Ellen Gouveia 30/04/2023"Nada é mais triste que a certidão de óbito de uma criança"Essa afirmação de Tiago Ferro vem contundente já no final do livro, mas é uma força motriz. O livro é uma espécie de autobiografia ficcionalizada, já que o autor perdeu sua filha de oito anos para uma miocardite aguda, derivada de uma gripe forte. Suas memórias falam da ausência de uma filha que se faz presente como nunca na vida de um homem para sempre conhecido como "O Pai da Menina Morta". Como é sua vida e seu morrer depois de enfrentar o inimaginável, o atravessamento que desafia a ordem natural da vida? Esses pensamentos chegam em livro de forma às vezes desconexa, misturando prosa e verbete de dicionário, um claro resultado do estado desconexo e caótico diante de um luto. Há passagens mais autobiográficas, mas também há referências a outros pais de filhos mortos, como Eric Clapton, Kakfa e Drummond. Tudo isso se mistura um livro que parece ser um exercício de desabafo, de escrita, de memória, de registro, de tentativa de andar em frente. Um livro muito triste, emocionante e corajoso, mas também fragmentado. Gostei muito de alguns trechos e tive dificuldade de acompanhar outros. Durante a leitura li um texto de Tiago para a Revista Piauí que gostei muito, e algumas coisas que aparecem ali estão contidas no livro. Foi uma boa experiência de leitura, às vezes arrastada demais, às vezes tocante, mas sempre com um tom que não desaba para o lirismo exagerado e nem para o sofrimento moralizante e piegas, o que considero sempre muito positivo.