Victor Dantas 22/05/2020
SEXO, ESTEREÓTIPOS E PADRÕES HETERONORMATIVOS
Na trama vamos conhecer o Maxim, um jovem de 24 anos, russo, que está viajando para Los Angeles em busca do sonho americano em se tornar roteirista de Hollywood. Ao chegar em LA, acaba ocorrendo um contratempo com Maxim, e ele vai parar no Blinds Pig, um bar no centro de LA.
Horas depois sua mala é roubada, e a funcionária do bar, Ellen, com a qual o Maxim já tinha feito amizade ao chegar, frustrada com toda a situação, oferece sua ajuda ao rapaz, e pede para que o irmão dela acolha-o em sua casa por uma noite já que, o Maxim perdeu todo seu dinheiro e suas roupas após ter a mala roubada.
O irmão de Ellen, Derek, aceita o pedido de ajuda da irmã, e acaba acolhendo o Maxim. Ao conhecer o Maxim, Derek sente-se atraído por ele, e, Maxim também fica atraído pelo o Derek, só que ambos sabem que isso não vai levar em nada, afinal o Derek é hétero e quer se casar com uma mulher, e, Maxim, apesar de ser gay assumido, é apenas um jovem de 24 anos, começando dar os primeiros passos em sua vida, enquanto que o Derek é um homem de 36 anos bem sucedido, com carreira feita... só que nem tudo é o que parece.
O que era para ser uma noite, acaba se tornando semanas, e, ao passo que esses dois vão se conhecendo, a atracação torna-se cada vez maior. Estaria o Derek se descobrindo gay? Seria o destino que levou Maxim a perder sua mala e ir parar na casa do Derek? Isso é o que leitor vai ter que descobrir...
A narrativa é composta dos dois pontos de vistas, tanto do Maxim, quanto do Derek, e, o leitor acompanha então a construção dessa relação, que tem tudo para ser um novo começo para os dois personagens.
Pontos positivos:
Como o livro teve dois autores, cada um ficou responsável por um personagem, e, ambas escritas prendem o leitor nas primeiras páginas.
Pelo fato de o Maxim ser russo, o livro traz muitas referências da Rússia, como vocabulário ou curiosidades culturais.
Pontos negativos:
De antemão, ao pegar o livro, e vê a capa, achei que fosse um romance YA lgbt, mas, na verdade trata-se de um romance hot adult, com muitas cenas de sexo, que em certo ponto chegou a ser desnecessário. Não que eu seja contra cenas de sexo em livro, mas parecia que todo diálogo envolvendo Maxim e Derek finalizava em sexo, eles não faziam mais nada além disso.
Eu como gay, me senti incomodado, pois, dá uma impressão de que os relacionamentos homoafetivos é só transa, transa e transa. Haja energia minha filha!
Outro ponto negativo, foram os estereótipos e os padrões heteronormativos na construção dos personagens e da relação. Ambos são brancos, sarados, másculos, viris, discretos, e isso estava presente até nas cenas de sexo.
Poxa, o que buscamos em literatura lgbt é justamente empoderamento, quebra de padrões como “homem e mulher da relação”, “gay sim, afeminado não”, e os autores decidem reafirmar esses paradigmas, que tornam a relação entre os personagens em um certo ponto, abusiva, aquela coisa “quero ficar com você, transar com você, mas, no sigilo”.
E por fim, talvez, o ponto mais problemático, foi o quanto essa relação foi construída rápida demais, em 4 dias, o cara que escondeu sua atração por homens durante 36 anos, se desconstruiu num passe de mágica, e aceitou fazer sexo de boas com o cara gay assumido, e deixou um rapaz que mal conhecia morar em sua casa por tempo indeterminado. E em 2 semanas, ambos estavam perdidamente apaixonados!! Não sei, pareceu forçado demais e tudo muito fácil.
O final foi aceitável, onde o Derek e o Maxim se posicionaram diante daquilo tudo de forma adulta como deveria ter sido, mas ainda assim, não supriu a falta do desenvolvimento da relação dos personagens durante toda história.