Steph.Mostav 01/11/2020Um conto sobre ausênciaMais um conto lido para apreciar o personagem interessantíssimo de Robert Lightwood e já digo que me agradou bem mais que os dois últimos. Mesmo que ele não seja protagonista do conto, a participação dele é fundamental tanto para o enredo quanto para a premissa da narrativa.
De cara, é possível notar a mudança de postura e o amadurecimento dele, como se tornou um líder de instituto com quem as pessoas podem contar, mesmo que muitos dos personagens tenham impressões a respeito dele com base no passado. Foi bom o resgate dos acontecimentos de “A última batalha do instituto de Nova York” como maneira de comparar o comportamento de Robert naquela época e naquele contexto e a forma de agir dele dessa vez, esse contraste tornou ainda mais perceptível o desenvolvimento de personagem sem usar tantos recursos narrativos óbvios. Mais que isso, uma das coisas que mais se destaca é a ausência. A ausência de Will para Jem, de um pai para Jace e de Michael para Robert e é nesse eixo temático que o conto mais acerta. A ausência de Michael ocupa tanto espaço no coração de Robert que basicamente tudo o que ele faz durante a história é em nome dele.
O ponto de vista de Jem me pareceu menos cansativo dessa vez porque a dor dele soava mais genuína e também pelos paralelos entre a saudade que ele sente por Will e a saudade de Robert por Michael. A Isabelle também é um ponto de vista curioso, principalmente para descrever a relação desgastada dos pais de uma perspectiva infantil. As discussões entre Robert e Maryse sobre a adoção foram uma boa maneira de exemplificar o conflito dos dois com relação a insistir na compensação do passado ou seguir em frente. Até faz sentido que Maryse queira seguir em frente e Robert não, porque ela sempre foi mais segura e, além de todos os arrependimentos que ele carrega, proteger o legado de Michael é como um norte que Robert pode seguir agora que não tem mais quem tome as decisões em nome dele. Ele realmente se importava, se importa e sempre se importará com o parabatai.
Falando em parabatai, esse é outro dos temas explorados pelo enredo e mais uma vez, temos paralelos entre os relacionamentos de Jem e Will, Robert e Michael e Alec e Jace. Todas as cenas nas quais Jem pensa nas responsabilidades que assumiu como forma de honrar a memória de Will tem ecos narrativos nas decisões de Robert (“devo isso ao Michael”) e a insistência dele em manter vivas as lembranças de Will, assim como a forma que ele encara a memória do parabatai como forma de continuar firme parece ser equivalente às atitudes também tomadas por Robert.
Também achei interessante conferir o lado mais doméstico e familiar de Robert, já que até então nos três últimos contos ele aparecera pouco tempo só com a filha. Ele é uma pessoa muito mais suave e o momento em que ele garante que Jace é um bom menino mesmo não parecendo com o pai porque percebeu a insegurança do garoto é de uma doçura sem limites.
É um conto bem triste, apesar do final esperançoso, porque a saudade e a ausência por quem é insubstituível nunca morrem. E, mais uma vez, Robert Lightwood faz tudo.