Wes 07/01/2024
Como Tom Strong é um personagem criado para ser escrito por diversos autores para além de seus criadores, reler O Planeta do Perigo soa deveras reconfortante. Escrito por Peter Hogan [aquele que lá atrás fora justamente o primeiro a roteirizar mais do que apenas algumas páginas de uma edição de Tom Strong] e ilustrado pelo desenhista definitivo do personagem, Chris Sprouse. Tom Strong e o Planeta do Perigo, a princípio, soa como um retorno devidamente orquestrado por compor uma equipe criativa que os leitores fieis da série teriam como os herdeiros legítimos. Hogan, se não me falha a memória, é o responsável por três edições inteirinhas de Tom Strong. Duas no volume 4: Como Surgiu Tom Stone (edições 23 e 24) e outra no vol. 6: Nos Confins do Mundo (penúltima edição: 35). Inclusive, o próprio Hogan referência a si próprio ao colocar nos lábios de Val Var Garm a seguinte indagação quando tanto ele quanto Strong aproximam-se de uma certa lua: "Será que existe um povo-morcego nessa lua?"
Há muitos méritos nessa empreitada. O primeiro é que não há um vilão propriamente dito. Mas sim uma problemática: uma pandemia de caráter global. Aliás, é até curioso ler tal arco logo após a crise da Covid-19 (Coronavírus), que deixe claro. O segundo é que decorrente disso há, para cada edição, diversas pinceladas que salientam as consequências de tal estado e, principalmente, a forma como impacta psicologicamente todos os personagens/envolvidos. O problema é que fica apenas nisso, pinceladas. Hogan tece o enredo de forma bastante calma. Suave mesmo. Isso é meritoso. Mas ao optar por essa abordagem, que, como já disse, nos presenteia com diversos momentos singelos, o mesmo acaba por sacrificar grande parte do impacto que essa minissérie poderia causar/ter.
Uma ou duas perdas soam demasiadamente repentinas e isentas de comoção. Assim como a solução para todo o impropério. Some-se a isso uma arte bastante genérica por parte de Chris Sprouse e temos, como resultado, uma trama um tanto quanto descartável. Sinceramente, não sei o que aconteceu com o Sprouse aqui. Todos os personagens masculinos são absurdamente semelhantes, a diagramação de páginas e quadros é apenas operante e... fica por isso mesmo. Não sei se o problema é de todo culpa do Sprouse. Para isso teríamos que conferir seu lápis antes da arte-finalização que, dessa fez, ficou ao encargo de Karl Story.
Seja como for, apesar da mediocridade, é perceptível o esforço do autor para engendrar uma trama minimamente encorpada em termos de contextualidade. Assim como de não descambar para algum conflito físico como é tão comum de se esperar nesse tipo de história. Até aí, heranças do que torna essa série algo tão singular nesse universo espantosamente repetitivo.
PS: O número de vezes que Tom Strong apresentou seu genro (Val Var Garm) e a si mesmo para toda e qualquer pessoa que nos aparecia é pra lá de engraçado. Quase um/vira meme.