jg 02/03/2012
Pinker muito lúcido e persuasivo, como também me pareceu em "Como a mente funciona" e "Tábula rasa", dois livros excelentes. Após ter lido um pouco sobre o trabalho científico de Chomsky (através de um interesse político por ele), alguma coisa de sociolinguística e ter estudado língua de sinais, muito do que Pinker escreve já não foi novidades. Até mesmo porque o livro é razoavelmente antigo, escrito em 1994.
É preciso ter em mente que se trata de uma obra de divulgação científica, e que eu por mero curioso não posso avaliar o valor frente ao estado da arte da linguística, que não conheço. Porém, me dizem que ainda está bem atual o livro.
Em que pese essas ressalvas, é preciso dizer que o livro explica de maneira impressionante a faculdade humana da linguagem, sem chegar ao ponto de ser exaustivo para os leigos. Ele principalmente rebate diversos mitos, especialmente sobre o funcionamento da mente, como se dá o aprendizado, sobre a aquisição da linguagem pelas crianças, etc.
Explica e demonstra a hipótese da Gramática Universal do Chomsky, que propõe que todas as línguas possuem uma gramática subjacente comum, relacionada a uma maneira específica de funcionar do cérebro humano, e que as línguas dos povos são variações sobre o mesmo tema - o motivo do livro falar sobre um instinto para a linguagem. A princípio a ideia pode parecer exagerada, mas é hoje hegemônica no mundo da linguística e a argumentação do Pinker é bastante persuasiva.
O livro ainda fala sobre a relação da linguagem com o pensamento (que não é diretamente dependente dela), sobre o surgimento e a variação das diferentes línguas, do funcionamento das línguas de sinais, dos mecanismos cerebrais de interpretar frases, da maneira pela qual as crianças aprendem a linguagem, da falta de embasamento das gramáticas normativas e as "regrinhas" que são postuladas para todas as línguas, etc.
The language instinct certamente é capaz de criar o interesse na linguagem, esse fenômeno que nos cerca o tempo todo mas que esquecemos de nos impressionar, devido à sua onipresença em nossas vidas. De quebra, serve para questionar muito do senso comum sobre linguagem e o funcionamento da mente humana. Leitura recomendadíssima.