jota 03/06/2023MUITO BOM: histórias simples mas profundamente humanas vividas por uma mulher durona que também pode surpreender o leitor por sua compaixão e bondadeLido entre 27 de maio e 02 de junho de 2023.
Olive Kitterigde, de Elizabeth Strout, traz 13 histórias publicadas em diversos veículos de comunicação norte-americanos entre 1992 e 2007, reunidas num volume em 2008 e premiado no ano seguinte com o Pulitzer de Ficção. Elas têm lugar em Crosby, uma fictícia cidadezinha litorânea do Maine, mas do jeito que Strout a apresenta ao leitor fica difícil acreditar que tal lugar não exista. Porque os personagens que a habitam são extremamente humanas, críveis, assim como a paisagem e os lugares que a autora criou como cenários por onde elas circularão por cerca de trinta anos.
Caso da própria personagem-título, professora de matemática e mulher de Henry Kitteridge, o farmacêutico local, um sujeito extremamente educado, gentil, que ama Olive apesar de seus defeitos todos, além de mãe de Christopher, a quem ela parece sufocar desde garoto e que depois, já adulto, vai se tornar motivo de preocupação por conta de seus dois casamentos, um deles, com uma mulher que Olive detestava porque ela o levou para a Califórnia, do outro lado do país.
Olive é grandalhona, não é bonita nem faz lá muita questão de ser simpática, então seus alunos têm medo dela, embora suas aulas sejam extremamente aproveitáveis, também algumas vizinhas não a apreciam. Apesar de tudo, de vez em quando Olive é capaz de gestos de extrema bondade e também de mostrar compaixão quando o outro merece. Nada de excepcional ocorre em Crosby ou na vida de seus habitantes, a não ser pequenos episódios alegres ou tristes, como ocorre com Olive e o marido, mas onde não se nota uma cronologia rígida a ligar o tempo e os acontecimentos.
Apesar de sua presença ligar todas as histórias, de Olive estar presente em todas elas, mas algumas vezes apenas brevemente, nem sempre ela é a personagem principal de cada conto – se entendermos o livro como um romance de contos, que é o que ele parece ser -, uma ou outra vez ela aparece num local onde outro personagem é que está tendo sua história narrada, caso de Angela O’Meara, a pianista da terceira história, uma das melhores do livro. Olive aparece uma vez no bar onde Angela toca e em seguida não se ouve falar mais dela até o final do conto.
A atriz Frances McDormand interpretou Olive Kitteridge na minissérie em quatro capítulos que foi ao ar nos EUA em 2014 (e que não vi) e por outros papeis de mulheres fortes que interpretou no cinema, penso que ela deve ter dado grande brilho a essa história, que está muito bem avaliada no site do IMDb (8,3/10,0 nesta data). Talvez a atriz mesma e a personagem tenham muita coisa em comum: mesmo sem ter visto os episódios fiquei com essa impressão durante toda a leitura.