Naty 14/02/2017
Um retrato com várias visões sobre a morte de uma maneira bonita, poética e tocante
Peguei esse livro sem grandes espectativas. Estou num momento apertado para leituras, mas estou fazendo o possível para terminar livros que irei precisar em vestibulares e esse é um deles. Ele será cobrado no vestibular da UNEB desse ano.
Então, vamos aos doze contos:
- Nhô Guimarães- a pontuação que dei para esse livro com certeza não veio desse conto. Ele foi bem lento e cansativo para mim. Nele uma viúva que perdeu seu filho vê um homem que parecia um amigo de seu falecido marido chegando em um cavalo e, depois desse momento, sem nem mesmo conhecer aquele homem, começa a falar tudo de sua vida. Ela parece estar numa situação de desabafo tão grande que somente a voz dela é ouvida durante o texto todo.
Ela traça comentários sobre a vida e a morte com um olhar simples, mas interessante e através de um vocabulório rico em gírias e regionalismos. Ela também tece críticas á cidade e não poderia ser diferente já que seu filho foi para cidade e nunca mais voltou.
Em suma, acho que Aleilton Fonseca trouxe uma mulher que trata a morte como algo que deve ser esquecido, jeito de por debaixo do tapete o que não presta para a alma. A esperança continua a permear aquela mulher mesmo ela sabendo, lá no fundo, que seus sonhos não se tornariam realidade. Nhô Guimarães não voltará.
-O sorriso da estrela- conto muito tocante e poético o qual conta a história, a partir da narração do fato por um idoso que revive em sua memória o que aconteceu em sua infância. Sua irmã morre, naquela época, e ele, só aí, percebe a importância dela e se culpa por tê-la rejetado quando podia ter a amado mais.
A morte aqui é vista sobre os olhos de quem se culpa pelo fato e se entristece por saber que nunca poderá consertar a parte arrancada de seu coração a qual nunca percebeu já ter dono, sua irmã Estela.
-O avô e o rio-traz a história de um velho que luta para que as áua não invadam sua ilha e ensina esse processo ao seu neto que é o protagonista da história. No fim, o seu avô morre e ele contnua o seu trabalho sem cessar .
Pela crítica que li, esse lutar contra as águas do rio significa lutar contra a morte, algo que perpassa a raça humana. Estamos lutano contra esse fluco que quer nos levar, mas sempre haverá um momento que não poderemos mais fugir e que alguém assumirá o trabalho para nós.
-O pescador-Essa história leva o leitor por um caminho e, como final inesperado, conclui que tudo aquilo nunca existiu, pois o narrador não escolheu aquilo para sua vida. É como se fosse narrada uma possibilidade não realizada, uma possibilidade morta.
-Para sempre- esse conto é bem triste, filosófico e bem estranho também já que traz uma orfão tanto de pai quanto de mãe quanto protagonista e narra uma história que mais parece fábula mostrando como um assunto encoberto, morto, pode ser importante para sua visão própria de pessoa no mundo.
-O voo dos anjos- parece mais um romance que se desenvolve de uma promessa feita a uma santa e que, depois, se desenvolve como história de amor entre duas pessoas. No entanto, apurando mais os olhos, pude perceber como o quase morrer acabou sendo o estopim de um romance.
-O sabor das nuvens- a dor da perda é intrínseca a esse romance, mas, diferentemente dos outros, a perda não é de uma pessoa, mas de um local, uma fábrica da qual se perdem os registros, a qual não tem mais história, a qual, segundo um menino no livro, está morta.
-O casal vizinho- é um conto engraçado e interessante o qual, para mim, traz a morte do amor por causa de uma relação abusiva que o suplanta, mas que também o acorrenta com algo tão simples como um cachorro (SINTI UMA PENA DANADA DO CACHORRO, NÃO POSSO NEGAR.)
-Amigos- Nesse conto, um antigo amigo retorna à vida de um casal o que reascende antigas intrigas entre eles. Não é um conto de muitos fatos, mas também não é ruim.
-In Memoriam- conto bem bonito que trata a história de uma viúva que espera pelo seu marido e o reencontra, no final, através de sua morte.
- O desterro dos mortos- esse conto dá nome ao livro e é espetacular. A reflexão que ele nos traz sobre o distanciamento que o homem moderno nos imputa para com a morte e como isso nos desvirtua da realidade. Os atos modernos são muito mais clínicos e muito menos subjetivos e sentimentais, coisa que o narrador acha que deveria ser retomado.
-Jaú dos bois- último conto que termina com chave de ouro e tambpem consegue sensibilizar o leitor com a história de um homem que amava bois de rrasto contada pela visão de um amigo seu que, no fim, morre assim como seus bois.
Dá para perceber que a morte está inserida na obra e faz parte dela não como algo tenebroso, mas com um poder subjetivo e de reflexão.
Outra coisa que li na crítica foi que esse livro defende a retomada das histórias com bases orais as quais eram contadas por pessoas mais velhas e perpassavam conhecimentos importantes assim como as fábulas de forma lúdica e muito mais emocionante.
Em resumo, gostei muito do livro e acho que o autor amarrou suas ideias dreitinho e escreveu cada cont com maturidade, leveza, poesia e amor o que resultou em uma obra pequena, mas rica em significados e interpretações. Gostei bastante!