento onde, de alguma forma, eles voltariam a se encontrar. Aqui, quando somos apresentados à premissa, já logo se supõe que o elo de ligação será esse novo monstro que primeiro se confrontará com Kate. Por si só, esse evento já é algo interessante, pois sugere que o mundo dos monstros também pode ter alguma “evolução ou mutação”, já que estamos lidando com algo fora do padrão já estabelecido. Esse, porém, não é o plot mais importante, apesar de parecer.
Quem ganha maior atenção é a obsessão de Sloan, que agora comanda o lado que antes pertencia à família Harker, e Alice, a malchai que nasceu do ato de violência realizado por Kate no fim de Melodia Feroz. A união desses dois representa um perigo constante, porém previsível, já que sabemos exatamente o que eles querem.
“O luto tinha sua música própria – o som de tantos corações, tantas respirações, tantas pessoas unidas.”
August é, com toda a certeza, o personagem com mais complexidade nesse livro. Ele está lutando com um instinto que lhe atormenta, está no comando de uma unidade e no meio da ação, que era algo que ele desejava, mas é assombrado pelo irmão que fala com ele em sua cabeça. O Sunai, entretanto, vai aprender aqui algumas peculiaridades do seu poder e com isso tentar balancear melhor como ele enxerga a si e aqueles que julga.
Kate começa a narrativa parecendo mais madura, mas depois acaba por voltar a alguns comportamentos impulsivos que já havíamos presenciado. De todo acho que a personagem tem um caminho bem previsível aqui, mesmo que o seu desfecho seja um dos mais interessantes. Fiquei por muito tempo me perguntando porque a autora apresentou também os amigos dela de Prosperidade, se logo depois eles seriam completamente esquecidos dentro da trama. Aliás, várias coisas ficaram sem muita explicação aqui ou sem continuidade, e foi isso que fez com que minha experiência não fosse tão bacana assim.
Pra mim, pelo menos, me pareceu bem claro onde a trama precisava ir do ponto onde ela se inicia, para que alcançássemos um final. Porém, aguardei alguma mudança no caminho ou alguma surpresa para que o rumo da história mudasse ou tivéssemos algo grandioso no fim. Não veio e foi meio frustrante. Alguns personagens terminam exatamente como tinham começado, outros tem o mesmo desfecho do primeiro livro. Todo mundo faz exatamente o que é previsto e o mundo é completamente esquecido, assim como o tal monstro poderoso e diferentão.
Acho que, acima de August ser um personagem muito cativante e Kate ser interessante pela sua configuração, o que sempre chamou a minha atenção nesse livro foi a metáfora da violência criada pela autora para desenvolver o seu mundo fantástico. A cada ato, uma consequência monstruosa. Uma mancha a ser carregada pra sempre por quem fez e também pela sociedade. Vamos encontrar uma solução, um caminho, uma visão de futuro? Não. E vamos ter que lidar com isso, basicamente.
Eu, sinceramente, esperava um pouco mais. Me entristece quando eu vejo que um autor aparentemente esqueceu a maior motivação que tinha por trás de tudo. August nasceu dessa situação, Kate estava diretamente conectada a tudo isso e ambos queriam mudar o mundo em algum ponto e transformar para melhor, porém esse não chega a ser um ponto relevante a ser trabalhado aqui.
Acho que o problema principal da minha experiência foi esperar grandiosidade e aprofundamento, quando na verdade o foco da autora foi solucionar os plots que estavam sobrepostos sobre a trama. Portanto, a dica que eu dou é exatamente dar um low nas expectativas pra poder aproveitar melhor o livro. A quem interessar, no vídeo que está linkado no começo da resenha há uma parte com spoilers onde eu comento mais pontualmente as coisas que me incomodaram ou que achei que deveriam ter sido tratadas de outra forma.
Quanto a escrita, acho que esse foi o livro da autora que eu li com mais rapidez. A história é muito fluida e as páginas vão se devorando automaticamente, porque se cria a necessidade de saber onde tudo aquilo vai dar. Esse é um talento da autora e eu posso dizer que sempre é possível ficar instigado pela proposta que ela trás ou pela forma como escreve, mesmo que nem tudo esteja indo conforme o planejado.
De todo, fico sentida por não ter encontrado algo mais bem explorado, mas sou grata pela experiência com uma trama incrível, que pela sutileza da metáfora nos apresentou algo que conversa muito com a nossa sociedade e as situações de violência que cercam o contexto mundial, trazendo medo e apreensão por todo lado. A duologia Monstros da Violência pode ser uma fantasia com personagens jovens, mas é também um reflexo de como vivemos, com cada ato voltado ao mal gerando algo em consequência.
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