Jeff.Rodrigues 08/06/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brO Acordo de Munique, celebrado em setembro de 1938, é um episódio hoje controverso do período que antecedeu à Segunda Guerra Mundial. Buscado avidamente por Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico, como uma forma de selar a paz ou, pelo menos, adiar uma guerra das quais as potências europeias não tinham muitas condições bélicas para enfrentar, o acordo selou o destino da Tchecoslováquia que, seis meses depois, seria totalmente dominada pelas forças nazistas.
Em Munique, o consagrado Robert Harris se embrenha pelos caminhos diplomáticos e governamentais que levaram à assinatura desse acordo. Meio ficção histórica, meio thriller de espionagem, o livro é um passeio mais que completo pelos bastidores tanto do III Reich, e o entorno de Hitler, quanto pelo gabinete de Downing Street, sede do governo britânico. Através de dois personagens, Legat e Hartmann, um atuando de cada lado do tabuleiro, acompanhamos com minúcia de detalhes e diálogos precisamente construídos, como pensavam, agiam e se comportavam os principais membros que tinham nas mãos os destinos da Europa.
Do lado britânico, com Legat, secretário particular de Chamberlain, temos a visão de um país que almejava a paz acima de tudo. Ainda fragilizada pós Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha não possuía nenhuma condição em armamentos para fazer frente à Alemanha Nazista. Já os alemães, cujo comportamento nos é passado pela figura de Hartmann, tradutor e com acesso aos gabinetes nazistas e ao próprio Führer, vemos uma nação crente em seu líder e um líder disposto a levar a cabo suas ideias de grandeza nacional.
A capacidade de Harris em descrever cenários e ambientar o leitor como se fosse uma testemunha dos acontecimentos se faz presente na obra de forma impressionante. Munique poderia ser muito bem um livro-reportagem, tamanha a minúcia com que foi construído. O clima ao redor dos governantes, a forma como as pessoas se portavam, as descrições de perfil e estilo dos personagens reais… Tudo aparece de forma irretocável. Contudo, o extremo detalhamento acaba deixando a leitura bastante lenta.
Dividido em quatro partes, ou quatro dias, Munique traz os dias que antecederam e a conferência em si, que resultou na assinatura do acordo. Mas custa a engatar. As primeiras duas partes são lentas e não têm uma pegada que segure o leitor, transformando a leitura em um bom exercício de atenção. A partir do momento em que a conferência tem início, já passada metade da obra, o ritmo engata, principalmente com a inserção das partes de espionagem e um pouco mais de ação. O resultado final é uma obra brilhante e pra lá de informativa, mas com altos e baixos muito bem definidos.
Fãs de obras históricas com personagens reais, principalmente os admiradores da historiografia envolvendo a Segunda Guerra Mundial, como eu, vão se deleitar com a leitura de Munique. É um livro que vale a pena, apesar de seu ritmo inicial tedioso. Vale persistir e conhecer um episódio interessante do pré-guerra.
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