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10:04 Ben Lerner




Resenhas - 10:04


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Angelica75 06/12/2022

Nota 4
Nesse livro temos uma obra que usa a metalinguagem, onde o autor se confunde com o personagem principal e inclusive eles tem o mesmo nome: Ben.

Ben é um escritor que recebe um adiantamento para escrever um livro depois que um conto seu faz muito sucesso na The New Yorker. Ao mesmo tempo, descobre uma doença em seu coração que pode ser fatal e é abordado pela melhor amiga para fazer uma inseminação artificial.

Fã de De Volta para o Futuro, observador contumaz das transformações sociais, tudo o que ele vive no dia a dia aparece nas páginas do livro. E suas ideias para seu livro saem também dessas vivências, ele apenas altera o nome das pessoas. Cutuca o mundo literário em pelo menos duas passagens interessantes demais. O tempo inteiro questionei a relação entre ficção e realidade.

Dono da palavras, o livro traz vários momentos icônicos (a visita ao Museu de Hostoria Natural com o menino Roberto é um deles), amei a experiência de ler um livro dentro de um livro.
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Bia Kollenz 11/06/2018

10:04
10:04 é um romance metalinguístico escrito por Bem Lerner e publicado em 2018 pela editora Rocco. Nessa metaficção personagem e autor se confundem, entre toda a sinfonia da vida. Vemos o nascer da escrita e como ela reflete o mundo aos olhos de um escritor.

O romance é narrado em primeira pessoa por um escritor que recebe um adiantamento para transformar um conto publicado na New Yorker em livro, ao mesmo tempo ele descobre ter uma dilatação na aorta, assintomática e possivelmente fatal, ou não, resta apenas manter um monitoramento e aguardar uma cirurgia. Infelizmente a vida não para nunca, mesmo que você enfrente momentos difíceis, mesmo que você descubra que se fizer algum esforço a sua aorta pode romper.

A melhor amiga do narrador resolve pedir que ele seja o pai de seu filho por inseminação artificial, a garota com quem ele sai parece pronta para abandona-lo a qualquer momento, um amigo escritor sofre um acidente, um furacão pode atingir Nova York, é melhor uma cirurgia no siso com anestesia local ou total?! O mundo está a sua espera do lado de fora e você tem que agir, escolher, rápido, o tempo todo.

“Gostaria de dizer que, enquanto o manifestante concluía o seu banho, eu me senti desassossegado com a contradição entre o meu materialismo político declarado e a minha inexperiência com este tipo de fazer, de poiesis, mas eu poderia driblar ou abafar essa contradição com o meu ódio à biopolítica de butique do Brooklyn, em que desperdiçar quantias obscenas e horas intermináveis no preparo de comida estilizada permitia de alguma forma a fusão do autocuidado com o radicalismo político.”

Ben Lerner, na verdade, usa o diálogo sobre o mundo atual e a inconstância da vida para falar sobre como é a escrita. Enquanto lemos as páginas de seu romance, encontramos similaridades entre Ben, o narrador do livro e o ‘autor’, personagem do conto da New Yorker. No livro, nosso narrador resolve aproveitar todo o material que o circunda para escrever um conto.

No conto ele muda o nome de seus amigos, médicos, namorada, modifica alguns pontos e conta a história de um homem que vai ao dentista arrancar o siso depois de descobrir um tumor no cérebro. Em ambas os mundos, real e ficcional, a doença talvez fatal, com a qual nada se pode fazer a respeito, serve de gatilho para que ele comece a notar o mundo. As coisas pequenas se tornam maiores. Sabendo que você pode esquecer de algo, perder alguma coisa, o bem se torna mais precioso.

Alguns pontos de nosso mundo atual, e da Nova York de hoje em dia, são bem retratados pelo livro. Momentos bem interessantes se passam no entorno do Occupy Wall Street, os meus diálogos favoritos se passam entre o narrador e um ocupante que pede para tomar banho no seu apartamento. Outro diálogo bem reflexivo se dá entre o narrador e uma colega enquanto ensacam mangas.

“Quando se levantou tarde na manhã seguinte e tomou o seu café – gelado para não prejudica a coagulação -, percebeu: eu lembro do caminho, da vista, de alisar o cabelo da Liza, da beleza incomunicável destinada a desaparecer. Eu lembro, o que significa que nunca aconteceu.”

Momentos bem comuns do dia a dia que dão material robusto para se refletir sobre a sociedade. Quem sabe esses mesmo momentos não servirão de inspiração para algum conto ou livro? Um diálogo bem precioso, e que vale a pena destacar, ocorre entre o narrador e sua filha imaginária. Toda a conversa serve como alegoria para um autor e sua obra, Bem Lerner se destacou aqui.

O livro me apresentou alguns pontos meio obtusos, o protagonista me pareceu vezes distante com seus conflitos de homem-branco-rico-americano, para alguém que vive no Brasil, seus conflitos e reclamações são um pouco estranhos. A presença feminina também é um pouco aquém. O autor é poeta, assim como os outros dois personagens, narrador e autor, isso gera momentos em que a prosa chega a ser poética. Para exemplificar um pouco como o uso da linguagem foi belo, deixo agora a descrição de um furacão aos olhos do escritor: “um monstro marinho aéreo de um olho só centralizado e em volta do qual rodopiavam tentaculares colunas de chuva”.

O romance de Ben Lerner é bom, mas talvez não seja recomendado para todo mundo. Se você tem problemas com metaficção, ou acha que isso é apenas um exercício de ego, o livro será deveras pedante. Vale como experiência, quem gosta de escrever vai achar o livro excelente. Recomendado com ressalvas, se você ficar na dúvida é bom dar uma olhada na Amazon, eles disponibilizam o início do livro, o estilo de narrativa é constante, então dá para julgar se vale a pena ou não o investimento.

site: https://www.laoliphant.com.br/resenhas/resenha-10-04-ben-lerner
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