Toca do Coelho 13/10/2020
Uma obra estranha e agonizante
O mangá acompanha a vida de Charles-Henri Sanson durante o período que compreende a Revolução Francesa e a importância de Charles durante esse processo como carrasco oficial da França. A história mostra sua transformação de menino inocente até os eventos que o tornaram o carrasco mais famoso da história.
Sakamoto na primeira página nos mostra o final da vida de Charles antes mesmo de nos mostrar seu início e durante a exibição da morte do rei a informação que recebemos é que Charles-Henri é inocente.
O que Sakamoto pretendia com isso? Deixar claro durante toda a obra que o personagem principal foi levado a seu fim não por ter um espírito homicida, mas pelos eventos envolvendo o rei e toda a Revolução.
Desde a pesquisa histórica até a ilustração Sakamoto teve ajuda de uma equipe grande e aplicada, o resultado disso é uma obra bem estruturada - narrativamente - personagens consistentes em suas dúvidas e certezas. As técnicas de sombras e transposição permitem que Sakamoto demonstre as emoções com maestria, destaque aos olhos mortos do Mounsier de Paris e pai de Charles, desde o primeiro momento sua apresentação é a de um homem frio desprovido de emoções boas, preste atenção a sua primeira aparição, seus olhos não tem emoções como os de Charles ou Marie.
Outro destaque é a falta de detalhes ao rosto dos personagens nos momentos mais importantes e com isso não digo que ficou ruim, pelo contrário, perfeito. Muitas vezes quando choraram ou sentem ira os rostos não tem linhas tão definidas, um franzir de lábios, acompanhado da linha do nariz e pronto. Sakamoto manipula os desenhos no papel de modo que essa ausência de detalhes se prove acertiva, o menos é mais em Innocent.
Innocent é indigesta, revoltante, sádica e triste. Toda a história segue em uma espiral de agonia embalada pelo mundo nojento e cruel que rodeiam a vida de Charles-Henri. O mangá não é para todos os públicos, mas garanto que quem for ler se deparará com uma nova descoberta a cada página, oscilando entre a raiva e a compaixão durante as páginas. O ponto alto do 1° volume é seu final chocante e revoltante, cada segundo em Innocent é um pedido por clemência.