vanes.rc 13/01/2024
Corte-lhe a cabeça
Eu tentei juntar meus cacos enquanto escrevia essa resenha, mas alguns ainda ficaram perdidos.
Em Sem Coração, somos apresentados a uma releitura de Alice no País das Maravilhas, com o foco na história de como a Rainha de Copas se tornou a Rainha de Copas. Quem ela era antes disso? Catherine é uma jovem encantadora, com sonhos que parecem impossíveis para ela. Abrir uma confeitaria com sua melhor amiga, para vender seus deliciosos bolos e doces e... se apaixonar. São desejos simples, mas que estão distantes demais para alguém como ela e o destino parece ter reservado outros propósitos para sua vida. E o destino pode ser bem cruel às vezes.
Em um dos bailes oferecidos pelo Rei de Copas, Cath acaba conhecendo Jest (ou Coringa), o novo bobo da corte misterioso e com lindos e hipnotizantes olhos amarelos delineados por lápis preto. O primeiro encontro deles nos rende muitos suspiros e sorrisos bobos. Podemos sentir a atração de Cath por ele e, quando seu coração se acelera no peito com a proximidade do rapaz. Não tem o que fazer, o Jest é apaixonante. Dono de olhares atrevidos, comentários espertinhos, um fraco por charadas e um corvo como companheiro, ele não só conquista o coração da Catherine, como o nosso também. Ele é um personagem instigante e memorável, ficamos ansiosos para vê-lo em cena e nos divertirmos com seus truques, piadas e o impossível. O Jest tem o charme, sabe? E não digo só por ser bonito, o jeitinho dele me ganhou.
Logo no início já vemos alguns elementos fantásticos do País das Maravilhas. O preguiçoso (e fofoqueiro) Cheshire com seu sarcasmo habitual aparecendo e desaparecendo onde bem entender; o Coelho Branco com sua pressa e mau-humor; uma lagarta fumante e irritadiça; o Chapeleiro (de um jeito totalmente diferente) com sua inconfundível cartola e adoração por chás e chapéus; os naipes; objetos animados e até mesmo o sombrio e cruel Jaguadarte. Gostei muito de como tudo isso foi incrementado na trama, mas com a própria essência e originalidade da autora. Ela criou muito bem os personagens, moldando suas personalidades e maneiras. Todos são interessantes, conseguem nos transmitir a autenticidade de cada um. A gente, de fato, conhece e ama ou odeia. A linha é tênue entre esses dois sentimentos.
Então, acompanhamos a trajetória de Catherine até o fatídico (e inevitável) momento em que ela se tornará a temida Rainha de Copas. Em meio a chás, cartas, confissões e encontros cheios de tensão palpável com Jest, somos conduzidos por um caminho repleto de dúvidas e angústia no coração e na mente de Cath. Ao mesmo tempo que ela quer ter um controle sobre sua vida e sentimentos, ela os sufoca para viver a mercê dos sonhos da mãe. A todo instante nos perguntamos que adversidade ocorrerá para mudar o íntimo de uma garota tão doce e pura, que só queria poder viver o amor que ela própria escolheu para ela. Vemos Catherine ser dominada pela dor e por sentimentos destrutivos, que corroem por dentro.
É um livro lindo, mas que em algum momento deixará de ser bonito e isso não é uma reclamação. Pensem em Sem Coração como um sentimento belo e fervoroso, que começa a definhar lentamente, se transformando em algo trágico e real. Uma coisa agridoce, sabe? Esse é o meu primeiro contato com a Marissa Meyer e, com certeza, lerei outros livros dela. Posso ter demorado um pouquinho para engatar na história, mas depois que fluiu, eu fui absorvida por cada página e capítulo. O primeiro choro do ano veio com ele. Ele nos envolve com uma atmosfera de esperanças e, de repente, destrói todas elas. Nossa, tem tantas outras coisas que eu queria escrever aqui, mas tiraria a emoção dos próximos leitores.
Sem Coração, me destruiu, tirou todo o conforto que senti no começo e meio do livro, mas ganhou um espaço muito especial nos meus favoritos. Marissa, você me paga!