yomaeli 08/04/2020
"É muito e é tanto".
A autora consegue descrever as características do transtorno com a propriedade de quem vive, combate e tenta entendê-lo dia após dia. Consegue, de forma sucinta, trazer contornos da depressão em algumas frases, a saber:
"É a sensação de olhar pela janela e ver um tsunami chegando, mas seus pés estarem colados no chão: você tenta se mexer, mas está preso, pregado. Todos os dias." e "Não sei se sobrou essência do que sinto ter virado poeira na ventania".
Com toda a abordagem de quem vive, Cecília conseguiu levantar pontos bem pertinentes acerca dos sintomas, falando sobre o sono, a angústia, a nuance dos dias, as relações, os traumas, a adaptação ao remédia e a terapia. Aliás, nesse ponto, senti que ela incentiva de maneira super benéfica a busca pela ajuda profissional, que é indispensável nesse caso. Acaba sendo bastante informativo e também pode ser bem acolhedor a quem está passando pelo mesmo. Além disso, a autora conta muitos episódios anteriores e atuais da sua vida, não como forma de definir a "origem" da sua depressão, mas de se apresentar como um sujeito, num contexto social, em um tempo e espaço distintos. A leitura é fluída e adorei a marcação de músicas em cada capítulo, acabou ambientando ainda mais.
Em contrapartida, acho que deve haver cautela da parte de quem lê, para que não veja o livro como uma forma de possível "autodiagnóstico", mas sim como uma autobiografia que nos aproxima de um assunto, ainda hoje, infelizmente, visto como tabu.
E lembre-se: "as águas são fundas, escuras e geladas, mas, enquanto há fôlego, há vida".
Você não está sozinho.